quinta-feira, 6 de abril de 2023

(Editorial) De joelhos ante o ódio, o Brasil precisa se reencontrar conosco, com sua dignidade

Israel Fonseca Araújo (editor, fundador)

Academia Igarapemiriense de Letras (AIL) (poemeiro@hotmail.com)


Brasil "chora" (ilustração)


Os ataques de "neofascistas" a escolas e suas pessoas estão demonstrando que o obscurantismo e o ódio - praticados e incentivados em massa, sobretudo na recente década - colocaram o Brasil de joelhos. Essa expressão ou forma de enunciar o problema (
o Brasil estar de joelhos ante o ódio e o obscurantismo) não é e nada tem de exagero. Infelizmente, as divulgações da imprensa dita "profissional", mensagens em redes sociais diversas, a divulgação (mesmo que tardia) dos planos e os ataques efetivamente estão demonstrando que a nossa Nação está trancafiada dentro de um medo nunca antes vivenciado.

"Nunca", desde os anos 1985 para cá, pois nos anos de chumbo (1964-85), na Ditadura Civil-Miliar brasileira, a sensação era bem parecida; lá, como cá, ao menos boa parte da população vivia desvivendo. Mas, naquela circunstância, não havia a dinamização e a intensificação que a internet e as redes sociais agora fazem, no que tanto afetam as subjetividades e alagam nossas almas no quente caldo do medo e do horror.

Ódios dirigidos à ciência, ao saber, às escolas, às universidades e aos centros de pesquisa e, portanto, a quem historicamente se faz metonímia dessas instituições: os professores e as professoras. Ódio que se planta e se (retro)alimenta em nichos de redes sociais e, quem sabe, grupos de aplicativos (tais como Telegram e WhatsApp), listas de transmissões, zonas indecifráveis da internet e - até pior que isso - em segmentos sociais que se assemelham a seitas em termos de irracionalidades e plantações/proliferações de notícias fraudulentas (as famosas fake news).

Nunca canso de relatar uma experiência por mim vivida (em 2022, em um grupo de App de conversa e troca de mensagens); por explicar a relação entre cortes de impostos (ICMS) e os investimentos em Educação básica pública, mesmo eu dizendo que sou contra a sacrificante carga de impostos do Brasil e que defendo que a política de preços da Petrobras seja menos atrelada ao dólar, assim que postei minha mensagem, imediatamente um professor bolsonarista me excluiu do grupo. Por quê?

A razão é simples: sem ter ofendido pessoas e/ou descumprido regras do grupo, o fato de "minha" explicação circular para cerca de 45 integrantes (e mais esposas e demais familiares) poderia fazer com que outras pessoas parassem para refletir sobre e tivessem curiosidades e fossem estudar a questão; quais outras pessoas? Talvez, as que não estavam tendo esse debate em grupos de evangélicos bolsonaristas; para piorar, expliquei a questão pedagogicamente (risos, risos) e fui expulso por um "professor" pedagogo. Uma matéria de instituição anti-petista (grupo Globo) ajuda entender a relação: leia matéria de O Globo, aqui. 

O adoecimento social, coletivo, já era visível no contexto de intensidade da pandemia de Covid-19 e se mostrou mais forte no ano de 2022, quando narrativas pra lá de "loucas" povoaram a cabeça de parte do povo brasileiro (que objetos voadores não identificados estavam prestes a "resolver" problemas políticos neste país, que os corpos de Lula da Silva e de Jair Bolsonaro seriam trocados (e, na posse, quem iria começar a governar seria Bolsonaro - mas no corpo de Lula), que Lula tinha falecido e seu corpo estava (há dias) em um dos andares do Hospital Sírio Libanês...).

Chegamos perto do Natal de 2022, já com Lula da Silva eleito presidente pela terceira vez e diplomado pela justiça; planos e atentados se fizeram notar, em Brasília (DF). Até uma mega explosão em aeroporto teria sido planejada; a explosão de um tanque de combustíveis por muito pouco não aconteceu; "suspeita-se" que plano para assassinar Lula, no dia de sua posse, seria executado (não se constatou). No dia 08 de janeiro, a capital federal na Praça dos Três Poderes viu a ação de centenas de criminosos e criminosas ensandecidos - com roupas e bandeiras em cores verde e amarelo; destruir e agredir eram suas senhas e se o presidente do Brasil estive naquela área, naquela tarde, poderia ter sido alvejado.

Essa síntese é precária por demais, pouco abrangente e não dá conta de demonstrar o tamanho desses ódios e do obscurantismo (pois a luta dos "verde-amarelos" era, centralmente, para livrar o Brasil do comunismo que o Partido dos Trabalhadores/as estaria em vias de implantar); obscurecer é ato ou efeito de não deixar claro, de não esclarecer; é uma luta contra os saberes, os conhecimentos, as explicações coerentes e fundamentadas e contra a emancipação daqueles que ainda se encontram escravizados diante de "conhecimentos" deturpados e profusão de fake news.

Não é à toa que professores(as), escolas, universidades e outros centros de saber são alvos prioritários dessa gramática internacional produtora de ódios e obscurantismo; lá, nesses espaços e liderados por esses sujeitos, se ensina, explica e busca esclarecer fatos históricos, entender o momento presente, analisar, criticar, fazer as "mentes dos alunos/as pensarem" (todas pensam, é óbvio). Por isso, por educar e explicar, Jesus Cristo foi vítima dos ódios e obscurantismos de sua época, pois ele trazia emancipação. Ensinar, educar, educere relaciona-se com "conduzir para fora".

Para fora de onde? Dos obscurantismos, por ex.; por isso, naquele grupo de Zap-zap houve apenas a expulsão do professor que estava explicando, já que o administrador não tinha machadinhas ou fuzis para resolver - a seu modo - o problema (ele poderia, talvez, apagar aquele texto explicativo, o que já lhe ajudaria bastante). Não é somente grave a situação no estado brasileiro que mais se apega a conteúdos nazistas/fascistas pela internet; não é somente nas periferias mais abandonadas do Brasil. É em lugares improváveis, também.

Por isso, uma singela posição da parte deste Blog: estudar e amar a sabedora continua sendo, sim, uma saída e um alimento para nossas vidas, com especial atenção às crianças que se encontram em fase de formação de personalidades. Se tiver de processar, prender e julgar/condenar seus (das crianças) algozes (às vezes, são os pais/responsáveis armamentistas), que se faça; fazer umas visitas aos mesmos, na prisão, e levar um livro pode lhes ajudar e ajudar a sociedade como um todo.