É grave a atitude do governo paraense em relação às aulas no Ensino Médio (Seduc) nas comunidades em que, há décadas, se tem essa oferta em formato de módulos (no Sistema de Organização Modular de Ensino-SOME), em que os componentes curriculares (Língua Portuguesa, História, Filosofia e outras) são distribuídos em 4 momentos ao longo de cada ano letivo (regime blocado, intensivo); ainda que com muitas e históricas limitações estruturais e outras, o Some tem deixado indiscutível legado às populações campesinas. A deputada estadual (Psol) Lívia Duarte se manifestou contra a proposta da Seduc e se referiu ao Some como sendo "a maior política de educação do campo, no Pará".
O
anúncio feito pelo governo Helder Barbalho (via Seduc-PA) de que pretende
retirar os professores(as) da condição de regentes dessas turmas no Ensino
Médio e substituí-los por um(a) profissional Monitor(a), deixa pais, mães/responsáveis
aflitos(as), por saberem que as perdas para a qualidade do ensino, do processo
educativo serão enormes. Não há como negar que um Monitor(a), ainda que com as
melhores condições tecnológicas possíveis à mão (o que não é nossa realidade...),
teria enormes dificuldades de auxiliar cada estudante em todos os Componentes.
Tenho ouvido vários relatos da parte da população; e são falas que demonstram apreensão e sofrimento, incluindo o de uma mãe de aluna do 9º Ano (Ensino Fundamental): que ela e o esposo vão fazer o que for possível para que a filha não inicie o Ensino Médio sem professores(as) para as diversas áreas de saber; que vão levar a jovem para outra localidade, mudar a rotina familiar etc. A Seduc-PA propõe um modelo chamando de "Cemep" como forma de fazer a "educação mediada por tecnologia" e, assim, substituir o ensino presencial garantido por professor(a) dos vários Componentes; a transmissão das aulas dar-se-ia através de uma central de mídias e os estudantes, nas diversas localidades, assistiriam as aulas e "tirariam as dúvidas" com um professor monitor(a). Na linguagem de estudantes, essa medida está sendo chamada de "aulas pela televisão"; professores e pesquisadores(as) imediatamente associaram ao programa transmitido pela Rede Globo, há décadas: o Telecurso 2000.
Resistência popular. Aqui em
Igarapé-Miri a movimentação contrária a essa “proposta” do governo estadual está
se intensificando e, no Pará inteiro, o Sintepp (Sindicato dos Trabalhadores/as
em Educação Pública do Pará) está enfrentando mais essa demanda, na luta pelos
direitos de professores e professoras e, igualmente, por educação pública de
qualidade para as juventudes do campo; neste caso específico, para que o Some
não seja substituído por mais uma medida “de cima pra baixo”, impactando a
carreira acadêmica de milhares de paraenses que já estão no Ensino Médio ou que
estão às portas desse nível de ensino.
Como
Conselheiro Municipal de Educação de Igarapé-Miri, Representante (Titular) do
Magistério Público Estadual (triênio 2024-2027) e vice-presidente desse órgão,
ainda que sabendo das limitações – por se tratar de demanda que convoca a
prerrogativa do Conselho Estadual de Educação (CEE-PA), coloco-me irmanado a
meus Colegas de trabalho na Seduc-PA; apresento minha solidariedade, minhas
energias e forças intelectuais para enfrentar essa demanda; apresento-me a essa
luta, junto do Sintepp na Subsede de Igarapé-Miri, como a outras das quais
participei para enfrentar essa equivocada medida e ponho este Blog Poemeiro do
Miri à disposição das possíveis divulgações, assim como o canal do You Tube
Rádio Poemeiro do Miri. Não concordo, e não concordamos, com a ideia de que a
classe trabalhadora deve ter “qualquer educação”; nossa classe e, neste caso, especialmente
os sujeitos de direito que integram os territórios campesinos, deve ter a
melhor qualidade possível de educação pública.
Precisamos, nas escolas ribeirinhas, nas ilhas, nos assentamentos e similares, é de professores(as) para o ano todo, para efetivar aulas, pesquisas e atividades artísticas/esportivas/culturais, sem interrupções; precisamos de mais escolas e reformas em tantas, com laboratórios, internet de excelente qualidade e infraestrutura que viabilize a melhor educação possível, baseada na criticidade, na dialogicidade e na pluralidade de ideias; no livre exercício de ensinar e aprender.
Educação se faz com professor e professora; a tecnologia é, apenas, parte integrante desse processo; ela não é a mola que poderia substituir o insubstituível (o professor, a professora). Estejamos unidos e unidas, pois os direitos da classe trabalhadora nunca deixaram de ser alvo de táticas disfarçadas de políticas públicas.
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Israel Fonseca Araújo, professor e escritor (editor/fundador deste Blog); doutor e mestre em Letras. Academia Igarapemiriense de Letras (AIL); poemeiro@hotmail.com
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