TRIBUTO ao Manoel Luiz Ferreira Fonseca

Este espaço se destina a reunir depoimentos, mensagens, poemas, resultados de pesquisas acadêmicas e outras mensagens/linguagens que tratem de mostrar, ao grande público, um pouco da diversidade e da grandeza de atuação do líder comunitário, político e sindicalista MANOEL LUIZ FERREIRA FONSECA (o "tio Manoel Luiz", na linguagem deste editor); homem do povo, agricultor, sindicalista, candidato a Prefeito de Igarapé-Miri (PA) - pelo Partido dos Trabalhadores, em 1992, nascido aos 29 dias do mês de agosto de 1952 - e que nos deixou, neste terra, no dia 11 de março de 2011.

Poetas, prosadores(as), políticos, assessores técnicos, pesquisadores e pesquisadoras, lideranças dos sindicatos, das associações, cooperativas e co-fundadores(as) das CEB's - Comunidades Eclesiais de Base - da Igreja Católica Apostólica Romana são exs. de sujeitos convocados(as) e contribuir com este espaço; apenas alguns deles e delas, pois o rol é enorme, ou, como dizia meu tio, é "porreta".

Vamos aos escritos (?):

(Poema "Decreto das Sentimentalidades, de autoria de Israel Fonseca Araújo (ano: 2011)):

Poema "Decreto das Sentimentalidades - tributo a Manoel Luiz F. Fonseca" (2011)

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INFORMAÇÕES MANOEL LUIZ*

MAMANGAL GRANDE, IGARAPÉ-MIRI, MANHÃ DE TERÇA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2010

Informações prestadas pelo Sr Manoel Luiz Ferreira Fonseca, nascido no Rio Mamangal Grande em 29 de Agosto de 1952

 

Organização Social da Comunidade

Entre 1978 e 1980 a vida, no rio Mamangal Grande, ficou muito difícil pois, com o fim das atividades econômicas vinculadas ao engenho de produção de cachaça, os moradores se viram em dificuldades para encontrarem uma ocupação econômica. Em lugar do engenho vieram as cerâmicas, conhecidas na comunidade como olarias que, no entanto, foram de curta duração.  

Em função desta situação, muitos moradores deixaram o Rio em busca de melhores condições de vida, tanto na sede no Município como na Capital do Estado. Sem outra opção de trabalho, os que ficaram, começaram a cortar o palmito do açaizal nativo da região para comercialização. Até então, a exploração do açaí não se configurava como uma atividade econômica na comunidade.

Em meados dos anos de 1980 e 1981, em função da exploração desordenada desta palmeira, para extração do palmito, o açaizal nativo já estava bastante devastado.

É neste cenário que se inicia a organização social da comunidade. Pode-se considerar 1982 como o ano em que se inicia esta organização, a partir das atividades desenvolvidas pelos integrantes das Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Prelazia de Cametá. Nesta época, o tema discutido nas reuniões destas Comunidades era a pobreza, em função das condições em que viviam os moradores de localidades do interior de Igarapé-Miri, como era o caso dos moradores do Rio Mamangal Grande.

A partir do ano de 1983, em função das discussões realizadas nas reuniões das Comunidades, inicia-se um processo de oposição à direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Igarapé-Miri, por considerarem ineficientes as ações desenvolvidas naquele órgão em prol dos trabalhadores.

Entre 1983 e 1988 foram organizados vários encontros de dois dias, os “encontrinhos”, nas diversas comunidades do município, como a do Mamangal Grande, do Furo do Seco, do Rio Meruú, do Rio Caji, do Rio Anapu, entre outras. Nestes encontros, custeados pelos próprios participantes, que eram, principalmente, as lideranças das comunidades, discutia-se e incentivava-se a plantação e a exploração, de forma sustentável, do açaí, como alternativa de geração de renda nestas comunidades.

Em 1988, o movimento social assume a direção do Sindicato de Trabalhadores Rurais que, neste período, praticava uma espécie de assistencialismo que, no entanto, não resolvia o problema de miséria em que viviam os ribeirinhos do interior do município.

Em 19 de julho de 1989, foi postado nos Correios um primeiro projeto, encaminhado para uma entidade católica da Holanda, a CEBEMB, solicitando apoio financeiro para implantação de uma associação que visava prestar apoio técnico, aos ribeirinhos, para a exploração racional do açaí; no entanto, não foi encaminhada nenhuma resposta por parte da entidade.

No dia 6 de março de 1990 este projeto é discutido pelas lideranças do Sindicato e representantes das comunidades. Em um encontro de trabalhadores rurais, ocorrido em 16 de julho deste ano, foi discutida a necessidade de se conseguir um terreno onde pudesse ser instalada a sede do projeto. Um pequeno lote de terra foi doado nos fundos do terreno onde hoje encontra-se instalado a sede da associação e nos dias 30 e 31 de julho foi realizado o primeiro mutirão de trabalhadores rurais para realização da limpeza do terreno e construção de um pequeno barraco para instalação da sede provisória do projeto.

No dia 10 de novembro de 1990, através de carta, a CEBEMB informa sobre a aprovação do projeto destinando o valor de R$ 21.000,00 para sua implementação. Com esta dotação financeira, foi adquirido o atual terreno, nas margens do Rio Meruú-Açu, onde se encontra instalada a Sede da Associação Mutirão. Em 1991, o estatuto da associação foi registrado em cartório, a partir do qual foi obtido o CNPJ da associação e, em 1998, foi emitido o título definitivo de posse do terreno em nome da Associação Mutirão.

A construção da atual sede da associação foi construída com dotação financeira obtida a partir da aprovação de um segundo projeto, doada por uma instituição italiana, a MANITTESE, que destinou os recursos financeiros para esta construção.

(FIM)


* texto elaborado pelo professor mestre Odifax Quaresma Pureza, cedido a este Blog, a quem muito agradecemos. O citado professor publicou um Livro sobre o Rio Mamangal-Grande, berço de sua família, e de nossa (do tio Manoel Luiz, da minha). No contexto da produção dessa obra, dá-se a entrevista com Manoel Luiz.

Nota: "Em 1988, o movimento social assume a direção do Sindicato..."; na verdade, o Presidente eleito nesse ano de 1988 é o Sr. Manoel Luiz Fonseca, mas, por questão de não querer se exaltar (na seu modo de ver), ele não destaca o nome do presidente, nem cita que foi presidente do STTR por três vezes; assim como, possivelmente pela mesma razão, ele não cita quem era a maior liderança (social e religiosa) ligada à comunidade no Mamangal-Grande e na região: ele mesmo.

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Texto de domingo (edição especial):

30 de agosto de 2020

Tributo ao tio Manoel Luiz Ferreira Fonseca - eis um texto de domingo

Israel F. Araújo (fundador, editor, professor)

Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)


Nos dias 29 de agosto de cada anos, após 1953, era aniversário do nosso dileto tio Manoel Luiz Ferreira Fonseca - o Manoel Luiz "do sindicato", Manoel Luiz "das comunidades", duas das principais referências ao líder sindical que foi Presidente do STTR (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Igarapé-Miri) por três vezes, e que foi um dos (muitos e muitas) articuladores(as) da criação das CEB's (Comunidades Eclesiais de Base) da Igreja católica Apostólica Romana na Prelazia de Cametá-PA, atual Diocese de Cametá; uma das instâncias das CEB's foi, justamente, em 1977, a instalação da Comunidade Cristã do Rio Mamangal-Grande, atual CC Nossa Senhora de Aparecida. Para a nossa avó materna, sua genitora, ele era o "Manduca", caçula de oito filhos. Tio Manoel Luiz dá nome à Cadeira 07 da AIL (Academia Igarapemiriense de Letras), fundada em 2015, ocupada pelo Sócio-Fundador Israel Fonseca Araújo; o Manoel Luiz "do sindicato" e "das comunidades" nasceu no dia 29 de agosto de 1952 e faleceu no começo da noite doa dia 11 de março de 2011.

Além de presidir o STTR-Igarapé-Miri, por três vezes, ele foi também Presidente da Associação Mutirão de Igarapé-Miri, um dos organismos criados - depois de 1988 - que existem no Miri e que ajudaram (sobremodo) e ajudam os trabalhadores e as trabalhadoras do campo, destacadamente agricultores(as) familiares, a se manterem no campo, evitando o chamado "êxodo rural" e lhes proporcionando experiências de crescimento solidário entre os pares, melhores condições de vida e de crescimento social/político para a população campesina - com a consequente melhoria no desenvolvimento do município de Igarapé-Miri (PA), pois é sabido que o desenvolvimento do campo, no Miri, é um dos principais fatores de crescimento para o território do açaí como um todo; as lutas encampadas pelos sujeitos, pelas lideranças campesinas em muito ajudaram, sobretudo pela liderança do STTR pós-1988, Igarapé-Miri a se tornar a atual Capital Mundial do Açaí.

Com muita humildade, e sob espírito (ideologia) de desenvolvimento mais igualitário e de base comunitária, além das enormes contribuições nas organizações das CEB's, nosso tio Manoel Luiz fez de sua vida adulta uma dedicação exclusiva ao empoderamento dos sujeitos do campo (e da cidade, inclusive contribuindo nas lutas dos trabalhadores(as) do campo da educação pública), ajudando na organização e no crescimento dos trabalhadores(as) rurais desde os anos 1970, 1980 e até próximo de sua morte.

Foi, ainda, candidato a Prefeito de Igarapé-Miri (pelo Partido dos Trabalhadores), tendo a professora Ladica (Rosa das Graças) como Vice na "chapa pura". Não participou, em nada, no governo petista de Roberto Pina Oliveira (2009-2012), não tendo assumido posição de assessoria, nem função de Secretário de governo ou coisa similar.

O professor mestre e doutorando em Sociologia Isaac Fonseca Araújo (também sobrinho...), em pesquisa de Mestrado em Ciências Sociais pela UFPA, fez os seguintes resumidos registros sobre a vida e a trajetória social/política do indiscutivelmente carismático, crítico e competente líder comunitário Manoel Luiz F. Fonseca:


Outras considerações sobre a trajetória de Manoel Luiz Fonseca

Se estivesse vivo, Manoel Luiz teria hoje 62 anos. Nascido no dia 29 de agosto de 1952, era natural do Rio Mamangal Grande, zona rural de Igarapé-Miri, de onde nunca se desvinculou, até sua morte, em 11 de março de 2011. Membro de uma família numerosa, Manoel enfrentou grandes desafios para sobreviver durante o período dos engenhos e, sobretudo, na transição do ciclo da cana de açúcar para a cultura do açaí. Em 10 de março de 1977 liderou a fundação da comunidade cristã de sua localidade e, depois dela, de outras nas regiões rurais do município.

Em dezembro de 1985 conseguiu comprar o terreno de um ex-proprietário de engenho – em parceria com o amigo e companheiro de militância Altemis dos Santos – numa aquisição parcialmente financiada pela Prelazia de Cametá. A mudança de toda a família para a nova área, aos poucos garantiu melhores condições de sobrevivência (a partir da produção de açaí) e fortaleceu aquela CC, criando novas relações comunitárias assentadas no parentesco e na vizinhança.

Alguns dos que conviveram com Manoel Luiz o recordam por sua proficiência em oratória e capacidade de mobilização; outros o lembram pela humildade, simplicidade e talento para mediar conflitos, mas, há quem o qualifique como um intelectual orgânico de seu tempo, no sentido gramsciano, dentro dos limites que aquela realidade lhe impunha.

Infelizmente, a lembrança de um fracasso pessoal não superado permanece no imaginário dos seus pares convivendo com as boas recordações, estas muito mais numerosas: sua relação com o fumo (desde muito jovem) e consumo de bebida alcoólica (compulsivo depois do início dos anos 2000), vícios que lhe interromperam uma trajetória de vida da qual ainda poderiam ser colhidos muitos frutos. (ARAÚJO, 2015, p. 89).


É isso; o apenas breves registros:

1 - Neste Blog, temos esta Seção Tributo ao Manoel Luiz Ferreira Fonseca, dedicado à memória do mesmo. Venha aqui, dá uma examinada (tá no começo da construção), contribua;

2 - Pessoas que o conheceram, que tenham memórias relacionadas à atuação comunitária/social e política deste ícone das lutas dos movimentos sociais em Igarapé-Miri e a partir deste território, podem nos contactar pelo e-mail poemeiro@hotmail.com (a ideia é ir montando um banco de dados sobre o mesmo e que possam registrar, para a posteridade, elementos dessa bonita história); podem nos encaminhar poemas, mensagens, crônicas, ensaios, fotos (retratos) e outros elementos relacionados a essa atuação;

3 - Dia 29/08/2020 (sábado), data de seu aniversário, realizamos, sob a forma de Live, uma Aula Pública sobre Cidadania e Política (link do vídeo: https://www.facebook.com/watch/?v=685154912348572&extid=8NcEOAoRd5yXRNkf), uma espécie de tributo ao mesmo; se der, veja lá;

4 - Num futuro mais breve, queremos organizar e publicar um livro de memórias sobre Manoel Luiz Ferreira Fonseca nos movimentos sociais, na arena política e na Igreja Católica organizada na região do Baixo Tocantins, no Pará: queremos contar com sua colaboração. O título do livro tem a ver com "Visão de águia dos movimentos sociais em Igarapé-Miri". Obrigado 


Referência:

ARAÚJO, Isaac Fonseca. Território de ação local: uma etnografia da vida associativa na Amazônia tocantina. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais/Sociologia). Orientadora: Profa. Dra. Maria José da Silva Aquino Teisserenc. Belém: UFPA/IFCH, 2015.

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O Blog Poemeiro do Miri recebeu, do historiador e professor mestre Marinaldo Pinheiro, um importante registro da trajetória do sindicalista Manoel Luiz Fonseca (1952-2011); através do citado registro (uma Nota de Falecimento) de responsabilidade do jornalista, o Jornal Miriense noticia - em abril de 2011 - o falecimento do líder popular, ex-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores(as) Rurais de Igarapé-Miri (STTR) e da Associação Mutirão, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no Miri e cofundador das CEB's - Comunidades Eclesiais de Base - da Igreja Católica Romana, organizada na Diocese de Cametá.
Sem meias palavras, o jornalista afirma que o sindicalista foi "um grande líder", "homem pobre, simples", um "grande lutador"enfatiza o descaso e a aparente frieza de "correligionários" e demais aliados de Manoel Luiz, com quem este lutou por anos a fio, ajudando a organizar a classe trabalhadora no Miri, Baixo Tocantins etc.


(Imagem: acervo do Jornal Miriense, abril de 2011; cedida por  Marinaldo Pinheiro)

_______ Nosso muito obrigado ao Jornal Miriense e ao professor Marinaldo Pinheiro.

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