Prof. Israel F. Araújo (blogueiro,
sindicalista, Trabalhador da Educação
e-mail: poemeiro@hotmail.com)
(Uma ilustração; somente isso)
Esta história que vou lhes contar se apresenta sob a forma de resumo de um fato
que, de verdade, acontece nestes brasis; que se dá bem pertinho de tod@s nós.
Trata-se de uma história real; não trago a você, desta vez, uma crônica ou um
conto literário.
Peço a vc que, se quiser ter mais elementos para lidar com esses
gêneros, leia a obra de Cândida Vilares Gancho, Como analisar
narrativas. Mas é uma simples sugestão. Para este trabalho, este de agora,
basta lê-lo e saber: a) que eu não pude dar os dados de endereço, instituição e
nomes de pessoas (pois lidar com adversários requer muito cuidado); b)
que as atrocidades cometidas contra uma excelente aluna (sua
conhecida ou não) podem acontecer com uma pessoa conhecida sua, talvez sua uma
filha ou sua uma sobrinha (proximidade é importante para sugerir dados de
subjetivação).
Tudo bem, vamos à “receita” (tom irônico): RECEITA DO INFERNO P/
MATAR BONS ALUNOS/AS (tem como conseguir?)
1 – Temos uma realidade de uma Escola básica pública, bem pertinho de
nós;
2 – Uma professora da área de humanidades
constrói orienta/sugere uma atividade didática (intenção de produzir
conhecimentos, saberes) e informa que podem ser usados aparelhos
celulares, para troca de informações entre estudantes, nesse momento da
atividade e somente para esse fim: a professora tem legitimidade para
indicar as atividades, ela tem liberdade de cátedra, nos termos
constitucionais;
3 – Existe lei estadual que veda o uso
de celulares (e congêneres) nas salas de aula, mas que possui
regulamentação específica, uma vez que os aparelhos celulares
(tablets e outros) podem ser usados para fins didáticos (inclusive
muitos excelentes professores/as usam os celulares, didaticamente, com seus
alunos, nas aulas e em atividades orientadas, em razão de as
"novas tecnologias" poderem e deverem ser usadas para auxiliar o
Professor/a em seu fazer educacional: em excelentes Cursos de
Pós-Graduação que têm finalidade de construir alternativas para a
melhoria da qualidade da educação básica, tais como Mestrados e Doutorados em
Educação, há disciplinas, projetos e linhas de pesquisa que se dedicam
ao debate e à reflexão sobre o uso de tecnologias educacional). Nesse caso,
uma parada forçada: por que escolas básicas públicas do Pará iriam impedir que
Professores/as fizessem bom uso dessas ferramentas?; voltemos à
"receita";
4 – Os alunos em questão, sob orientação,
presencial, inclusive, da professora realizam a atividade
requerida e usam seus celulares: o caso é "denunciado" aos
superiores(??) da escola pública (que não é estadual, é de outra esfera
administrativa);
5 – Autoridade da “direção” vem tomar o celular, não de
todos os alunos/as, mas especificamente de uma aluna;
6 – O celular da aluna é
apreendido, tomado da mesma, sem o consentimento dela, exatamente
como num assalto: é um um crime de apropriação indevida (apropriação
indébita);
7 – O bem da aluna (assim como, em
seguida, de outros alunos), seu celular, um bem
intransferível (os de outros, tbm) fica preso, sem que haja
uma legislação que permita esse roubo, essa apropriação (exatamente: um
assalto). Aqui, outra parada forçada: essa autoridade(??)
não tem legitimidade democrática, não passou por processo aberto de eleição,
mediante votos da comunidade educacional (como determina legislação municipal
específica para esse fim);
8 – A aluna segue, por vários dias, sem seu bem
(comunicação entre familiares, pesquisas escolares, trabalhos de escola,
informações sobre consultas médicas, pagamentos de contas, recebimento de
informações de familiares que moram distantes, todos esses e outros eventos,
ficam travados);
9 – A mãe da aluna tenta receber o celular
tomado, e por vários dias, sem sucesso; por fim, quase dez dias
depois, a genitora é constrangida diante de umas 3 ou 4 pessoas; na sua
frente, alguém pode dizer, sem apresentar prova alguma, que
sua filha se envolveu com drogas na citada escola (a dona do celular
já é pessoa de 18 anos; no período da atribuição da Calúnia,
sobre as drogas, a mesma era de menor);
10 – Nem a mãe e nem a aluna (maior de idade) foram à
Polícia para registrar Boletim de Ocorrência em relação ao roubo do celular,
nem em relação ao crime de Calúnia/difamação;
11 – O celular é recuperado, após longo período de
sofrimentos;
12 – A aluna, e outras pessoas que viessem a passar por
essa situação (cf. itns 2, 4 e 5), entra em sofrimento íntimo, psíquico,
passa a apresentar sintomas de desânimo, demonstra estado inicial
depressivo. Sua decisão é de sair da escola, a família toda se envolve e
vivencia essa realidade. A mesma tem de se afastar de seus familiares e
ir estudar longe, morando fora de seu lar, unicamente em razão dessas
atrocidades (não exatamente o roubo do celular, o que já é quase
uma regra nestes tempos, mas as ofensas, o ataque a sua honra,
pela acusação de se envolver com "drogas na escola");
13 – As autoridades do sistema educacional não exoneram
os envolvidos, nem os “políticos”, que verdadeiramente investem tais “autoridades”
escolares, tomam medida; tudo segue como em panos quentes. No fritar de tantos
ovos, a estrutura de governo se preserva, à custa de arrebentar a saúde e o bem
estar de alunos e alunas;
14 – O motivo dessa atrocidade?
R: Em momentos anteriores de estudos, na mesma escola e envolvendo a mesma
estudante, outra professora da área de humanidades orientou um trabalho de
escola, a se realizar em sala de aula, no modelo de um Debate, onde grupos discutiam
sobre a realidade educacional. Nesse debate, a mesma aluna se manifestou
sobre a realidade dessa instituição de ensino, destacando o fato que, “em
muitas vezes”, não “se acha alguém da Direção” para tratar das questões
cotidianas da escola, e fez outras ponderações dentro de um perfil de análises
sociológicas, ancoradas no espírito da Democracia na educação brasileira (foi
um debate antes de Jair Bolsonaro se eleger “presidente” do Brasil): eis os
dados unicamente possíveis de explicação para as atrocidades listas nesta “receita”.
CONCLUSÃO:
15 – Juntar os ingredientes e
mexer à vontade, empurrar o que puder para debaixo dos tapetes, articular “políticos”
que burlam as leis para poder proteger as “autoridades” escolares;
16 – Deixar
os pais/responsáveis de alunos inertes, não haver reclamações às autoridades e
nem registros à Polícia Civil e, assim, produzir comodismos e tentar matar o
espírito crítico dos alunos para, por fim, produzir uma sociedade planejada por
(neo)nazistas e fascistas, no perfil desejado por todos aqueles que não querem
experimentar a vivência democrática, pois nesta o debate é imprescindível; por
isso, usar as “novas” tecnologias em sala de aula é altamente perigoso, pois
pode ajudar esses alunos a pensar.
Por isso, quem sabe, é preciso (nas
cabeças desses bolsonaristas, bolsonarianos) acabar com Filosofia e
Sociologia da educação básica pública. Pensar é se lançar ao desconhecido, ao
perigoso; criticidade pode abalar estruturas do tipo arranjos políticos
e pode, até, fazer “caciques” perderem votos nas eleições locais.
Inv(f)erno na Amazônia do Pará
Se prega" muito ser: democracia,critico etc..mas infelizmente vivemos essas realidades.
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