sábado, 8 de fevereiro de 2020

Como uma prática bem fascista: um ano da "tragédia do Ninho do Urubu", no Flamengo-RJ

Israel Fonseca Araújo, editor (poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



O dia 08 de fev. de 2019 trouxe, a mim e a tantas pessoas que amam (ou não amam) os esportes, em especial que amam o futebol profissional masculino (neste caso, por recorte analítico: gostamos e muito do futebol profissional e amador feminino, entre outras modalidades); talvez tenha até causado mais sofrimentos em torcedores(as) do Flamengo-RJ, o chamado "Mengão". Todos se lembram: foi a morte, praticamente como animais aprisionados, de 10 (dez) adolescentes das categorias de base do clube, que dormiam nas dependências do Ninho do Urubu (dormiam em containers; 10 morreram, 03 ficaram feridos). Dez jogadores da base morreram vítimas de um poderoso incêndio naquele dormitório, adolescentes que estavam prestes a poder ter o destino de Lucas Paquetá ou de Vinícius Jr. ou de Reinier Jesus (este, sucesso em 2019 com 17 anos; foi vendido no começo de 2020 por cerca de 140 milhões de reais)... Reinier Jesus foi um dos destaques do time que  venceu o Campeonato de elite da CBF, o "Braliseirão" 2019 e a Taça Libertadores 2019, obtendo o Vice do Mundial da FIFA...

O dia de hoje marca um ano dessa tragédia, o Flamengo-RJ ganhou muitos milhões de reais em 2019 e já iniciou o 2020 ganhando milhões com a venda de Reinier Jesus, jovem que completou 18 anos dia 19 de janeiro último. Mas, segundo informações veiculadas em matérias da imprensa profissional (e oligárquica, inclusive na empresa de mídia que trabalha para defender e vender bem o Flamengo-RJ, a Rede Globo...), o time carioca não indenizou, ainda, todas as famílias.

Isso mesmo: mesmo diante de tantos milhões conquistados em 2019 e com farta grana  em 2020, o Flamengo-RJ não aceitou pagar pequenas indenizações às famílias, que, por omissão e irresponsabilidade do clube, nunca mais terão a mesma felicidade de sempre, de antes. Jamais essas mães e pais/padrastos e avós, avôs, irmãos e outros... terão os meninos de volta, jamais esses garotos terão a vida simples e humilde a viver ou a vida rica e de glamour, como as têm atualmente: Neymar Jr., Lucas Paquetá, Vinícius Jr., Reinier Jesus ou outros, que vieram das bases de um clube grande do Brasil. Se os dez não fossem dragados pelo incêndio, mortos como animais na floresta sob incêndio, poderiam estar "valendo" 20 ou 40 ou mais milhões de reais e de euros, serão exemplos de gordos cifrões nas Planilhas de Finanças do "Mengão", com projeções de entradas para 2021, 2022, 2023 etc., mas, quem sabe, foram apenas vistos pelo Clube como dados financeiros, ou, como se diz amiúde nestes dias: eram "ativos do Clube": não eram pessoas, vidas e seres humanos; eram objetos de negócios, bens de valor (se vivos...). Porém, se transferidos, afundados em uma depressão, desistissem da carreira, fossem "não aproveitados" após alcançarem o limite de 19 ou 20 anos (ou ...... se falecessem), aí seriam apenas aqueles dados, os "ativos" perdidos, símbolos de fracasso.

Mas, o que não quer calar (embora as empresas de mídia façam calar tão bem) é que o Clube se nega a reparar, minimamente, os sofrimentos que ele mesmo causou (deu causa) às famílias. Se isso não é um sintoma de uma prática ou se não é, de fato, uma prática fascista e cruel, então não mais sabemos o que ela significa.

Por fim, para maior estímulo de revolta: dirigentes do Flamengo-RJ afirmam, de cara séria e (des)lavada, que o Clube  definiu "um teto" para possíveis pagamentos de indenizações decorrentes dessas "perdas". Isso mesmo que vc entendeu: o time definiu, a seu bel-prazer, um limite (isto é, dados numéricos; dados frios e objetivos do mundo dos negócios) para reparações (se as famílias ou a Justiça não aceitar, que elas..., diria o Clube)... E: como ficam essas famílias, que tanto confiaram no Fla-RJ? A Justiça será omissa, no seu dever de aplicar as penalidades, de ser órgão repressor ou reparador da parte do Estado-Nação? O Ministério Público carioca será omisso? Sobre a mídia, já temos respostas mais concretas.

Mas segue uma panorâmica sobre essa realidade. Atentem para o que essa "tragedia" representa para as mães:





UM ANO DO INCÊNDIO NO NINHO DO URUBU: OS DESDOBRAMENTOS DA TRAGÉDIA DO FLAMENGO



Neste sábado, dia 8 de fevereiro, o incêndio em um alojamento no CT Ninho do Urubu completa um ano. Na ocasião, dos 26 meninos que dormiam no local, dez morreram e três ficaram feridos. O caso corre em duas esferas judiciais diferentes: a reparação às famílias das vítimas está sendo tratada na esfera cível enquanto as responsabilidades pelo incêndio na criminal. As questões cíveis ainda estão longe de serem concluídas. Apenas quatro acordos foram fechados, com as famílias de Athila Paixão (de 14 anos), Gedinho (também de 14 anos), Vítor Isaías (de 15 anos) e com o pai de Rykelmo (de 16 anos) - a mãe do garoto preferiu seguir com o processo na Justiça. Em dezembro, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro e o Ministério Público conseguiram uma decisão obriga o Flamengo a pagar R$ 10 mil mensais às famílias das vítimas. A sentença, no entanto, ainda não é definitiva. 

Um modelo de indenização coletiva foi elaborado - usando como base no programa indenizatório das vítimas do voo 447 da Air France – que caiu no Oceano Atlântico em 2009 –, mas o clube recusou e preferiu continuar tratando o caso individualmente com cada família. Já o inquérito criminal, iniciado imediatamente após a tragédia, tem previsão é de ser finalizado ainda em fevereiro, de acordo com o Ministério Público carioca.

Em maio passado, oito pessoas foram indiciadas por crimes de homicídio e tentativa de homicídio por dolo eventual, mas depois de novas audiências, o MP solicitou mais investigações. Meses depois, em agosto, as investigações foram concluídas e uma nova rodada de audiência foi realizada, com mais informações coletadas. Estas se referiam à empresa que forneceu os containers que serviam de alojamento e sobre as documentações do local.

Em dezembro, novas informações foram solicitadas à polícia, referentes a novos fatos adicionados ao inquérito. O prazo para a polícia devolver o caso à promotoria acaba neste mês. Nesta sexta-feira (7), uma reunião da CPI dos Incêndio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, um dos temas tratados seria justamente o caso do Ninho do Urubu. Juntamente dos familiares das vítimas, a diretoria do Flamengo foi convocada a participar da reunião, mas não compareceu.

O ex-presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, que estava em Brasília, chegou às 14h30 e o CEO Reinaldo Belotti, às 12h49, sendo que a reunião estava marcada para às 11h. Com isso, o presidente da CPI pediu condução coercitiva para Rodolfo Landim - atual presidente do clube -, Rodrigo Dunshee - vice jurídico - e Alexandre Wrobel - vice de patrimônio - para a próxima sessão, a ser realizada na sexta-feira (14).

A postura do Flamengo diante do caso tem sido muito criticada por torcedores, tanto flamenguistas quanto rivais, e pela imprensa. E, principalmente pelas famílias das vítimas. Muitos dizem que faltou carinho e consideração por parte do clube. Em entrevista ao UOL, Darlei PIsetta, pai do goleiro Bernardo, falecido ao 14 anos disse: "Um simples bater nas costas da diretoria depois faria todo efeito, toda a diferença. Esperamos até hoje o bater nas costas. Esse gesto faria toda a diferença".

Na mesma reportagem, a mãe de Rykelmo, Rosana, também reclamou. "De repente, você vê que aquilo ali era um lucro para o Flamengo. Eles estavam segurando aqueles meninos, porque sabiam que, mais para frente, eles iriam render. Só que como tiveram a vida cortada, já não têm mais valor", disse.

O clube, no entanto, garante que está fazendo tudo ao seu alcance e que está se colocando totalmente à disposição das famílias. Em um vídeo publicado no último dia 1, na FlaTV,  Rodrigo Dunshee disse que o Flamengo não está "se furtando a sua responsabilidade" e reforçou estar a disposição das famílias. Passado um ano da tragédia, apenas um dos meninos não voltou para o futebol. Trata-se de Jhonata Ventura, que teve 30% de seu corpo queimado e ainda está em tratamento. Em janeiro ele comemorou ter voltado a correr em volta do gramado. Foi também em janeiro que o clube dispensou alguns jogadores das categorias de base do clube, dentre eles cinco dos sobreviventes: Caike Duarte Pereira da Silva, Felipe Cardoso, João Vitor Gasparin Torrezan, Naydjel Callebe Boroski Struhschein e Wendel Alves Gonçalves.

A decisão foi tratada pelo clube como algo natural e puramente técnico, parte de uma reformulação das categorias de base que acontece ao final de cada ano. Hoje no RedBull Bragantino, Felipe Cardoso fez um desabafo nas redes sociais e disse que, para o Flamengo, eles são apenas números. "Aprendi mais uma dura lição da vida em busca deste sonho ao ser liberado pelo Flamengo, no dia 13/01/2020 por telefone, não entendi e chorei, gritei, culpei tudo e todos, não quis falar com ninguém por um período, a dor foi gigante em meu peito. Após refletir muito cheguei à conclusão de que somos apenas números para muitos", escreveu o meia de 16 anos.

(Fim)
_______________ O que isso significa para vc?

#PoemeirodoMiri



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