Nota: Texto publicado, de início, no Jornal Miriesnse, de junho de 2012.
Prof. Israel Fonseca Araújo(*)
Nesta edição
do “Miriense” eu deveria tratar de algumas intervenções pedagógicas que a
escola estadual “Enedina Sampaio Melo” tem levado à frente, através de Projetos
de Pesquisa – e falaria sobre o MAC, que tem mais o que dizer, nesse aspecto,
do que a nossa Enedina (fica para uma
próxima oportunidade). Mas aí apareceu o até.
Ele mesmo. E tenho de falar sobre ele.
Li outro dia,
no jornal Diário do Pará, impresso (11/05/12,
p. B1), que nas gravações da Operação “Monte Carlo” (da Polícia Federal) são
citadas, nos telefonemas interceptados, vários agentes públicos (Vereadores,
Deputados, Senadores, Secretários... até a Presidente Dilma Rousseff).
Vejamos, em
citação direta: “PF diz que 81
autoridades são citadas nas escutas. Brasília
– AE. O delegado Matheus Mella Rodrigues afirmou, na sessão reservada da
CPI do Cachoeira, que durante as intercepções telefônicas feitas na Operação
Monte Carlo há 81 autoridades com foro especial citadas nas conversas. Na
lista, constam vereadores, deputados federais e estaduais, senadores, secretários
de estado, ministros do Supremo Tribunal Federal e até a presidente
Dilma Rousseff.” (grifei)
Segundo disse
esse delegado da PF, há muita gente que é citada nessas interceptações
telefônicas (quase 100), a começar por Vereadores(as) e chegando à figura de
Dilma Rousseff. Sabemos que, em termos de poder político-partidário,
legisladores que trabalham(!) a nível de Município têm menos “força” do que os
Senadores(as) – inclusive estes representam os estados; são apenas 81 em todo o
país: já Vereadores(as)... Percebamos que os agentes públicos são citados em
escala crescente (numa figura “poética” que
chamaríamos de gradação; viu, meu filho Giovanni?), partindo “dos menores”
para “a maior”.
Quem nos
garante que tal seja verdadeiro? O até. Sim, ele mesmo: não
contavam com a sua “astúcia”? Desse tamanhinho e poderoso, já que é ele que nos
confirma, linguisticamente, que o tom discursivo é ascendente, está em
ascensão. Faz-se um escalonamento que vai do primeiro degrau ao último, entendendo-se, nesse caso, que os ministros(as)
do STF e a Chefia do Executivo Federal são o topo dessa pirâmide – inclusive
esses ganham os maiores salários do funcionalismo público brasileiro, salvo
engano meu.
Viram como
esse “zitito”, o até (tão
desprezado por aqueles professores(as) que somente valorizam a nomenclatura
gramatical brasileira e a descrição da escrita culta formal/literária), tem muito poder dentro de nossas discursividades?
Até porque o discurso tem marcas que são somente suas: a sua materialidade se
dá a nível de linguagem e é marcado pela historicidade (e que momento histórico
este nosso!).
Aprendamos
esta lição, do até, para
deixarmos de menosprezar “os pequeninos” – ou aqueles que parecem, numa
primeira leitura, pequenos.
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(*) ite o ww.recantodasletras.uol.com.br/professorisrael
e http://www.facebook.com/israel;
co-autor de “Escritos em Verso & Prosa” (2010).