quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

O Carnaval não deveria ser "tempo de mortes", em sentido literal: uma leitura meio plural

Israel Fonseca Araújo (editor; e-mail: poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



(IMG: Pexels)


Em qual dos períodos do ano, mesmo em uma "sólida" democracia, seria possível aos cidadãos das classes ditas baixas (aos sujeitos do povo) fazerem críticas bem contundentes e diretas aos "poderosos" governantes (políticos, ditadores, reis, mandatários diversos)? Se você pensou no Carnaval (G-A), fique mais um pouco aqui e vamos conversar; se não lembrou dessa poderosa festa popular (G-B), venha aqui e vamos dialogar: não custa nada. Se não gosta do assunto (G-C), vamos tentar levantar umas indagações - pois assim podemos desobstruir o "meio de campo".

Odiada por muitos que, por convicções moralizantes, nem sempre tão bem explicadas, se referem a esse período como tempo "de perversão" e outras adjetivações, o Carnaval também tem uma enorme adesão da mídia que se organiza em conglomerados (caso dos grupos Globo, Bandeirantes e outros). Se, de um lado, ainda há muitos enunciados que circulam nos meios virtuais e no face a face se reportando ao Carnaval como sinônimo de libertinagem, de período de liberação para o sexo sem responsabilidades, tempo de se contrair vírus HIV e outras doenças transmitidas via atividade sexual (amiúde, circulam memes do tipo: durante o Carnaval: um homem correndo atrás de uma mulher não-grávida (insinuação de querer...); depois: uma mulher, gestante, correndo atrás de um homem; depois do Carnaval: a temporada dos chás-de-bebê etc.), por outro lado, o período pré-carnavalesco é mostrado, nas mídias, como sendo de boa movimentação na economia, sobretudo em centros como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Recife, Salvador e outros desse porte (mas, também, em cidades menores, guardadas as proporções, claro); a economia popular e o turismo nesses centros urbanos ganham muito com os festejos carnavalescos; rede hoteleira, então, nem se fala. 

Nesse por outro lado, também cabem referências ao poder de extravasar as dores, tratar das mazelas sociais e políticas, dos insucessos econômicos e outras agruras da população. É possível não somente relaxar e gozar a vida, mas, igualmente, exercitar o poder de crítica às autoridades (semelhanças com a tradicional malhação de Judas, bem lembrado!!): os bonecos bem se prestam a esses expedientes; as máscaras, ah, estas, sem, estas, sim. Usando máscaras e demais expedientes de fantasias, alegorias, é possível denunciar a crueldade dos soberanos e dos tiranos, é possível denunciar os regimes totalitários (enfrentar o nazismo e o fascismo não é fácil, nunca o foi), é possível ridicularizar presidentes (a "burrice" atribuída a Dilma Rousseff, excelente demonstração de misoginia, tbm; a ironia a um Lula da Silva "cachaceiro" e "ladrão"; um Temer "vampiro" e as imagens de um Jair Bolsonaro de armas nas mãos e "inimigo" da natureza, da pesquisa, da ciência e da educação). Isso, para demonstrar de modo muito rápido.

Em todo caso, o poder da máscara é incalculável e, nestes tempos ditos tão sombrios e de ameaças às garantias individuais e coletivas (senador levando tiros de pistolas de uso de policiais militares, p.ex.; presidente e deputados fazendo insinuações de cunho sexual, agressivo e profundamente machista a uma jornalista brasileira de renome internacional etc., etc.), talvez um dos poucos recursos que a população poderia lançar mão para poder tensionar com as autoridades e medir forças com o aparato estatal (sempre muito violento e poderoso) seja, de fato, a máscara e outras alegorias. Caso você integre o G-C, citado acima, uma boa sugestão é ler M. Bakhtin, em seus trabalhos de pesquisa sobre a obra de François Rabelais sobre a cultura popular na Idade Media e no Renascimento (tem o livro A Cultura Popular na Idade Media e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, editora Edunb/HUCITEC, apenas a título de exemplo); de fato, o autor faz uma análise cuidadosa acerca desse período histórico, das questões culturais - que são políticas, também. Ali, vemos que o riso rebaixa, que ele fala de morte, mas também de vida e que o tensionamento da população em relação aos governantes, às autoridades e aos regimes autoritários é uma estratégia de poder sempre possível (onde há este, sempre há resistência, já sabemos a partir de Foucault e de sua formulação quanto a uma microfísica de poder).

Caso você pertença a G-A, pode estar pensando nas dezenas de mortes e nas centenas de acidentes automobilísticos que sempre são registrados no período de Carnaval de cada ano (fora os que não são...). Sabemos, via imprensa - com base em dados de estatísticas oficiais do poder executivo federal, que em 2019 teve diminuição em relação a 2018 (Mortes em estradas federais no carnaval de 2019 caem 19%, diz PRF”; 83 pessoas perderam a vida no feriado, contra 103 no mesmo período do ano passado. Número de acidentes também caiu, de 1.518 para 1.157 - segundo o site G1, publicado em 07/03/2019, acessado nesta data), e sabemos mais e mais. Mas, as mortes no trânsito acontecem, todos(as) também sabemos, por conta do ato irresponsável dos motoristas brasileiros, por inúmeras demonstrações destes (o que inclui até, quem sabe, Presidente de país, rsrsrs): as muitas ocorrências de acidentes e de mortes se dão em períodos como o Natal e a Semana Santa (parece até ironia, mas nesses momentos, tbm).

Quando presidente do país determina a retira de atividades de fiscalização no trânsito em estrada federais, retirada de radares e coisas do gênero, também os dados mostram o crescimento de acidentes e de mortes nas pistas federais. Olhar o Carnaval apenas como signo de "perversão" e como tempo de liberação extremada(??!!) de bebidas alcoólicas e da prática sexual dita irresponsável é, podemos sugerir, uma forma muito limitada de abordar a questão, mesmo porque a nós parece que a visada moralizante revestida de "bons costumes" não costuma ser uma boa ferramenta para compreender os fatos sociais e políticos, culturais.

Talvez essa visada apenas seja importante em um projeto de alienação e de emburrecimento da população, ou de determinados extratos desta; se  é que isso é possível.


#PoemeirodoMiri


sábado, 15 de fevereiro de 2020

"CLAMOR PELA AMAZÔNIA", excelente poema de Lene Valente


Conheça este excelente poema sobre a Amazônia, texto denso e de perfil crítico/social, que desnuda nossa atualidade em termos de compreender este "solo degradado":



CLAMOR PELA AMAZÔNIA
(Lene Valente, 02/01/2020)





Desta nossa floresta

Que a nós sempre foi honesta
O que nos resta?


Um solo degradado
Por erosão afetado
E um povo conectado


Uma fauna em aflição
Espécies em extinção
Por pura ambição


As árvores na mata
O homem desmata
Explora e devasta


A dor da queimada
O golpe da derrubada
Ninguém faz nada


Rios poluídos
Leitos agredidos
Por projetos desmedidos


Pessoas adoecendo
Animais morrendo
E o globo aquecendo


Ôh! Amazônia querida
Patrimônio da nossa vida
Como estás tão sofrida!


Vítima e algoz
De uma crueldade feroz
Calando tua voz


Lideranças executadas
Brutalmente assassinadas
E terras legalmente griladas


Meu clamor é por justiça
Por esta terra Mestiça
Onde há tanta cobiça


E no momento presente
Clamo a nossa gente
A fazer uma corrente


Unidos ao grito da terra
Desta floresta que berra
Agredida pela motosserra


Vamos salvar a Amazônia
Das práticas errôneas
Deste governo barganha 
   
              (FIM)




domingo, 9 de fevereiro de 2020

Matou Marielle Franco? Chefe do "Escritório do Crime", o possível mandante da morte era íntimo dos Bozos



Israel Fonseca Araújo, editor (poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



(Adriano da Nóbrega. Foto: O Antagonista)


A Milícia de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, perdeu seu grande nome, o ex-capitão do BOPE (expulso da polícia) Adriano da Nóbrega, homem considerado suspeito de ser dos principais responsáveis pela execução, em via pública, da ex-vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marielle Franco (dia 14.03.2018), e de seu motorista Ânderson Gomes. “Capitão Adriano” foi homenageado pela família Bolsonaro, sendo, inclusive quando preso preventivamente, agraciado pelo então dep. estadual Flávio Bolsonaro (RJ), o antigo “Zero 01” de Bolsonaro/pai (atualmente, o zero 01 é Paulo Guedes). Bolsonaro, o pai, também defendeu os milicianos cariocas da Tribuna da Câmara, chegando a dizer que tais criminosos seriam bem-vindos (de outros estados) para o Rio de Janeiro.

Nóbrega foi morto na manhã de hoje pela polícia carioca, em divulgado “confronto” com policiais, segundo a argumentação oficial; o caso se deu na zona rural do município de Esplanada-BA, no agreste daquele estado, fato que teve o apoio da polícia estadual local. Recentemente, o ministro de Bolsonaro Exm. Sr. Sérgio Moro não inseriu Adriano da Nóbrega como um dos principais procurados pela justiça, no Brasil.

Nóbrega saiu ileso de possíveis punições pelo caso da execução de Marielle, haja vista que estava sendo procurado em razão de outra demanda criminal (sua ficha de crimes era bem corrida): era foragido da justiça desde janeiro de 2019:; ele já tinha muitos crimes atribuídos a si, em razão das atividades das milícias cariocas. Uma parte do Brasil (não os bolsonaristas e moronistas, claro) está indagando se essa morte (execução) de Nóbrega não seria uma queima de arquivo do assassinato de Marielle (e ele nem foi ouvido pelas autoridades das polícias e/ou do Ministério Público), ou se não é um recado quente para Fabrício Queiroz, haja vista a questão das “rachadinhas” lá no Rio. Estando já executado o Adriano, a reta de chegada seria o Queiroz, aquele que pode saber de muita coisa acerca da (possível) divisão ilegal de dinheiro de “funcionários” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O youtuber Paulo Ghialdelli Jr., um dos debatedores anti-bolsonarismo mais destacados destes anos, falou em "queima do maior aquivo...": "O MILICIANO ADRIANO É PEGO NA BAHIA. A QUEIMA DO MAIOR ARQUIVO DO BRASIL" (link: https://www.youtube.com/watch?v=vADaRBQ51iM&pbjreload=10); destacado parlamentar do Brasil, o petista gaúcho Paulo Pimenta também se manifestou no Canal da Resistência, falando que o Queiroz agora está na fila ("Adriano da Nóbrega foi... Queiroz será o próximo", cf. no link: https://www.youtube.com/watch?v=RT9DtucBFWg&t=1721s).


A imprensa fervilhou acerca dessa temática, desde às publicações menos "profissionais" (caso do Youtube e dos blogs/canais de esquerda) até divulgações com ares de imparcialidade nas empresas (oligárquicas) profissionais de jornalismo e de TV. Confira:







SUSPEITO NO CASO MARIELLE, “CAPITÃO ADRIANO” MORRE EM TROCA DE TIROS COM A POLÍCIA

Apontado como chefe da milícia 'Escritório do Crime', Adriano Magalhães da Nóbrega estava foragido desde janeiro do ano passado






Redação, O Estado de S.Paulo
09 de fevereiro de 2020 | 10h37


O ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como "capitão Adriano", foi morto em uma troca de tiros com a polícia na manhã deste domingo, 9, em Esplanada, no interior da Bahia. Foragido desde janeiro do ano passado, ele é apontado como chefe do "Escritório do Crime"milícia suspeita pela morte da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, assassinados em março de 2018.
Adriano trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, o ex-assessor de gabinete de Flávio Bolsonaro, investigado por lavagem de dinheiro no esquema de "rachadinha" na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). A mãe e a filha de Nóbrega trabalhavam no gabinete do filho do presidente e teriam sido contratadas por Queiroz. Segundo o Ministério Público, o milicano ficava com parte do pagamento delas.
Após receber informações que Nóbrega estava na Bahia, equipes do Serviço de Inteligência da polícia do Estado passaram a monitorá-lo. Há duas semanas, policiais fizeram uma busca em uma mansão na Costa do Sauípe, no Litoral da Bahia, onde encontraram apenas documentos falsos. O miliciano teria fugido antes da chegada dos policiais. 
Neste domingo, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Nóbrega trocou tiros com os policiais. Baleado, ele foi socorrido em um hospital da região, mas não resistiu. Com o foragido foi encontrada uma pistola austríaca calibre 9mm.
"Buscamos efetuar a prisão, mas o procurado preferiu reagir atirando", afirmou o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa. 
Apesar de ser suspeito de participar da morte de Marielle, "capitão Adriano" era procurado pela Justiça por causa de outro crime. Ele foi denunciado pelo Ministério Público por atuar com grilagem de terras; compra, venda e aluguel irregular de imóveis; cobrança irregular de taxas da população local; e extorsão e na receptação de mercadoria roubada em Rio das Pedras.

 

Ligações com esquema de "rachadinha"

Na última etapa da investigação que mira Flávio Bolsonaro, o MP do Rio apresentou à Justiça conversas de WhatsApp entre Adriano e sua ex-esposa, Danielle da Nóbrega, que era funcionária do gabinete do então deputado estadual. Nesses diálogos, o miliciano afirmava que também se beneficiava do suposto esquema de "rachadinha", quando ela reclama de sua exoneração. 
Danielle e a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, foram exoneradas por Flávio quando o filho do presidente Jair Bolsonaro e Queiroz ficaram sabendo da investigação. 
Além de empregar as parentes do miliciano, Flávio já o homenageou com a Medalha Tiradentes, honraria mais alta do Legislativo do Rio, em 2005, quando o então policial estava preso acusado de homicídio. Adriano foi expulso da Polícia Militar por causa de envolvimento com a contravenção. 
O Escritório do Crime, grupo que Adriano liderava, foi alvo da Operação Os Intocáveis, em janeiro de 2019, e de um desdobramento dela neste mês. Ele estava foragido desde essa primeira operação, há mais de 1 ano.
Adriano e Queiroz ficaram amigos no Batalhão de Jacarepaguá da PM. Foram acusados juntos, inclusive, de um homicídio, que registraram como "auto de resistência". O caso está aberto até hoje.  

 

Queima de arquivo

Adriano estava convencido de que queriam matá-lo, não prendê-lo. Nos últimos dias, tanto ele quanto sua esposa relataram que tinham certeza de que havia um plano de “queima de arquivo” em curso contra o ex-policial militar
O ex-capitão do Bope nunca havia falado diretamente com seu advogado, Paulo Emilio Catta Preta, até a quarta-feira passada. Foi quando, preocupado com os últimos movimentos da polícia, ligou para ele e relatou que tinha “certeza” de que queriam matá-lo para “queimar arquivo”. A viúva do miliciano também fez o mesmo relato. 

 

PM do Rio atuou na operação

Dois policiais do Rio de Janeiro participaram da operação de busca a Adriano Nóbrega. Segundo fontes da polícia baiana, no entanto, os policiais fluminenses não participaram do confronto que culminou com a morte do capitão.
De acordo com essas fontes, a polícia da Bahia deu suporte à investigação que já vinha em curso há quase dois anos no Rio. As principais informações foram colhidas por policiais flumimenses (sic) que estavam no encalço de Nóbrega.
Ainda segundo fontes da polícia baiana, os responsáveis pela investigação no Rio estavam monitorando as movimentações de Adriano, descobriram que ele estava na Bahia e pediram a colaboração. A partir de então o setor de inteligência da polícia baiana passou a integrar a investigação descobrindo que ele havia fugido da Costa do Sauípe, onde estava com a família em um condomínio, e se escondido em uma fazenda em Esplanada, no interior do Estado. 
A polícia da Bahia vai investigar agora possíveis ligações políticas do dono da fazenda onde Adriano foi morto. /COLABOROU RICARDO GALHARDO

(Fim)




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Outra matéria: 

Miliciano Adriano Nóbrega morre em confronto com policiais na Bahia
Por G1 BA (
Apontado como o chefe do Escritório do Crime, o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega morreu após um confronto com policiais militares, na manhã deste domingo (9), na zona rural da cidade de Esplanada. Contra ele, havia um mandado de prisão expedido em janeiro de 2019. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o ex-policial militar carioca passou a ser monitorado por equipes do órgão, após informações de que ele teria buscado esconderijo na Bahia. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia afirmou que Adriano era suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco, mas o nome dele não consta do inquérito que investiga a morta da vereadora.
De acordo com a SSP, Adriano Magalhães da Nóbrega foi localizado por equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Litoral Norte e da Superintendência de Inteligência (SI) da Secretaria da Segurança Pública em um imóvel.
A operação de localização do suspeito foi uma ação conjunta da Secretaria de Segurança Pública da Bahia e da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro (Sepol). Segundo a Sepol, Adriano da Nóbrega era investigado pelo setor de inteligência do órgão e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público há cerca de um ano. Ao longo deste tempo, os agentes o monitoravam e chegaram ao paradeiro do ex-policial militar, na Bahia.
(Fim)

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Como uma prática bem fascista: um ano da "tragédia do Ninho do Urubu", no Flamengo-RJ

Israel Fonseca Araújo, editor (poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



O dia 08 de fev. de 2019 trouxe, a mim e a tantas pessoas que amam (ou não amam) os esportes, em especial que amam o futebol profissional masculino (neste caso, por recorte analítico: gostamos e muito do futebol profissional e amador feminino, entre outras modalidades); talvez tenha até causado mais sofrimentos em torcedores(as) do Flamengo-RJ, o chamado "Mengão". Todos se lembram: foi a morte, praticamente como animais aprisionados, de 10 (dez) adolescentes das categorias de base do clube, que dormiam nas dependências do Ninho do Urubu (dormiam em containers; 10 morreram, 03 ficaram feridos). Dez jogadores da base morreram vítimas de um poderoso incêndio naquele dormitório, adolescentes que estavam prestes a poder ter o destino de Lucas Paquetá ou de Vinícius Jr. ou de Reinier Jesus (este, sucesso em 2019 com 17 anos; foi vendido no começo de 2020 por cerca de 140 milhões de reais)... Reinier Jesus foi um dos destaques do time que  venceu o Campeonato de elite da CBF, o "Braliseirão" 2019 e a Taça Libertadores 2019, obtendo o Vice do Mundial da FIFA...

O dia de hoje marca um ano dessa tragédia, o Flamengo-RJ ganhou muitos milhões de reais em 2019 e já iniciou o 2020 ganhando milhões com a venda de Reinier Jesus, jovem que completou 18 anos dia 19 de janeiro último. Mas, segundo informações veiculadas em matérias da imprensa profissional (e oligárquica, inclusive na empresa de mídia que trabalha para defender e vender bem o Flamengo-RJ, a Rede Globo...), o time carioca não indenizou, ainda, todas as famílias.

Isso mesmo: mesmo diante de tantos milhões conquistados em 2019 e com farta grana  em 2020, o Flamengo-RJ não aceitou pagar pequenas indenizações às famílias, que, por omissão e irresponsabilidade do clube, nunca mais terão a mesma felicidade de sempre, de antes. Jamais essas mães e pais/padrastos e avós, avôs, irmãos e outros... terão os meninos de volta, jamais esses garotos terão a vida simples e humilde a viver ou a vida rica e de glamour, como as têm atualmente: Neymar Jr., Lucas Paquetá, Vinícius Jr., Reinier Jesus ou outros, que vieram das bases de um clube grande do Brasil. Se os dez não fossem dragados pelo incêndio, mortos como animais na floresta sob incêndio, poderiam estar "valendo" 20 ou 40 ou mais milhões de reais e de euros, serão exemplos de gordos cifrões nas Planilhas de Finanças do "Mengão", com projeções de entradas para 2021, 2022, 2023 etc., mas, quem sabe, foram apenas vistos pelo Clube como dados financeiros, ou, como se diz amiúde nestes dias: eram "ativos do Clube": não eram pessoas, vidas e seres humanos; eram objetos de negócios, bens de valor (se vivos...). Porém, se transferidos, afundados em uma depressão, desistissem da carreira, fossem "não aproveitados" após alcançarem o limite de 19 ou 20 anos (ou ...... se falecessem), aí seriam apenas aqueles dados, os "ativos" perdidos, símbolos de fracasso.

Mas, o que não quer calar (embora as empresas de mídia façam calar tão bem) é que o Clube se nega a reparar, minimamente, os sofrimentos que ele mesmo causou (deu causa) às famílias. Se isso não é um sintoma de uma prática ou se não é, de fato, uma prática fascista e cruel, então não mais sabemos o que ela significa.

Por fim, para maior estímulo de revolta: dirigentes do Flamengo-RJ afirmam, de cara séria e (des)lavada, que o Clube  definiu "um teto" para possíveis pagamentos de indenizações decorrentes dessas "perdas". Isso mesmo que vc entendeu: o time definiu, a seu bel-prazer, um limite (isto é, dados numéricos; dados frios e objetivos do mundo dos negócios) para reparações (se as famílias ou a Justiça não aceitar, que elas..., diria o Clube)... E: como ficam essas famílias, que tanto confiaram no Fla-RJ? A Justiça será omissa, no seu dever de aplicar as penalidades, de ser órgão repressor ou reparador da parte do Estado-Nação? O Ministério Público carioca será omisso? Sobre a mídia, já temos respostas mais concretas.

Mas segue uma panorâmica sobre essa realidade. Atentem para o que essa "tragedia" representa para as mães:





UM ANO DO INCÊNDIO NO NINHO DO URUBU: OS DESDOBRAMENTOS DA TRAGÉDIA DO FLAMENGO



Neste sábado, dia 8 de fevereiro, o incêndio em um alojamento no CT Ninho do Urubu completa um ano. Na ocasião, dos 26 meninos que dormiam no local, dez morreram e três ficaram feridos. O caso corre em duas esferas judiciais diferentes: a reparação às famílias das vítimas está sendo tratada na esfera cível enquanto as responsabilidades pelo incêndio na criminal. As questões cíveis ainda estão longe de serem concluídas. Apenas quatro acordos foram fechados, com as famílias de Athila Paixão (de 14 anos), Gedinho (também de 14 anos), Vítor Isaías (de 15 anos) e com o pai de Rykelmo (de 16 anos) - a mãe do garoto preferiu seguir com o processo na Justiça. Em dezembro, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro e o Ministério Público conseguiram uma decisão obriga o Flamengo a pagar R$ 10 mil mensais às famílias das vítimas. A sentença, no entanto, ainda não é definitiva. 

Um modelo de indenização coletiva foi elaborado - usando como base no programa indenizatório das vítimas do voo 447 da Air France – que caiu no Oceano Atlântico em 2009 –, mas o clube recusou e preferiu continuar tratando o caso individualmente com cada família. Já o inquérito criminal, iniciado imediatamente após a tragédia, tem previsão é de ser finalizado ainda em fevereiro, de acordo com o Ministério Público carioca.

Em maio passado, oito pessoas foram indiciadas por crimes de homicídio e tentativa de homicídio por dolo eventual, mas depois de novas audiências, o MP solicitou mais investigações. Meses depois, em agosto, as investigações foram concluídas e uma nova rodada de audiência foi realizada, com mais informações coletadas. Estas se referiam à empresa que forneceu os containers que serviam de alojamento e sobre as documentações do local.

Em dezembro, novas informações foram solicitadas à polícia, referentes a novos fatos adicionados ao inquérito. O prazo para a polícia devolver o caso à promotoria acaba neste mês. Nesta sexta-feira (7), uma reunião da CPI dos Incêndio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, um dos temas tratados seria justamente o caso do Ninho do Urubu. Juntamente dos familiares das vítimas, a diretoria do Flamengo foi convocada a participar da reunião, mas não compareceu.

O ex-presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, que estava em Brasília, chegou às 14h30 e o CEO Reinaldo Belotti, às 12h49, sendo que a reunião estava marcada para às 11h. Com isso, o presidente da CPI pediu condução coercitiva para Rodolfo Landim - atual presidente do clube -, Rodrigo Dunshee - vice jurídico - e Alexandre Wrobel - vice de patrimônio - para a próxima sessão, a ser realizada na sexta-feira (14).

A postura do Flamengo diante do caso tem sido muito criticada por torcedores, tanto flamenguistas quanto rivais, e pela imprensa. E, principalmente pelas famílias das vítimas. Muitos dizem que faltou carinho e consideração por parte do clube. Em entrevista ao UOL, Darlei PIsetta, pai do goleiro Bernardo, falecido ao 14 anos disse: "Um simples bater nas costas da diretoria depois faria todo efeito, toda a diferença. Esperamos até hoje o bater nas costas. Esse gesto faria toda a diferença".

Na mesma reportagem, a mãe de Rykelmo, Rosana, também reclamou. "De repente, você vê que aquilo ali era um lucro para o Flamengo. Eles estavam segurando aqueles meninos, porque sabiam que, mais para frente, eles iriam render. Só que como tiveram a vida cortada, já não têm mais valor", disse.

O clube, no entanto, garante que está fazendo tudo ao seu alcance e que está se colocando totalmente à disposição das famílias. Em um vídeo publicado no último dia 1, na FlaTV,  Rodrigo Dunshee disse que o Flamengo não está "se furtando a sua responsabilidade" e reforçou estar a disposição das famílias. Passado um ano da tragédia, apenas um dos meninos não voltou para o futebol. Trata-se de Jhonata Ventura, que teve 30% de seu corpo queimado e ainda está em tratamento. Em janeiro ele comemorou ter voltado a correr em volta do gramado. Foi também em janeiro que o clube dispensou alguns jogadores das categorias de base do clube, dentre eles cinco dos sobreviventes: Caike Duarte Pereira da Silva, Felipe Cardoso, João Vitor Gasparin Torrezan, Naydjel Callebe Boroski Struhschein e Wendel Alves Gonçalves.

A decisão foi tratada pelo clube como algo natural e puramente técnico, parte de uma reformulação das categorias de base que acontece ao final de cada ano. Hoje no RedBull Bragantino, Felipe Cardoso fez um desabafo nas redes sociais e disse que, para o Flamengo, eles são apenas números. "Aprendi mais uma dura lição da vida em busca deste sonho ao ser liberado pelo Flamengo, no dia 13/01/2020 por telefone, não entendi e chorei, gritei, culpei tudo e todos, não quis falar com ninguém por um período, a dor foi gigante em meu peito. Após refletir muito cheguei à conclusão de que somos apenas números para muitos", escreveu o meia de 16 anos.

(Fim)
_______________ O que isso significa para vc?

#PoemeirodoMiri



sábado, 1 de fevereiro de 2020

Ponte "União", na Alça Viária, foi "inaugurada" por Helder Barbalho (MDB)

Israel Araújo (editor; poemeiro@hotmail.com)



(Foto: correiodecarajas.com.br)




A agora chamada "Ponte União" foi "inaugurada"; da parte deste Blog, dizemos que se trata de uma espécie de piada pronta. O governo do estado do Pará fez tremenda festa, anunciando diversas vezes que a ponte seria "inaugurada" (depois de ter sido destruída por um acidente com uma balsa...).

Acontece que as datas foram anunciadas e novamente anunciadas. Mas, de fato, a entrega se deu no dia de ontem, com todos os alardes do governo e de aliados políticos do governo - e do Governador Helder Barbalho (MDB). Meses e meses de transtornos para a população e reparação (da parte dos responsáveis pela destruição, e das autoridades estaduais...) simplesmente NADA; nada.

Aliás, como se inaugura o que está inaugurado? Não me venha falar em "re...... " quanto o que está em jogo é a dignidade de todos nós, paraoaras!!

Repercussão:

De perfil mais político do que técnico, a imprensa pertencente à família do governador (Grupo RBA) divulgou, via site do Diário do Pará, a seguinte informação:


“Tempo Recorde”
Ponte do rio Moju é inaugurada e tráfego de veículos na Alça Viária está liberado
 sexta-feira, 31/01/2020, 19:35 - Atualizado em 31/01/2020



Exatamente às 13h, desta sexta-feira (31), o governador Helder Barbalho autorizou a abertura do tráfego sobre a ponte União, no KM-48 da Alça Viária (PA-483), que foi interrompido bruscamente no dia 6 de abril, após a derrubada de quase um terço de sua estrutura. Cerca de 5 mil pessoas, moradoras dos municípios do Acará e Moju, foram recepcionar e agradecer ao governador o empenho pela resposta rápida na construção da ponte, que acontece em tempo recorde.

"A escolha do nome União, ocorre justamente por inaugurarmos uma ponte, um equipamento de transporte, contando com o auxílio de muitas pessoas. A obra é o resultado de uma atitude firme que mostrou a todos que é possível trabalhar com união para construir um futuro melhor para todos os cidadãos do Estado do Pará", disse o governador Helder Barbalho durante a cerimônia. 
O governador informou ainda que solicitou, à Setran (Secretaria  de Estado de Transportes), a realização de um cadastro com todos os operários que trabalharam na Ponte União, e que ficariam sem trabalho após o término da obra. Esse cadastro vai possibilitar que eles possam trabalhar também na obra da ponte Meruú [em Igarapé-Miri], que será iniciada em breve.
 “Já trabalhei em várias obras e essa foi a primeira vez que recebi uma homenagem. Melhor ainda é descobrir hoje que poderei ir trabalhar  na obra de outra ponte e não ficarei desempregado”, disse Silas de Jesus Araújo, operário da obra na ponte. O pescador Djalma Santos, que mora há 30 anos às margens do rio Moju foi um dos moradores que veio ver de perto a inauguração da ponte. “Agora ficou melhor para todos nós, pois vivíamos sobressaltados com os choques das embarcações nos pilares no horário noturno. Agora vamos dormir sossegados, pois essa obra é diferenciada e tem muita segurança”, disse. Outros trabalhadores também comemoraram a volta da ponte.

(...)

Outros conglomerados de mídia deram menos destaque para o fato do que as redes barbalhianas* (digamos), claro.

____________ Que a população não tenha, mais, que passar por esses transtornos e essas humilhações.

Temos dito.