(Israel Araújo,
Academia Igarapemiriense de Letras)
Ilustração dos fatos
Como sempre, vou lhes contar o fato, sem mostrar o
rabo do gato. Era a sexta e o desejo de ir ali era grande, mais de dois anos
sem sair, ir a festas ou coisas assim. Antes, devo dizer que se trata de fato
real, vivido; vívido na lembrança. A decisão foi sair, com duas doses de
AstraZênica no lombo, muita fé e esperança no peito e a tática de se esconder
da temida Delta.
Sou declaradamente muito amante das loiras, mas o
dinheiro anda curto e os planos vão sendo abafados, diminuídos; gosto da
Devassa, da mesma forma que das Skol, Brahma, Petra e tantas delas. Minha queda
por ela tem nada de quedinha, e meu coração bate forte mesmo é por uma puro
malte.
Fui, já era perto das onze – e é justo logo dizer
que cheguei bem perto das dezessete, no escaldante verão do julho amazônico; e
haja novidades a aparecerem. Teve de tudo um pouco, até o sobressalto quando
perdi parte dos óculos; quando veio o preço das duplo malte e até das vizinhas
Tijucas. No entanto, quem tá na chuva...
Fato, também: muitas boas coisinhas se apresentam,
tem muito de bom nesta nossa vida; muito. A felicidade de estar com os primos,
muito especialmente o Nico, cara pra lá de incrível, coração dos excelentes
Fonsecas, com meu garoto sorridente, criativo e inteligente, fazer as surubagens com as geladas, as muito
geladas. Das frias e frígidas, temos de fugir. Altos papos, trocas de ideias,
exposição de planos: as festas causam, dão vazão a muitas sensações; quando se
dá, o coração tá imenso e quente; ou frustrado, tbm.
Nem tudo são flores. Perto do Restaurante, fui
pesquisar opções e preços; lá estava o amigo, cara bacana; não é desses de
dizer “Nossa, mas que amiiiiigo”, mas é um "amigo", profissional das
artes, cabra viajado, que conhece outros estados e outras culturas (ou outros aspectos de uma fascinante cultura brasileira); lá
estava ele, foi visto ao longe; olha o
fulano ali, vou dar um “oi” pra ele e tal. Aquela alegria invadiu o peito,
as loiras ajudam a gente a ampliar as redes humanas! Amigos, amigos, melhor
tê-los, independente do tamanho, da Estatura ou da envergadura moral.
Um cumprimento amigável, aquele conhecido tapinha no
ombro, antes de a fera ver a gente de cara; nossa tradição paraense de ser um
pouco atirados. Pura sorte minha, o cara é baixinho, franzino. Assim que ele
virou e me viu, desferiu violento soco, sim, um murro forte e certeiro no meu
peito, à altura da encruzilhada tórax/ombro. Que sensação estranha, gente:
nunca tinha experimentado, a cabeça da gente vai a mil. Entendi que era o
máximo de forças que o cara poderia dar, de si, e contra mim, naquele momento.
De ímpeto, aprumado, o artista passou a falar
palavras ásperas na minha direção e explicava verbalmente seu ato, justificava
o soco, eu só ouvia. Inexperiente em termos de violências físicas na idade
adulta, reagi com um maravilhoso silêncio, não teve a surpresa (agora, minha)
de revidar e dobrar o tamanho da agressão (sou quase em dobro, em relação às
forças físicas, comparado ao artista); as pessoas à minha volta, meio sem saber
se torciam por uma reação minha, à altura do fato. Claro que muitos não se
ligaram, pois a dedicação da gente, nesses momentos, é ser feliz. Acho que o
fato de ser eu um tanto conhecido na terrinha miriense, fez com que tantas pessoas
esperassem que eu não desse um soco nos olhos, nas fussas do cabra; cara, dói, agora sei que isso dói. Seguimos os
planos de se alegrar; seguimos, eu e meus botões, mais o tico e o teco.
Fim de tarde, já de volta, em casa muitas coisas e tarefas
domésticas, organizar lugares de redes, esperar pessoas muito amigas, queridas.
Noite, futebol, lá vem um forte e violento chute contra o nosso gol, meu colega
não pensou três vezes: mandou bala em direção ao gol, quem estava na frente?
Quem? Sim, eu, eu. Gosto de sangue na boca, aquele gosto de cuspe sangrando ou
sangue cuspido na boca. A sorte não tava pra cá, não. Melhor comprar mais umas
loiras e estender os papos umas horas mais.
Muita fome, necessidade de repor energias perdidas. Às
portas da madrugada, é hora de jantar. É isso, vamos. Meu cunhado fazendo a
janta, eu olhando a enorme faca perto dele, nada de bater tapinha no ombro dele
pra perguntar algo, nem pensar. Medo, medo.
Curiosidade aqui: quando o “amigo” surgir, outro
dia, como se nada tivesse acontecido, vier cumprimentar esse humilde professor,
que fazer?
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