Pará não leva a sério ameaças, diz OAB
(Diário do Pará)
(Jarbas Vasconcelos, pres. OAB Pará)
A
advocacia está se tornando, cada vez mais, profissão de risco no Pará. De 2011
para cá, nove advogados foram assassinatos em crimes com fortes indícios de
execução por encomenda. Outros oito estão em uma lista de ameaçados, segundo
levantamento preliminar, feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Pará
(OAB/PA) e já entregue às autoridades da área de segurança no Estado.
O
caso mais recente ocorreu no sábado, 24, em Manaus no Amazonas. O presidente da
subseção da OAB no município de Parauapebas, sul do Estado, Jakson Souza e
Silva, foi alvejado por um tiro de escopeta no abdômen. Chegou a ser socorrido
e levado para o hospital, mas não resistiu.
O
titular da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros do Amazonas,
delegado Ivo Martins confirmou ao DIÁRIO, por meio da assessoria de imprensa,
que segue duas linhas de investigação. A primeira é tentativa de assalto, embora
os dois homens que usavam uma moto não tenham levado pertencentes do advogado.
A Polícia não descarta também uma execução encomendada, “já que a vítima
recebia muitas ameaças no Estado onde residia”. O delegado informou que, até o
momento, as investigações não apontaram suspeitos. Dez pessoas já foram ouvidas
entre amigos de Jakson e testemunhas.
A
possibilidade de uma exceção do presidente da subsecção da Ordem em Parauapebas
reacendeu o debate em torno da ação de grupos de pistolagem atuando no Estado.
“Há grupos em Marabá, Altamira, Itupiranga, Itaituba, Tomé- Açu”, denuncia o
presidente da OAB secção Pará, Jarbas Vasconcelos.
A
entidade denuncia também a falta de solução para os crimes e acusa a polícia do
Pará de não ter empenho nas investigações, o que já levou o Conselho Nacional
da Ordem a aprovar uma denúncia contra o Estado à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) por conta dos
“reiterados casos de violência contra advogados no Pará”. Nesta semana, o
assunto deve voltar a ser discutido pelo Conselho Nacional.
CASOS SEM SOLUÇÃO
Um
dos casos ainda não solucionados é do advogado Dácio Antônio Gonçalves Cunha.
Dácio foi morto em novembro de 2013. O crime ocorreu em frente à casa do
advogado no início da noite. Ele esperava a entrega de uma pizza quando foi
alvejado por dois homens sem capacete que dispararam e fugiram. “O que a
Polícia descobriu? Não sei. A polícia do Pará tem uma estrutura de inteligência
muito boa, mas falta determinação, engajamento. Falta levar as investigações
até o final”, afirmou na semana passada o Jarbas Vasconcelos em reunião com o
atual secretário de segurança do Pará, general Jeannot Jansen. Dácio era
vice-presidente da OAB subseção Parauapebas, a mesma que era presidida por
Jakson.
Em
janeiro do ano passado, o delegado geral da Polícia Civil do Estado do Pará,
Rilmar Firmino Sousa recebeu correspondência da OAB/Pará informando que o então
presidente da subseção de Parauapebas estava sob ameaça de morte. O caso havia
sido registrado por meio do disque-denúncia da cidade. “O que chamou a atenção
foi o fato de que um dos integrantes da famigerada lista [de marcados para
morrer], o jornalista Wandernilson Santos da Costa, conhecido como Popó, que
era um dos clientes do referido advogado, foi alvejado por dois pistoleiros no
dia 13 de janeiro pela manhã, ao sair de sua residência para trabalhar”,
detalha a carta enviada ao delegado geral. Popó sobreviveu à tentativa de
assassinato.
“Pela
gravidade da denúncia e potencialidades da ameaça, a OAB/PA requer a Vossa
Excelência que adote todas as providências necessárias à apuração”, pedia a
Ordem na correspondência. Na semana passada, Jarbas Vasconcelos desabafou. “No
Pará, não apuram ameaça. Não levam a sério”, disse.
CRISE NA SEGUP
As
cobranças da OAB para o Estado geraram mal-estar no comando na segurança
pública. Na última segunda-feira, em uma visita de cortesia à Ordem, o atual
titular da Segup afirmou estar constrangido com as cobranças. “É uma situação
muito constrangedora. Eu não vim preparado para discutir esse assunto que é
extremamente delicado e importante demais para eu tratá-lo sem conhecimento de
causa”, disse Jansen, prometendo voltar à entidade para tratar das denúncias.
“Já estou ciente de alguns assuntos que dizem respeito a esse tema e pretendo
tratá-lo com o senhor, oportunamente no local adequado de tal maneira que eu
fique um pouco mais confortável”.
Nas
redes sociais, defensores do governo alegaram que a cobrança foi injusta porque
o assassinato de Jakson ocorreu no Amazonas. Mas as várias ameaças sofridas por
Jackson no Pará registradas junto as autoridades locais fortalecem a tese de
que o crime teria sido encomendado no estado e cometido por pistoleiros que
atuam na região onde Jackson atuava. Além disso, os vários assassinatos e
ameaças não apuradas jogam o caso no colo das autoridades paraenses.
Na
semana passada, o DIÁRIO tentou ouvir o titular da Segup, mas até o fechamento
desta edição não havia obtido resposta.
(Diário
do Pará)