Em 2024, novamente, não há mulher para ganhar a Prefeitura Municipal. Essa é uma afirmação, no mínimo, problemática; mas não surreal. Em primeiro lugar, tal não significa uma "verdade"; no máximo, pode ser uma vontade de se fazer verdadeira. Além do mais, nada sabemos sobre os amanhãs político da terra do Açaí. Junto a isso temos de considerar que, durante o pleito e legalmente, há possibilidades várias de substituições de candidatos; isso, até certo momento e conforme condições definidas em termos de leis e normas. Mas, essa esticada acho que não leva a nada. Voltemos ao ponto.
Por que não há mulher na "cabeça" de chapa, podendo ganhar a prefeitura? Isso já aconteceu em 2004, quando Dilza Pantoja venceu Lula (PP), Pina (PT) e outros. Foi uma experiência ruim demais para esta terra de Sant'Ana; e olhe que eram duas mulheres (Carmem Pantoja era a vice). Dilza perdeu a reeleição e Roberto Pina sagrou-se vencedor (juntamente com Francisco Pantoja, filho da mesma Carmem). Depois, homens e homens venceram; antes de Dilza, homens e homens. Assim como em 2020, neste pleito para a cadeira de prefeito(a), só homens concorrem. Espere um pouco.
Em 2020, 7 homens encabeçavam: Pina (PT), que venceu com Marcelo Corrêa; Antoniel Miranda (Pros) veio com a vice Carmozinha; Darinho Pantoja (PL) veio com Marília Miranda; Toninho Pesado (MDB) trouxe Joca Pantoja; Isaac Fonseca (Psol) veio com Garrincha; Aladim Martins (PV) veio com Dilma Maciel e João Batista Matos (PMB) trouxe Jesus [Maria de Jesus Oleastre] como vice. Exatamente, o Partido da Mulher Brasileira (35), em 2020, para ter uma mulher candidata, teve de deixá-la na condição de vice. Portanto, de 14 candidaturas, tinha-se apenas 4 mulheres (todas para vice-prefeita).
Em 2024, opositores(as) de Roberto Pina não conseguiram formar chapa única e, assim, 4 homens encabeçam a corrida à prefeitura: Pina (PT), que novamente vem com Marcelo Corrêa. Aí, surgem dois novos nomes na "cabeça" das chapas: Keynes Silva (União Brasil) traz Darlene Pantoja como candidata a vice. Mas a mesma sequer foi escolhida em convenção (a mulher relegada a plano secundário, diria vc); Silva anunciou o policial militar Hilton. Fez enormes barulhos e se mostrou efusivo, no ato do anúncio; Hilton sacudiu os braços na demonstração de forças, mas, ao ver o desenrolar dos fatos, encontrou-se "descartado" politicamente e Darlene Pantoja é registrada em "seu" lugar. Por quê? Talvez as mínimas forças políticas atribuídas a Sra Dilza possam explicar essa tática (Darlene é irma de Dilza); o certo é que quem escolhe outra "noiva" está insinuando que quer ser mais mais feliz com a eleita (Silva usou as redes sociais para justificar a troca; disse que o PM não teria se afastado das funções policiais, a tempo; mas se tal foi a "verdade", possivelmente já desligou a assessoria jurídica). Mas o sr. Hilton precisava passar por esse constrangimento?
O outro "novo" nome na corrida é o Vereador Ir. Nenca (Progressistas). Está em seu terceiro mandato e agora concorre a prefeito; traz como candidato a vice o odontólogo Lucas marques (vc lembra da história envolvendo o médico Alessandro Lobato, que seria o "vice"; relembre, clicando AQUI). O quarto nome na disputa majoritária deste ano é João Batista Matos (PMB) que traz Binho da Tradição como candidato a vice. Exatamente, o Partido da Mulher Brasileira, em 2024, traz, na condição de vice, outro homem. Portanto, de 8 candidaturas, apenas a Sra Darlene concorre, mas como vice...
O sr./Sra já entendeu, não é? Parece que a elite política, no Miri, não encontra mulheres para liderar processos; se as enxerga (com exceção de 2004), é para ser vice-prefeita (Carmozinha venceu com Pina, em 2015, para mandato de 18 meses). Vice-prefeito(a) é condição mais do que digna; não se discute esse ponto. Mas é justo e coerente levantar a seguinte "tese": a elite política só trata as mulheres, em termos eleitorais e perspectivas de governo, de modo secundário; quando as vê. É um argumento plenamente discutível (esteve à vontade para recorrer à História, analisar, refletir e escreve; toh pronto a ler seu post), mas plenamente possível de ser posto. No horizonte, não há sinais de que o candidato Keynes fará a troca (vindo ele a vice, Darlene à prefeita); nem Ir. Nenca, nem Pina, nem Batista.
Pois bem, em outros lugares... Como forma de anotar uns exemplos, veja-se que em Abaetetuba duas mulheres devem ganhar a prefeitura: a atual prefeita Francinetti (atualmente MDB) vem com Edileuza (PT) de vice; em Moju, o professor Gerson Dourão é favorito a ganhar, e "seu" vice é outro homem; em Acará, a perspectiva é quem não vá pra balsa dos derrotados seja o Pedrinho da Balsa (MDB), que ganharia com um nome de Beto Faro (PT), na condição de vice; Cametá deve dar novamente a cadeira ao MDB/Vitor Cassiano e Barcarena deverá ter uma das maiores "lavadas" de nossa região, com Renato Ogawa (Progressistas) sendo reeleito.
Por que, no Miri, PSOL, PSB, UP (Unidade Popular), PC do B, PDT - para citar alguns - não trouxeram, ao menos eles, candidatas na corrida e na linha de frente? Nem é bom comentar (é justo anotar, porém, que o UP ainda não está organizado, neste município). Talvez seja justo encerrar estas breves notas dizendo que se trata de um apagamento da força política feminina, uma demonstração de que, no Brasil (que teve apenas uma mulher, presidenta: Dilma Rousseff, de 2011 a 2016), a mulher está sendo pouco a pouco jogada aos escanteios políticos, que o machismo e o patriarcado reinam e que - com a fúria da extrema direita, suas violências e seu crescimento - esse "tratamento laranja" tende a se intensificar, pois os chefes e líderes dos acordos são majoritariamente homens e bastante autoritários (quando definem uma mulher na "cabeça de chapa" já o fazem lá por cima).
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Israel Fonseca Araújo, é professor e escritor; editor-fundador do Blog Poemeiro do Miri