Prof. Israel Araújo(*) –
poemeiro@hotmail.com
A
Rede Globo de Televisão (e outras coisas não declaradas?) exibiu, no ano de
2012, uma telenovela “das” nove (21h), intitulada “Salve Jorge”, uma produção
que contava a mesma história contada por todas as novelas desse horário, com
atores e atrizes prestigiados, sedutores(as), triângulos amorosos e muitas
simulações de senas de sexo – isto para faturar audiência maior e maior volume
financeiro com os comerciais da “KIA” e outros apoiadores desse conglomerado midiático.
Posicionamento
diferente pode ser encontrado na enciclopédia mais visitada destes tempos, que
afirma:
A
novela falou sobre a fé e a devoção a São Jorge, e abordou também o tráfico ilegal e escravização
de garotas no exterior, resultando numa grande campanha de esclarecimento da
população sobre o modus operandis dessas máfias, estimulando denúncias
que resultaram no desbaratamento de quadrilhas e na libertação de muitas
brasileiras que vinham sendo mantidas como escravas sexuais no exterior. A
novela teve como núcleo central o Complexo do Alemão, além
da Capadócia, região da Turquia onde São Jorge nasceu(...) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Salve_Jorge;
acesso: 17/06/2014 – grifos meus).
Não
nos parece uma inverdade essa afirmação quanto ao “papel social” que pode
exercer uma telenovela exibida por um canal tão poderoso quanto esse. Até dizemos
que tal equivale a uma verdade.
A
Capadócia de fato existe, como podemos constatar na seguinte passagem:
CAPADÓCIA(**)
Um
céu colorido de balões dá “bom-dia” todas as manhãs aos visitantes da
Capadócia, na Turquia. Eles vão surgindo às dezenas no horizonte, quando o sol
nasce. Antes do primeiro raio soa dos minaretes o chamado para a reza - uma das
cinco que os muçulmanos devem fazer. O dia vai tomando cores surreais e a
paisagem vai se revelando.(...) A Capadócia fica a 700 km de Istambul e 300 km
da capital Ankara, e não sem razão é uma das regiões mais procuradas pelos
turistas na Turquia. Na verdade, já se destacava desde as eras mais remotas.
Foi terra dos hititas (cerca de dois mil anos antes de Cristo),
frígios, assírios, medos, cimérios e persas. Foi assediada por Alexandre, o
Grande, e província do Império Romano. Depois respondeu aos impérios bizantino
e otomano. Guerras, intrigas e perseguições moldaram sua história assim como a
ação do vento e a atividade vulcânica deram os contornos da paisagem que se vê.”
Pois
bem, quando a TV Globo exibia a sua “Salve Jorge” (devoção da personagem
principal) nosso Igarapé-Miri ganhou,
graças aos esforços da eficiente gestão do petista Roberto Pina Oliveira, um condomínio popular, o Residencial “Açaí
Lar”, que pertence ao Programa “Minha Casa, Minha Vida” (PMCMV), do governo
federal. Foram muitas centenas de casas construídas à margem da PA-151, quase
caindo na beira do rio Igarapé-Miri.
Até
aí, tudo bem, não fosse uma horrorosa bolada nas costas de nossa história, nossa
cultura, nossa economia e, logo, nossas identidades (nada está tão ruim que não
possa piorar, não é mesmo?): por causa das cenas picantes(?) da citada produção
global as pessoas começaram a chamar o citado condomínio de “Capadócia” (começaram
a ser produzidos enunciados do tipo: “Ah, eu lá na Capadócia”, “Minha irmã ‘ganhou’
uma casa lá na Capadócia”, ou “Eu
tava tomando umas lá na Capadócia”...
E o nosso residencial Açaí Lar (nome escolhido em votação) deixou de ser uma
identificação e uma saudação a nossa cultura, pois este município é cantado
como “A Capital Mundial do Açaí” – graças ao trabalho dos legítimos trabalhadores(as)
da cultura do açaí – para se transformar numa saudação à manipulação ideológica
mais poderosa que a Globo pode fazer com os seus telespectadores mais
desavisados(as).
Consequência:
como se diz nesta Terra (ainda se diz, mas essa cultura está em ruínas, pois
tem poucos representantes), “a cagada já tá feita e fedendo muito”. Deixaremos
que uma instância da mídia venha a mandar em nossa história, venha decidir até
os modos de nominalizar os nossos territórios – que são territórios de nossas
intimidades coletivo-individuais?
Vejamos
este fato. Uma vez eu queria namoros com uma moça muito das bonitas e,
acreditando que eu tinha chances reais de sucesso na empreitada, dei o “ponta-pé”
inicial, ao que ela respondeu: “Isso não pode acontecer”, com a devida
segurança requerida para uma situação de “saliência” dessas. Ora, não existe “Capadócia” em Igarapé-Miri.
Nenhum de nossos bairros se chama dessa maneira, nem distrito administrativo
algum tem essa identificação. Vamos parar de aplaudir quem nos humilha dia si,
outro talvez.
Já
esquecemos de como os paraenses fomos tratados por essa emissora? Somos, mesmo
e de fato, “bichos” que não conhecem computador e nem praias de areia, nem o
Marajó, Salinas, Mosqueiro e outras?
_________________
(*)
Professor e professor; cursa Mestrado Acadêmico em Letras na Universidade
Federal do Pará (UFPA, 2013-2015).
(**)
Fonte: http://viagem.uol.com.br/guia/turquia/istambul/roteiros/capadocia-surpreende-com-rochas-inusitadas-e-cidades-subterraneas/index.htm
(acesso em 17/06/2014).
Professor Israel foi algo que começou como uma brincadeira devido acharem que o novo residencial era muito longe, por isso falavam: "lá na capadócia". Se formos verificar não existe bairro das cinco bocas, bairro da baixa verde, bairro do rola papo, etc... O residencial Açai Lar vai constar nos documentos oficiais mas para o povo todo mundo vai "lá pra capadócia". Abraços meu querido.
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