Prof. Israel Araújo (Editor)
Presidente da Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)
Cadeira 07. Patrono: Manoel Luiz Ferreira Fonseca
Mestre em Letras pela Universidade Federal do Pará (UFPA)
E-mail: poemeiro@hotmail.com
Facebook: Israel Araújo Pomeiro do Miri
(De nosso punho)
A extinção, pelo Sr. Michel Temer (PMDB-SP), do Ministério da Cultura (MinC) da relação de Ministérios a planejar e desenvolver políticas públicas para o desenvolvimento do País causou alvoroço em parte da classe artística e demais pessoas interessadas e/ou diretamente empenhadas na atuação cultural país afora. Já que nós somos militantes da Cultura na Amazônia e essa decisão (agravada pelo fato de dar ao Democratas o Ministério da Educação) nos atinge com violência, deixaremos que as seguintes autoridades falem sobre o caso.
Artistas e produtores reagem ao fim do MinC
Agência O Globo; 12/05/2016
RIO — “Incompreensão”, “estupidez”, “golpe”. A classe
artística reagiu com indignação à decisão do presidente em exercício Michel
Temer de extinguir o Ministério da Cultura (MinC). Com a nomeação oficial,
nesta quinta-feira, de Mendonça Filho (DEM-PE) como o novo ministro da Educação
e Cultura, representantes da produção cultural e artistas das mais variadas
linguagens artísticas se posicionaram, em sua maioria, contra a decisão.
Augusto de Campos, poeta, tradutor e ensaísta:
Considero altamente nociva a subsunção do atual Ministério da
Cultura ao da Educação. É puro retrocesso. Mas não esperava outra coisa de um
governo em que não reconheço legitimidade, resultante de um impeachment sem
fundamento jurídico, e orientado por mentalidades conservadoras e retrógradas.
Aderbal Freire-Filho, diretor de teatro, autor e ator:
O fim do MinC é mais um golpe. Agora, contra a Cultura.
Representa uma ponte para o passado. O MinC nasce com a redemocratização e
agora acaba pela chegada de um governo ilegítimo. Como o Ministério da
Educação, que atende a um universo enorme imenso (Enem, Prouni, entre tantos
outros programas),ainda poderia incorporar as demandas da rica e variada
cultura brasileira? Só tem um jeito: desprezando-a, sem dar a ela seu espaço e
importância. O que não espanta. O que emerge agora é o o Brasil inculto, que
despreza a sua arte. Mas a força atual da cultura brasileira vai reagir a esse
ato obscurantista.
Domingos Oliveira, diretor de teatro, dramaturgo e
cineasta:
Para se viver em paz na sociedade é preciso saber que as pessoas
são burras, muito burras. Quem não dá importância à cultura, que é a coleção do
acervo pessoal da humanidade, sendo também o registro da sua brava passagem
pelo planeta maravilhoso que logo se destruirá, é antes de tudo burro. Parece
que não há limites para a grosseria e a estupidez dos nossos mandatários. Sua
falta de espiritualidade, capaz de desvalorizar a cultura e a arte, que são
nossas únicas chances de salvação nesse naufrágio agônico chamado Brasil,
mostra apenas a velocidade de sua corrida em direção ao abismo. Temer, não
durma tranquilo.
Cacá Diegues, cineasta:
Acho o fim do MinC um retrocesso histórico, uma incompreensão do
que seja educação e cultura, de que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Simplificando, a educação prepara as pessoas para o mundo real, enquanto a
cultura estimula a inventar outros mundos. Botar as duas coisas juntas, como se
fossem uma coisa só, é um retrocesso acadêmico, uma incompreensão do mundo
moderno e do futuro. Um retrocesso.
Milton Hatoun, escritor:
A extinção do MinC e a nomeação de políticos medíocres para
ocupar o MEC e outros ministérios não me surpreendem. E cito a crônica "A
pantomina", de Rubem Braga: “Nossa vida política é, em seu jogo diário, de
um nível mental espantosamente medíocre. Mental... e moral. Há uma cansativa
tristeza, um tédio infinito nesse joguinho miúdo de combinação através das
quais se resolve o destino da pátria”.
Wagner Moura, ator:
Já era de se esperar. Tem havido um movimento desonesto de
convencimento público da desimportância da cultura e da criminalização dos
artistas que fazem uso da Lei Rounet (que contraditoriamente é uma lei de viés
neoliberal que estava sendo revista pelo Minc). A ideia de que o MinC e as leis
de incentivo à Cultura não passam de uma maneira do governo sustentar artista
vagabundo e comprar seu apoio político ganhou extraordinária e surpreendente
aceitação popular. E como nos momentos de crise a cultura é a primeira que
roda, o fim do MinC, sob a ótica do Estado enxuto e sob o entendimento popular
de que artistas não passam de vagabundos que mamam nas tetas do Estado,
infelizmente, não é uma surpresa. E a tendência é piorar.
Anna Muylaert, cineasta:
Em primeiro lugar, estou em estado de choque com tudo o que está
acontecendo. O afastamento (da Dilma) é de 180 dias, o Michel Temer é um
presidente interino. Acho ousado ele estar com essas transformações
ministeriais todas prontas. No mínimo, deveria deixar a cadeira esfriar. Agora,
as consequências dessa fusão depende de como o ministro vai pensar. Uma
avaliação, neste momento, é algo prematuro. Porém, Educação e Cultura são
coisas tão diferentes que, a princípio, me parece um retrocesso. Educação lida
com formação, e Cultura tem relação com o povo, cultura mesmo. Olho com maus
olhos.
Carlos Vergara, artista visual:
A Cultura é uma coisa específica, e tem que ser tratada assim.
Transformar a Cultura em uma Secretaria do Ministério da Educação é andar para
trás cem anos. Diminuir o número de funcionários, perfeito. Mas isso não pode
significar tirar a ênfase nas áreas específicas. Cultura e educação são coisas
diferentes. Uma é para ensinar. Outra para engrandecer.
José de Abreu, ator:
Solicitei ao governo francês um visto. Me deram um especial de
residência chamado Competência e Talento com direito a trabalhar lá. Talvez por
isso a Cultura na França movimente sete vezes mais dinheiro que a indústria
automobilística. Aqui, o Temer quer acabar com a Cultura. Fechar o MinC mostra
o período de trevas que começa nesta sexta-feira 13. Piada maior que o 1º de
abril de 64.
Wolf Maya, diretor de TV e teatro:
Sinto que o nosso MinC que já ultrapassou a maior idade e que
sempre teve uma representatividade importante no processo cultural brasileiro,
nosso Ministério que representa e orgulha os criadores de cultura, possa voltar
a ser uma Secretaria do MEC. Como tantas Secretarias Estaduais que foram
perdendo a importância. É terrível!
Maria Adelaide Amaral, dramaturga:
Considero um retrocesso. Sou favorável à redução de ministérios,
mas a Educação já tem problemas demais para um ministro concentrar também a
pasta da Cultura. O mais provável é que ela, a Cultura, seja negligenciada.
Fernando Meirelles, cineasta:
Todo mundo acha que o Brasil precisa diminuir o número de
ministérios mas ninguém quer perder o “seu” ministério. Na cultura deve
acontecer o mesmo. Imagino que meus colegas tenderão a não gostar da idéia. Não
sei qual seria o plano e o que isso pode gerar de perdas para a produção
cultural, mas me ocorre que para a educação, estar mais ligada a cultura pode
ser interessante e ha maiores chances disso acontecer se houver uma cabeça
pensando ambas as áreas. Talvez nem seja tão bom para os produtores culturais
mas se for bom para a educação, se alunos tiverem mais acesso a cultura, já
estaria valendo. Vamos ver o que vem.
Sergio de Carvalho, diretor teatral e pesquisador:
A extinção do Ministério é a confirmação simbólica do próprio
golpe: uma manipulação da letra da constituição para reforçar o mando do
capital sobre a vida dos que trabalham. Signfica a imposição de critérios
econômicos, lógica do evento, eficácia de fluxo financeiros, anulação da
história, e combate policial ao direito a imaginar um mundo além da
forma-mercadoria.
Zeca Pagodinho, cantor e compositor:
A Cultura que já não era tão valorizada, vai perder ainda mais
força sem ter um ministério. E Cultura é uma das coisas mais importantes para
um país.
Walcyr Carrasco, autor:
Eu acho que o Ministério da Cultura não deveria perder sua
autonomia. A Educação é importantíssima, e o MEC deve ter todos os seus
esforços dirigidos para a educação, pois trata-se de uma grande lacuna no país.
Mas é preciso também um projeto cultural, que estimule a expressão artística
regional, inclusive. E para isso é preciso um Ministério da Cultura.
Eduardo Barata, presidente da Associação de
Produtores de Teatro do Rio:
Esta extinção significa um enorme retrocesso no desenvolvimento
econômico e social na história contemporânea do Brasil. No ano em que o MinC
completa 30 anos de existência, recebemos a notícia da fusão das pastas de
Educação e Cultura com muita apreensão e perplexidade. Cultura e Educação são
hastes de sustentação de uma nação, porém com dimensões de políticas públicas
completamente distintas em sua essência. Cultura é um símbolo da humanidade e
um dos principais legados da civilização. A Cultura não pode e não merece ser
tratada como uma mera lógica numérica de barganha política. O ministério da
Cultura é uma conquista da nação brasileira.
Rudifran Pompeu, presidente da Cooperativa Paulista
de Teatro:
Essa junção é muito ruim para a Cultura. É um retrocesso. O Minc
representa um espaço de disputa do pensamento simbólico, pois é nessa instância
que se coloca o debate sobre as dimensões das artes, é o espaço construído para
construção da cidadania e da preservação da cultura em seus aspectos mais
complexos. Então, nos colocar dentro da pauta da educação é apagar o
protagonismo que estamos tentando construir há anos. Não é possível que se
pense que cortar um ministério como esse vai mudar alguma coisa na economia ou
na saúde financeira do país. Vamos reagir contra essa decisão certamente. A
cultura precisa ser vista pelo setor político do país como algo tão importante
quanto a saúde e a educação. Sou completamente contra essa junção.
Paulo André Moraes, produtor cultural e criador do
festival Abril Pro Rock:
Um país com o potencial turistico cultural inexplorado como o
Brasil, ter o MinC fundido com o da Educação é deprimente. Só reforça o quanto
a cultura não é prioridade por aqui, antes fosse por um projeto estruturador de
levar a cultura, a lei da música pras salas de aulas, mas infelizmente, é por
cortes e absolura falta de entendimento político do nosso potencial global. Eu
que já passei por quase 500 cidades, em 26 países do mundo, 90% delas em turnê
com artistas brasileiros, vejo com um grande retrocesso, às vesperas das Olimpíadas,
uma grande vitrine mundial, e nós engessados por aqui.