Por: Ericson Aires
(Foto: Dany Maciel)
Eram 23h30 do dia 26
de julho de 2015, um Domingo, dia da Santa Padroeira da Cidade de Igarapé –
Miri: Nossa Senhora Santana. Na praça da matriz uma multidão aguardava ansiosa
pelos tradicionais fogos de artifícios – da roda gigante se via gente por todos
os lugares, o largo estava colorido, as pessoas se esbarravam, se puxavam, se
cumprimentavam e até tinham uns que arriscavam um aperto de mão ou um abraço.
Até parecia que era Natal. A bandinha agitava.
No trapiche o garçom
atendia mais um pedido, já cansado, parecia querer dormir, ele, não estava se
importando com os fogos - foram 10 dias intensos de trabalho, a família inteira
estava na empreitada, vendendo, cobrando, abrindo e fechando prosdócimo,
empilhando grades, ufa, quanto serviço. Sua família é só gratidão, a empreitada
teve bons lucros. Um tal de ‘Projeto Meio – Dia” veio reavivar a festa e,
principalmente, a tradição.
Festa que nos olhos
de muito estava esvaziada, sem gente, sem os conterrâneos que moram longe e não
vieram. A desculpa, o medo. Houve até boatos que a cidade se chamaria a capital
mundial do medo ao invés de se chamar a capital mundial do açaí. O medo. Um
medo que aprisiona, faz as pessoas reféns delas mesmas, sem perceber, a cidade
que se alembra, também é a cidade que se esquece.
Numa parte estão as
pessoas que se alembram, confrades, sabem das suas vidas e até compartilham
delas, são irmão e padecem do mesmo medo. A outra não, aqui ninguém conhece,
ninguém quer conhecer, não são confrades, muito menos irmãos – eles brigam e se
matam entre si, aqui já nascem inimigos, inimigos deles, inimigos da parte da
cidade que se alembra. De repente o céu começa a ficar colorido, é os fogos, a
multidão extasiada grita e comemora, ao som da bandinha todos se despedem
rapidamente da Santa. Num piscar de olhos a praça se esvazia.
Um mar de gente
caminha pela Generalíssimo Deodoro, saem dos "guetos", são os
inimigos da cidade, as pessoas que ninguém quer ver, os lixos da cidade
esquecida e que não existe, a cidade que só existe em época de campanha eleitoral
e que por motivo algum poderiam participar da festa. Nem mesmo de um Super Pop.
Foto de Danny Maciel.