Caso queira, leia um de nossos mais recentes artigos publicados (na revista ACTA SEMIÓTICA ET LINGVISTICA); título: SOB O SIGNO DO DESMATE:
VONTADES DE VERDADE DE “OBJETIVIDADE” NA DIMENSÃO DA
DEVASTAÇÃO AMAZÔNICA EM DISCURSOS MIDIÁTICOS DIGITAIS
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Em breve, ainda em 2024, lançamento do livro acadêmico, pela editora Itacaiúnas “EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E LINGUAGENS: polivalência
de saberes na contemporaneidade” (Orgs. Doutores Fernando Jorge dos Santos Farias, Israel Fonseca Araújo e Marinaldo Pantoja Pinheiro); aguardem
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Tese de Doutorado intitulada “Não temos mais tempo”: biopoder, biopolítica e ecogovernamentalidade em produções discursivas midiáticas sobre a devastação na Amazônia brasileira, de Israel Fonseca Araújo (orientadora: Profa Doutora Maria Eliza Freitas do Nascimento, UERN), defendida em 26 de maio de 2023, pode ser acessada pelo seguinte link (buscar as teses defendidas em 2023 e a de número 116ª Sessão de defesa, acessar texto completo): clicar Aqui
CLAMOR
PELA AMAZÔNIA
Epígrafe,
com base em poetisa Lene Valente (post
de 02 jan. 2020)
Desta nossa floresta
Que a nós
sempre foi honesta
O que nos
resta?
Um solo
degradado
Por
erosão afetado
E um povo
conectado
Uma fauna
em aflição
Espécies
em extinção
Por pura
ambição
As
árvores na mata
O homem
desmata
Explora e
devasta
[...] Fonte: Blog da Lene Farias Valente
(https://blogdalenefariasvalente.blogspot.com/p/poesias.html
(Acesso em 09 fev. 2021))
Olha só, maninho(a), de modo resumido, e sem chances de “traduzir”
toda a organização do texto da citada tese, dizemos que
A
necessidade de garantir a continuidade da vida e refletir sobre como o ambiente
amazônico é indispensável à vida no planeta são fatores que favorecem o
surgimento desta pesquisa, a qual busca compreender a devastação ambiental que
afeta a Amazônia e seus povos. Dessa forma, como objetivo geral, analisamos o funcionamento de práticas
discursivas midiáticas on-line sobre a devastação ambiental na Amazônia
brasileira, enfatizando as estratégias do biopoder como tática de biopolítica e
de ecogovernamentalidade no governo da população e da preservação da vida.
Como objeto deste estudo, são
analisadas produções discursivas on-line de sites e portais que
discursivizam sobre questões de desmatamento, queimadas e atividades de
garimpos vistos como elementos de uma gramática de violências e que devastam a
Amazônia, fatos esses alçados à condição de acontecimento discursivo
atravessado por relações de poder-saber e preocupações com a vida da população.
O trabalho alinha-se à Análise do Discurso de vertente francesa, em cujo seio
os postulados de Michel Foucault se constituem em ancoragem prioritária,
mediante diálogos com outros autores. Em termos de uma arqueogenealogia, vários
conceitos ajudam a operar com objeto de estudo, nesse gesto de leitura
efetivado.
O corpus de análise é
constituído por discursos midiáticos publicados entre 2013 e 2022, os quais se
alinham aos trajetos temáticos definidos: (i) dimensão da devastação; (ii) povos originários/indígenas e resistência; (iii)
posição discursiva do governo x
repercussão internacional.
O gesto de leitura permitiu entender que,
reiteradamente, se fala da devastação ambiental na Amazônia brasileira por conta
de preocupações biopolíticas com a vida da população e sua continuidade, com
ênfase no aumento dessa devastação mediante o saber da estatística; que a
ecogovernamentalidade vinculada à condução da população sofre críticas e é
exposta, nos discursos, como ineficiente e/ou descompromissada; que as várias
posições sujeito analisadas nas produções discursivas dizem sobre
acontecimentos da ordem da história que impulsionam a emergência dos discursos
e apontam para uma ecodiscursividade midiática no sentido de defesa do clima,
da floresta amazônica e, por conseguinte, da vida de povos tais como os
originários/indígenas brasileiros, ribeirinhos etc.; que essas discursividades,
dispersas no tempo e afetas ao presente, mobilizam efeitos de uma memória
discursiva sobre a Amazônia e fazem circular sentidos sobre a mesma; que as
(des)continuidades das ações táticas de governamentalidade relacionadas à
devastação da Amazônia participam de um jogo político, de relações de
poder-saber e fazem funcionar o campo do biopoder em face dessas vidas; que há
uma gramática de violências contra o território, fazendo notar um movimento de
resistência, principalmente pela atuação dos sujeitos originários/indígenas,
cuja voz se faz presente em defesa do meio ambiente em eventos internacionais;
que os efeitos de sentido mobilizados na posição discursiva de governo
brasileiro, em especial a de Jair Bolsonaro (2019-2022), entram em confronto
com discursividades pela enunciação jornalística e via discursos de autoridade,
apresentando-se a Amazônia como uma terra sem lei; que a cobertura jornalística
internacional expõe uma ecogovernamentalidade brasileira desacreditada e
contraposta pelos dados e vontades de verdade veiculados nos discursos
midiáticos analisados.
Palavras-Chave: Discursos midiáticos; biopoder;
biopolítica; ecogovernamentalidade; devastação na Amazônia brasileira.
Referências: ARAÚJO, Israel Fonseca. “Não temos mais
tempo”: biopoder, biopolítica e ecogovernamentalidade em produções discursivas
midiáticas sobre a devastação na Amazônia brasileira. Tese
(Doutorado em Letras) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/Campus
Avançado de Pau dos Ferros, Pau dos Ferros (RN), 2023, 294 f.
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Segue outra nova publicação, uma das; segue o link:
Novo Texto:
Apresentação no VI CIELLA (Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários na Amazônia), na UFPA, em Belém-PA, dia 06.11.2018:
Sobre
a política nos meios virtuais ou o (des)tributar o ódio: escritos sobre
violências de nosso tempo ou uma interface com o "que país é este?"
Resumo:
O presente trabalho se constitui em uma análise de publicações que circulam(ram)
na internet e que versam sobre política, tais como as que se referiam à figura
política da ex-Vereadora Marielle Franco, à do ex-Presidente Lula e à do
parlamentar Jair Bolsonaro (dep. federal, PSL-RJ); que tratam de política,
cujos sentidos se espalham (dispersam), reverberam por todos os cantos da web,
mas que, em uma cerca leitura (análise) nos levam a pensar na
circulação-dispersão do ódio, enquanto elemento que emerge nas(das) publicações
em circulação. Trata-se de pesquisa em curso, de iniciativa do autor desta
proposta, sendo mesmo desdobramento de pesquisa sobre a relação mídia-política
(e eleições), que o mesmo leva à frente já há alguns anos, sobretudo a partir
de sua entrada para o Mestrado em Letras-Linguística na UFPA (2013-15). A enunciação
midiática nos meios “alternativos”, tais como sites não empresariais e blogs, é
entendida como uma prática discursiva (MAINGUENEAU, 1997),
a qual seria (dado o recorte de espaço discurso aqui definido, cf. Maingueneau,
2008) a de produção e circulação de informações(!) sobre figuras políticas de
renome (inter)nacional. Trata-se de considerar as “faces” textual e social do
discurso. Uma reorganização conceitual que o linguista francês propõe,
considerando o discurso como uma prática discursiva (uma ação sobre o mundo?),
uma “imbricação semântica irredutível entre aspectos textuais e não-textuais”
inerentes ao discurso (MAINGUENEAU, 2008, p. 136). Articulados, os aspectos
teórico e metodológico permitem, a um só tempo, tratar dessa dimensão social (política,
ódio, poder), a qual é atravessada pelos embates históricos que constituem a
arena política, sendo que, para tal, é imprescindível o exame de publicações,
de enunciados-imagens. Apontam-se percepções (sobre esses discursos que
circulam na web, suas inter-relações) que não se constituem em conclusões, se
estas denotassem sentidos definitivos. A pesquisa deve ser ampliada, em momento
oportuno.
Palavras-Chave:
Meios virtuais, política, discurso, mídia, ódio.
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Israel Fonseca Araújo. Dissertação de Metrado em Letras (UFPA, 2015). A ENUNCIAÇÃO DA AÇÃO POLÍTICA FEMININA EM IGARAPÉ-MIRI: UM ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERDISCURSIVAS NO JORNAL MIRIENSE.
Orientadora: Profª. Drª. Fátima Cristina da Costa Pessoa (PPGL-ILC)
Dissertação Mestrado em Letras (UFPA) Israel Araújo (Texto integral - corpo)
Israel Fonseca Araújo. Dissertação de Metrado em Letras (UFPA, 2015). A ENUNCIAÇÃO DA AÇÃO POLÍTICA
FEMININA EM IGARAPÉ-MIRI: UM ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERDISCURSIVAS NO JORNAL
MIRIENSE. Orientadora: Profª.
Drª. Fátima Cristina da Costa Pessoa (PPGL-ILC)
RESUMO
A
presente dissertação discute a maneira adotada pelo Jornal Miriense (JM) para apresentar
a seus leitores a mulher que tem atuação pública/política no município de
Igarapé-Miri (PA), seja no que concerne à análise de uma cobertura jornalística
mais voltada para a própria personalidade política, seja no que concerne ao
exame de uma enunciação que se volta para a divulgação de ações políticas mais
específicas, tais como a atuação em movimentos sociais e na prefeitura de
Igarapé-Miri. Investiga-se o funcionamento discursivo do fazer jornalístico que
se materializa no Jornal Miriense, veículo produzido no município de
Igarapé-Miri há 35 anos, especificamente no conjunto de publicações veiculadas
entre os anos de 2004 a 2008. Foram constituídos quatro grupos de textos,
definidos como G1, G2, G3 e G4, os quais apresentam a atuação feminina em
diversas funções públicas/políticas (G1 e G2) e na função específica de
prefeita de Igarapé-Miri (G3 e G4). Nas publicações, buscou-se atentar para as
articulações entre o fazer jornalístico e a vida pública/política em
Igarapé-Miri, bem como entre discursos sobre o lugar social da mulher e a
dimensão de gênero que pode impactar o modo de se dizer, midiaticamente, acerca
da aparição pública/política feminina no JM. De que maneira essas articulações geram
sentidos nas publicações analisadas é uma indagação que define concretamente o
horizonte principal postulado para a pesquisa: investigar as relações
interdiscursivas constituintes do Jornal Miriense, materializadas nos textos
que tematizam a ação pública/política feminina, em Igarapé-Miri. A investigação
se baseia em postulados da Análise do Discurso da linha francesa (AD),
especificamente com base no modelo defendido por Dominique Maingueneau (1997,
2008, 2011), adotando-se as seguintes ferramentas teóricas e analíticas:
interdiscurso, prática discursiva, cena de enunciação e dêixis discursiva. Acredita-se
que a enunciação jornalística do JM expõe relações interdiscursivas convocadas
nos textos para se referir à figura política tematizada, estabelecidas por um
conjunto de cenas enunciativas, que se sustentam em elementos da dêixis
discursiva adotada. Nessa interface, ganha vital relevância a imbricação entre
mídia e discurso, razão pela qual a pesquisa ancora-se em postulados de autores
como Gregolin (2007), Lage (2005), Melo (1994) e Miguel (2002, 2003a). Foi
possível constatar um conjunto de relações interdiscursivas que apontam para a
articulação entre o discurso jornalístico do JM com a prática religiosa em
curso em Igarapé-Miri, bem como entre essa prática jornalística e a prática
política que ajuda a constituir a vida pública municipal, assim como entre a
prática discursiva jornalística e a dimensão de gênero, a qual impacta
significativamente o funcionamento discursivo do JM ao enunciar sobre a mulher
com atuação pública/política em Igarapé-Miri.
Palavras-Chave:
prática discursiva jornalística; relações interdiscursivas; gênero; política;
Igarapé-Miri; Jornal Miriense.
Data da Defesa: 25 de junho de 2015
Banca: Drª Fátima Pessoa (UFPA/ILC/PPGL), Netília Seixas (UFPA/ILC/PPGCom), Roberto Baronas (PPGL/UfSCar)
Publicação integral: em breve, no site do PPGL UFPA.
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Monografia. Especialização em Estudos Linguísticos e Análise Literária (CCSE, UEPA, 2007). Israel Araújo
TCC. Graduação em Letras / Língua Portuguesa (UFPA, 2005). Israel Araújo
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ARTIGOS EM REVISTA(S) E OUTRAS PUBLICAÇÕES (EM ANAIS DE EVENTOS CIENTÍFICOS...):
Fonte: Anais do IV Simpósio Internacional sobre Análise do Discurso: Discursos e Desigualdades Sociais. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2016. ISBN: 978-85-7758-301-0
Link (íntegra):
Anais do IV SIAD (2016)
3: PRÁTICAS DISCURSIVAS MIDIÁTICA E POLÍTICA: UMA PESQUISA SOBRE A
POLÍTICA NOS TEXTOS DO JORNAL MIRIENSE
Fonte: Anais do Encontro ABRALIN EM CENA - AMAZONAS (2014). CAVALHEIRO, Juciane; JESUS, Carlos Renato R.; JUSTINIANO, Jeiviane (orgs.). Abralin em Cena Amazonas: Anais. Manaus [AM]: UEA Edições, 2014.
4: IDENTIDADES DIVIDIDAS?: A DIVISÃO DO PARÁ ATRAVÉS DA COBERTURA DO JORNAL “DIÁRIO DO PARÁ” (AGOSTO A DEZEMBRO DE 2011)
Fonte: Anais do I Dcima (I Colóquio Internacional Mídia e Discurso na Amazônia). "Desafios contemporâneos: apropriação e regimes de visualidades". Universidade Federal do Pará. Belém, 2013.
5: ANÁLISE DE DISCURSOS (JORNALÍSTICOS) & ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: TRAVESSIAS POSSÍVEIS(?)
Fonte: Anais do III SiSel (Seminário: Interação e Subjetividade no Ensino de Línguas). "Faz diferença ser autor da aula que ministro?". FAIRCHILD, Thomas Massao (Org.)... [et al.]. Castanhal, PA: UFPA/Faculdade de Letras, 2015. Castanhal (PA). Universidade Federal do Pará, 2013.
6: A IMAGEM DA MULHER NA POLÍTICA EM IGARAPÉ-MIRI: UM ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERDISCURSIVAS NO JORNAL MIRIENSE
(Coautoria com Fátima Cristina da Costa Pessoa, UFPA/PPGL)
Fonte: Anais do X SEPA (Seminário de Pesquisas em Andamento), Programa de Pós-Graduação em Letras. Belém, PPGL/UFPA, 2013.
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IMAGENS
DA MULHER COM ATUAÇÃO PÚBLICA/POLÍTICA EM IGARAPÉ-MIRI NAS PÁGINAS DO JORNAL
MIRIENSE
Israel Fonseca Araújo
(Universidade Federal do Pará)
Resumo para SEPA - Seminário de Pesquisas em Andamento, 2014
O
presente trabalho discute a enunciação da atividade política da mulher
igarapemiriense a partir da perspectiva teórica e analítica chamada de Análise
do Discurso de linha francesa, apoiando-se especificamente em postulados de Maingueneau
(1997, 2008, 2011). Os textos do Jornal Miriense, veículo de informação
produzido nesse município há mais de 34 anos, são analisados com base nos
seguintes conceitos operacionais propostos por esse autor: cena de enunciação (2011),
dêixis discursiva (1997), prática discursiva (1997, 2008) e interdiscurso
(2008). São apresentadas algumas análises de textos do Miriense, nos quais a
atuação pública/política da mulher igarapemiriense divide-se em duas principais
categorias: os textos que tematizam a atuação da mulher investida em funções
públicas diversas e aqueles que a tematizam na condição específica de prefeita
de Igarapé-Miri, fato histórico amplamente coberto pelo Miriense no período de
2004 a 2008, período que serve de recorte temporal à produção desta pesquisa.
Palavras-Chave: Igarapé-Miri;
Mulher; Política; Jornal Miriense.
(poemeiro@hotmail.com; Orientadora: Profa. Dra. Fátima Cristina da Costa Pessoa)
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MARCOS BAGNO CONCEDE ENTREVISTA AO "BEIRA DO RIO" E FALA SOBRE "LUTA" CONTRA O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Escritor,
poeta e tradutor, Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB),
vem se destacando na defesa da democratização das relações linguísticas no
Brasil. Suas posições polêmicas são confundidas como espécie de “vale-tudo”
pelos críticos, aos quais chama de “puristas” por defenderem a “pureza” da
língua contra todas as formas inovadoras. Em entrevista ao Beira do Rio, concedida durante o II Congreso Internacional de
Dialetologia e Sociolinguística (Cids), realizado na Universidade Federal do
Pará (UFPA), de 24 a 27 de setembro deste ano, Bagno mostra que a língua que
falamos é resultado de 500 anos de invasão portuguesa, do massacre sistemático
dos povos indígenas, do sequestro e escravização de africanos.
Beira do
Rio –
Existe, de fato, um preconceito linguístico no Brasil? Como ele acontece?
Marcos
Bagno – Sim,
existe. Ele faz parte do conjunto de preconceitos que circulam na nossa
sociedade: o racismo, o sexismo, a misoginia, a homofobia, o desprezo pelos
pobres etc. O preconceito linguístico é resultante do tipo de formação
histórica da nossa sociedade, uma sociedade colonizada, em que tudo o que é
considerado bom vem de fora, nunca é o que temos de autenticamente nosso. Daí a
ideia, absurda, de que nós, brasileiros, não sabemos falar a nossa língua,
porque, afinal, ela se chama “português” e, sendo assim, só um povo chamado
“português” poderia falar bem a língua, já que há coincidência de nome entre
povo e língua. Isso é um absurdo sob todos os pontos de vista.
Beira do Rio – O subtítulo de seu
livro “Não é errado falar assim!” é “em defesa do português brasileiro”. O que
é o português brasileiro?
Marcos
Bagno – É a
língua materna da imensa maioria dos cidadãos deste país. Uma língua falada por
quase 200 milhões de pessoas, o que faz dela a 3a língua mais falada no
Ocidente, depois do espanhol e do inglês. É a língua que se formou em nosso
território depois de 500 anos de invasão portuguesa, do massacre sistemático
dos povos indígenas e do sequestro e escravização de africanos. É uma língua
resultante de todos esses processos históricos, que não podem ser negados em
favor de uma suposta “língua portuguesa” única, mítica e “pura”, que não existe
nem jamais existiu.
Beira do
Rio – Quais os erros dos professores de língua portuguesa que seguem a doutrina
gramatical normativa-prescritiva?
Marcos
Bagno – O erro
único e central é justamente seguir essa doutrina. A gramática normativa (essa
que ainda se pretende ensinar nas escolas) é uma doutrina ultrapassada, remonta
ao século III a.C. Suas definições, seus termos, seus conceitos já foram
criticados, revistos e até abandonados em grande parte pelas correntes das
ciências da linguagem desde o século XIX. No entanto, por mera subserviência a
uma tradição que, no fundo, é uma ideologia conservadora, as pessoas insistem
em querer aprender e ensinar algo que não serve, rigorosamente, para nada. Por
exemplo, os autores de livros didáticos, até hoje, insistem em dizer que as
palavras “se flexionam em gênero, número e grau”, embora a investigação teórica
consistente já tenha provado, há bastante tempo, que não existe “flexão” de
grau, mas sim derivação, que é coisa bem diferente. Ainda se insiste em dizer
que existe uma “3a pessoa do discurso”, quando é óbvio que ela não existe: o
discurso se dá sempre entre EU e TU; a chamada “3a pessoa” não participa do
discurso, ela é o assunto, aquilo sobre o que se fala. Por que condenar o
advérbio “meia” (Como em “ela está meia cansada hoje”), se ele tem sido
empregado há 500 anos por nossos melhores autores, desde Camões até Machado de
Assis, e se é assim que os 200 milhões de brasileiros falam no dia a dia? O ensino
sempre se pautou por um ideal de língua que parece ter medo ou nojo da língua
falada pelas pessoas em geral, da língua viva, dinâmica, que varia no espaço e
muda com o tempo.
Beira do Rio – Afinal, qual é o
objetivo do ensino de língua portuguesa nas salas de aula?
Marcos
Bagno – É
promover o letramento ininterrupto de seus alunos. Letramento é um termo
importantíssimo, hoje, na educação e na pesquisa linguística. Significa levar
uma pessoa a se apoderar da leitura e da escrita e se tornar o mais competente
possível nessas habilidades. Para isso, ninguém precisa saber o que é uma
“oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo”. É
preciso ler e escrever, reler e reescrever, re-reler e re-reescrever sem parar.
Automaticamente, no processo de letramento, as regras de funcionamento da
língua são adquiridas e interiorizadas, sem necessidade de decoreba de
nomenclatura nem de análise sintático-morfológica.
Beira do Rio – O senhor é um
crítico dos professores de língua portuguesa que estão na mídia ensinando o que
é certo e o que é errado. Explique o que há de errado com eles?
Marcos
Bagno – Tudo.
O que eles dizem não tem fundamentação científica alguma. Eles se apoiam,
exclusivamente, na tradição gramatical normativa e num modelo arcaico de
“língua certa” que não corresponde, há mais de 100 anos, nem sequer à escrita
literária consagrada. Além disso, fazem muita confusão com os termos que
empregam. Esse modelo de língua “certa”, por exemplo, recebe denominações como
“língua padrão”, “língua formal”, “língua oficial”, “norma culta”, “língua
culta”, “variedade culta”, “língua padrão formal”, “dialeto culto”, como se
todas essas expressões fossem sinônimas. Só que não são. Nos estudos
sociolinguísticos, as palavras língua, dialeto, variedade, padrão, norma,
formal etc. têm definições bem específicas, que não podem ser misturadas.
Beira do Rio – Em conferência em
Belém, o senhor apresentou resultado de pesquisa em que conclui que o português
não deriva do latim, mas do galego. Mas, na mesma conferência, mostrou que o
galego é uma derivação do latim vulgar. Então, não é lógico concluir que, em
última instância, o português deriva do latim vulgar?
Marcos
Bagno – A
discussão está no nome que damos às línguas. Se o português vem do galego e o
galego do latim, é claro que temos uma continuidade histórica, só nos nomes
mudaram. Porém os nomes das línguas não são inocentes. Quando os estudos
históricos fazem o vínculo direto “português—latim”, eles passam por cima do
galego, da história e da geografia. Foi todo um processo ideológico que tentou
apagar as origens galegas da língua portuguesa, para que o português fosse
considerado uma língua tão nobre e importante quanto à latina.
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