sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Médicos execut*dos no RJ: carnificina e horror nos movem?

Se favelados(as) são mortos aos montes, o destaque que a imprensa profissional dá ao caso é diferente daquele dado - diante da mesma crueldade - a médicos, advogados, parentes de donos de empresas patrocinadoras e outros agentes. Sobre isso, praticamente só os extremistas e contumazes destiladores de ódios tentam se opor e escamotear as realidades.

Por isso, dentre outros motivos, é que a execução de três médicos (na madrugada de 05/10/2023, dia de aniversário da Constituição "cidadã" Federal vigente), em área nobre do Rio de Janeiro, causou tanta repercussão. Porque não são pretos, pobres, favelados(as); sabemos que a repercussão deve ser grande, tem de ser enorme. Não apenas porque envolve um irmão de deputada federal (parte da imprensa simplesmente nem deu "tchum" para essa vinculação, pois a irmã dele é Sâmia Bonfim). Ela é árdua lutadora dos direitos de todas as vidas e crítica dos abusos do grande capital e do neoliberalismo - os quais, sendo justamente corpo e alma, patrocinam esses veículos da mídia oligárquica. Mas porque não se pode aceitar que nossas cidades sejam uma praça de guerra.

O fato é gravíssimo e acende alerta sobre possíveis motivações; dentre muitas, pessoas atentas podem se perguntar se as milícias atuantes no Rio não teriam interesse em sufocar Sâmia, deputada do Psol de SP (casada com o deputado federal Glauber Braga, do Psol RJ), assim como fizeram com Marielle Franco? Franco tinha a mesma postura cidadã e política que Sâmia tem, só que mais destacada no RJ. (reticências)

Mas nós precisamos mostrar, agr, umas sequências de "coisas" impensadas, em termos de valorar a vida humana. Vejamos:

1. Médicos - ou outras pessoas - são executados a segue frio, no início de uma madrugada de quinta-feira, em uma área nobre carioca;

2. Sustos, talvez gritos e abalos são vivenciados por pessoas - pois os 33 disparos se deram em um local público, ante muitas pessoas, área comercial;

3. Mesas são crivadas de balas e três homens (médicos que iriam participar de um Congresso de suas áreas profissionais) perdem suas vidas; um fica ferido, mas sobrevive. Sem ser um assalto, fica claro que foi uma execução sumária;

4. Por que os assassinatos? Logo se levanta a ideia de vinculação milícia x política, considerando o que se levantou acima e a relação de uma morte com a citada deputada de Esquerda, Sâmia Bonfim;

5. Depois, vem a premissa de que um médico foi assassinado por ser confundido com um criminoso miliciano - que já teria sido "decretado" para perder a vida. E que os demais colegas foram mortos porque os executores teriam achado que o miliciano estava cercado de "seguranças armados";

6. Horas mais tarde, surgem quatro homens mortos, encontrados em carros e com a possível explicação de que perderam suas vidas, justamente, por terem errado o alvo (teriam eliminado as três vidas por erro...) e matado os médicos "sem querer": caso se equivocassem diante de três estudantes pretos favelados, como seria a punição? Haveria?

7. O crim3 organizad0 seria o responsável por decretar o fim das quatro vidas - as que eliminaram as três dos médicos;

8. De manhã, o dia raiou e o Congresso de médicos (daqueles médicos) seguiu, aconteceu, normalmente;

9. Desde as horas seguintes, o ponto comercial em que as vidas se extinguiram seguiu sua rotina normal, atendendo as pessoas, apenas com o "inconveniente" de ter mesas furadas por balas e um pouco de sangue - dos quatro médicos - se esfregando contra os novos clientes.

Por conta dessas engrenagens, ou as fazendo funcionar, o comércio segue, a carnificina segue; a necropolítica carioca segue, triunfante.

A política de morte(s) ou a morte enquanto uma gramática de derramamento das violências segue seu curso, ao lado dos arranjos do capital. Sejam os arranjos comerciais - das lojas à beira-mar, dos hotéis com seus congressos de médicos, das estruturas de imprensa; sejam as estruturas paralelas - dos investimentos criminais, dos políticos, dos sistemas de (in)segurança pública; sejam as teias ideológicas de extremismo religioso e político - que ajudam essa maquinaria a seguir seu curso.

Outros dias, no ontem, muitas vidas já foram; nestes dias, outras vidas se vão; noutros dias, outras vidas estão...