domingo, 25 de julho de 2021

PODEROSO SOCO “AMIGO” (Crônica) : post #768

(Israel Araújo, Academia Igarapemiriense de Letras)

 

Ilustração dos fatos

Como sempre, vou lhes contar o fato, sem mostrar o rabo do gato. Era a sexta e o desejo de ir ali era grande, mais de dois anos sem sair, ir a festas ou coisas assim. Antes, devo dizer que se trata de fato real, vivido; vívido na lembrança. A decisão foi sair, com duas doses de AstraZênica no lombo, muita fé e esperança no peito e a tática de se esconder da temida Delta.

 Sou declaradamente muito amante das loiras, mas o dinheiro anda curto e os planos vão sendo abafados, diminuídos; gosto da Devassa, da mesma forma que das Skol, Brahma, Petra e tantas delas. Minha queda por ela tem nada de quedinha, e meu coração bate forte mesmo é por uma puro malte.

Fui, já era perto das onze – e é justo logo dizer que cheguei bem perto das dezessete, no escaldante verão do julho amazônico; e haja novidades a aparecerem. Teve de tudo um pouco, até o sobressalto quando perdi parte dos óculos; quando veio o preço das duplo malte e até das vizinhas Tijucas. No entanto, quem tá na chuva...

Fato, também: muitas boas coisinhas se apresentam, tem muito de bom nesta nossa vida; muito. A felicidade de estar com os primos, muito especialmente o Nico, cara pra lá de incrível, coração dos excelentes Fonsecas, com meu garoto sorridente, criativo e inteligente, fazer as surubagens com as geladas, as muito geladas. Das frias e frígidas, temos de fugir. Altos papos, trocas de ideias, exposição de planos: as festas causam, dão vazão a muitas sensações; quando se dá, o coração tá imenso e quente; ou frustrado, tbm.

 Nem tudo são flores. Perto do Restaurante, fui pesquisar opções e preços; lá estava o amigo, cara bacana; não é desses de dizer “Nossa, mas que amiiiiigo”, mas é um "amigo", profissional das artes, cabra viajado, que conhece outros estados e outras culturas (ou outros aspectos de uma fascinante cultura brasileira); lá estava ele, foi visto ao longe; olha o fulano ali, vou dar um “oi” pra ele e tal. Aquela alegria invadiu o peito, as loiras ajudam a gente a ampliar as redes humanas! Amigos, amigos, melhor tê-los, independente do tamanho, da Estatura ou da envergadura moral.

Um cumprimento amigável, aquele conhecido tapinha no ombro, antes de a fera ver a gente de cara; nossa tradição paraense de ser um pouco atirados. Pura sorte minha, o cara é baixinho, franzino. Assim que ele virou e me viu, desferiu violento soco, sim, um murro forte e certeiro no meu peito, à altura da encruzilhada tórax/ombro. Que sensação estranha, gente: nunca tinha experimentado, a cabeça da gente vai a mil. Entendi que era o máximo de forças que o cara poderia dar, de si, e contra mim, naquele momento.

 De ímpeto, aprumado, o artista passou a falar palavras ásperas na minha direção e explicava verbalmente seu ato, justificava o soco, eu só ouvia. Inexperiente em termos de violências físicas na idade adulta, reagi com um maravilhoso silêncio, não teve a surpresa (agora, minha) de revidar e dobrar o tamanho da agressão (sou quase em dobro, em relação às forças físicas, comparado ao artista); as pessoas à minha volta, meio sem saber se torciam por uma reação minha, à altura do fato. Claro que muitos não se ligaram, pois a dedicação da gente, nesses momentos, é ser feliz. Acho que o fato de ser eu um tanto conhecido na terrinha miriense, fez com que tantas pessoas esperassem que eu não desse um soco nos olhos, nas fussas do cabra; cara, dói, agora sei que isso dói. Seguimos os planos de se alegrar; seguimos, eu e meus botões, mais o tico e o teco.

 Fim de tarde, já de volta, em casa muitas coisas e tarefas domésticas, organizar lugares de redes, esperar pessoas muito amigas, queridas. Noite, futebol, lá vem um forte e violento chute contra o nosso gol, meu colega não pensou três vezes: mandou bala em direção ao gol, quem estava na frente? Quem? Sim, eu, eu. Gosto de sangue na boca, aquele gosto de cuspe sangrando ou sangue cuspido na boca. A sorte não tava pra cá, não. Melhor comprar mais umas loiras e estender os papos umas horas mais.

Muita fome, necessidade de repor energias perdidas. Às portas da madrugada, é hora de jantar. É isso, vamos. Meu cunhado fazendo a janta, eu olhando a enorme faca perto dele, nada de bater tapinha no ombro dele pra perguntar algo, nem pensar. Medo, medo.

Curiosidade aqui: quando o “amigo” surgir, outro dia, como se nada tivesse acontecido, vier cumprimentar esse humilde professor, que fazer?


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