(Professora Gracilene Ferreira; arquivo pessoal)
Os tempos atuais são
emblemáticos, em termos de realidade brasileira. Retirada de uma Presidente da
República, em 2016, sem Crime de Responsabilidade; condenação criminal de
ex-Presidente brasileiro, sem que se provasse a materialidade dos (supostos)
ilícitos penais; ataques a tiros à Caravana de um ex-Presidente, que fazia atos
públicos Brasil afora (É livre a manifestação do pensamento, vedado o
anonimato, diz a Constituição Federal de 1988!); exclusão do processo eleitoral
do candidato líder de todas as pesquisas, às portas das convenções partidárias
(preso sem que houvesse o trânsito em julgado); desrespeito, pela Justiça
Eleitoral Brasileira, de Decisão da ONU
(Organização das Nações Unidas); execução,
com doze facadas, de mestre de capoeira, na Bahia, em virtude de o mesmo
declarar opção eleitoral pelo candidato petista (Fernando Haddad), indicado por
Lula da Silva; ataque a uma jornalista, com ameaça de estupro; ataque a uma
jovem de 19 anos, em Porto Alegre (RS), com marcação no corpo, a ferro, de uma suástica (símbolo do Nazismo, de Hitler); agressões, por quase todo o Brasil,
a homossexuais (feitas por apoiadores de um candidato a Presidente do Brasil,
sendo essas na mesma linha discursiva, ideológica dele...).
Parece um cenário de
filme de terror, mas são fatos reais, visíveis, são dados de uma realidade a
qual muitos e muitos(as) de nós jamais desejaria. Mas, parece que a mesma já
chegou; está entre nós.
Ante esse Preâmbulo, solicitamos
Entrevista, via e-mail, à Professora Gracilene
Ferreira, Socióloga formada pela UFPA e docente na Secretaria de Educação
do Estado do Pará e na Prefeitura de Abaetetuba. O mote principal é o Fascismo
se instalando ou se espraiando pelo Brasil; os visíveis riscos à Democracia,
como ficam as sagradas sociabilidades, a luta de classes, a homofobia e outros
temas. Confira:
Blog Poemeiro do Miri: Estamos vivendo os
anos mais “preocupantes” de nossa história democrática recente, tempos de
disseminação de ódio aos diferentes e de visíveis intolerâncias, segundo lemos
muito nas redes sociais, atualmente? Como a Senhora vê esse cenário de ataques (mortes,
ameaças de estupros, queima de livros de humanas na UnB...) e propagação de
ódio no Brasil atual?
Profa. Gracilene Ferreira: É um cenário
preocupante e até posso dizer desolador, visto que é perceptível a perseguição
a livre expressão do pensamento, ... Estamos com nossos direitos civis, e
políticos por um fio e o desolador é que Jovens, vem aderindo a essas
ideologias, sem ao menos conhece-las. Ou conhecendo-as acreditam ser o melhor.
Deus do Céu como pode isso? Quanto mais propagamos uma sociedade humanitária, mais
se caminha em seu oposto.
Blog Poemeiro do Miri: A mim, posso lhe dizer, que não passava pela cabeça uma perspectiva de Brasil
neo-nazista e/ou neo-fascista; nem vislumbrava um país onde tanto ódio ao Norte
e ao Nordeste fosse destilado, sobretudo depois de 2014. A fuga aos debates,
aos diálogos, no sentido de vivenciar a política de modo constante seria uma
explicação para esse (possível) flagelo social?
Profa. Gracilene Ferreira: Com certeza
quando não há dialogo sobra a intolerância, o desrespeito oriundo do descompromisso
social e político de cada cidadão refletido em nossos representantes. Parece
que estamos retroagindo na história, querendo de volta aquilo que nos sufocava
que destruía a humanidade de cada individuo social. Estamos em tempo de
supervalorização das tidas teorias dominante, supremacia branca, desvalorização
daquilo que esta “fora do Padrão” - das minorias.
Blog Poemeiro do Miri: A senhora vê que há riscos
para a nossa Democracia, no sentido de que práticas de higienização (tais como a indesejada teoria da “raça
pura”, emblema do Nazismo) possam (poderiam) estar dando o tom de uma possível
disseminação de posturas neo-nazistas e neo-fascistas em terras brasileiras (das
quais aqueles exemplos acima poderiam dar provas)? Quais seriam os riscos para a nossa desejada convivência pacífica/democrática?
Profa. Gracilene Ferreira: Que há a
disseminação de tais posturas isso é fato. Agora o perigo esta na defesa dessas
ideologias por aqueles que nos governam podendo sim trazer para nosso país
períodos obscuros onde o medo a dor estará presente em todos os aspeto da vida
social. As minorias serão perseguida
(como já vislumbramos isso) quem pensa diferente terá que se esconder ou
fazer isso na clandestinidade (início da historia dos partidos de esquerda no
brasil) teremos o retorno ou reforço de papeis sociais discriminatórios ...
enfim corremos riscos de perder a nossa
tão sonhada, lutada e defendida LIBERDADE PLENA.
Blog Poemeiro do Miri: A senhora vê o
Brasil, uma década atrás, com essa tendência ao extremismo, verbalização de
homofobia, como se fosse legítimo falar em “ter ódio de gay” e atacar lésbicas
nas ruas e/ou ter postura similar? Em sentido mais amplo, como a Senhora vê a
presença (ou o contrário disso...) da
escola pública nesse processo educativo?
Profa. Gracilene Ferreira: A escola além
de ser um espaço institucional de educação ou melhor de escolarização, ela é o
palco de conflitos da vivências do diferente, onde se busca a convivência
pacífica e a valorização e respeito pela diversidade. Venho vivendo nessa
ultima década em contado com os diversos níveis de ensino e posso perceber que
a escola vem se esforçando para ajudar a formar cidadão de bem que respeitem as
diferenças sejam tolerantes... Nessa última década vimos na verdade um processo
de luta pela superação da violência de conquistas de direitos, mas que vem
incomodando grupos sociais que tem valores hegemonizados como se fossem os
únicos e verdadeiro valores que todos devem seguir...
Blog Poemeiro do Miri: Na base dessas
questões ou na tentativa de as explicar, estaria a luta de classes (ou até o
ódio das elites, como muitos dizem, às classes menos favorecidas), com ou sem
vinculação com os extremismos políticos que vemos mundo afora? Se sim, como a
Senhora vê, em perspectiva, o nosso cenário pós-eleições para Presidente, em
2018?
Profa. Gracilene Ferreira: Com certeza,
como frisei anteriormente. Há uma classe dominante que quando se ver correr
riscos usa de discursos ideológicos e de recursos midiáticos para disseminar
seus interesses como se fosse de interesse da maioria social. Buscam enganar a
classe trabalhadora os menos favorecidos, usando-os para alcançar seus
objetivos de classe. Por isso a necessidade do diálogo politico e do
empoderamento dos menos favorecido. Pobreza não pode ser sinônimo de falta de
conhecimento.se não continuaremos manipuláveis votando de acordo com o que as
elites querem pra manter o status co. Se as pesquisas forem confirmadas na urna
teremos tempo duro de autoritarismo politico, ampliação de valores neoliberais
e retração do desenvolvimento social. Entre tantas outras mazelas à vista.
Blog Poemeiro do Miri: As chamadas “fake
news” (notícias falsas, muito espalhadas
atualmente via Facebook e em grupos
de WhatsApp) mantém que tipo de
relação com uma indesejada (creio eu) cultura de ódio a se espraiar Brasil
afora?
Profa. Gracilene Ferreira: As Fake News
são recursos excelentes para nossos dominadores. Visto que a massa tem acesso a
meios de comunicação e buscam informações desconectadas sem confirmar fontes... Por
isso ela hoje é um instrumento de tortura usada para instigar um ódio e dividir
o Brasil. Reforçando teorias racistas, sexistas e homofóbicas ...e um falso
moralismo extremo.
Blog Poemeiro do Miri: O Fascismo, por
princípio, tem a ver com ódio, com a recusa a aceitarmos o Diferente? Sendo
possível pensar assim e sendo o Brasil majoritariamente cristão e
heterossexual, como a Senhora vislumbra a manutenção (e as lutas permanentes
por conquistas) de dignidade e de afirmação de Direitos Humanos às populações
negra e LGBT?
Profa. Gracilene Ferreira: Manter
direitos conquistados vem sendo difícil no Brasil nos últimos anos, mas isso
ficará ainda pior para aqueles que já tem historicamente seus direito
expropriados. As populações negra e LGBT terão que esta bem mais organizadas e
ficar na resistência, porque o que vejo é a perspectiva de perseguição e
criminalização desses movimentos desta forma resistir será uma questão de
sobrevivência.
Blog Poemeiro do Miri: Um provável Governo Bolsonaro (de extrema direita, de forte
viés liberal na Economia e neoliberal na Educação), capitaneado por ele, teria,
a seu ver, condições de liderar um processo de pacificação do Brasil (se aceitarmos que o mesmo apresenta
visível divisão em vários aspectos), capaz de trabalhar a superação dessa
cultura do ódio, em especial às populações negra e LGBT? Por quê?
Profa. Gracilene Ferreira: A
Partir da Postura do então candidato a presidente Bolsonaro, durante sua
atuação politica, fico muito apreensiva com ele na presidência, pois o Brasil é
um país construído na égide da diversidade, que vem tentando superar
preconceitos históricos e ainda esta muito longe de conseguir isso. Por isso
receio hoje por uma possível Guerra civil, pela aumento do extermínio de
pessoas negras, pela radicalização da homofobia... Pela liberação das armas,
não faz sentido liberar acesso a armas se eu não tenho uma população tolerante.
Mas existe uma Frase que ouvi de um
professor em um período eleitoral “cada povo tem o governo que merece” e muitos
de nós ainda não sabemos escolher, por isso nós nos tornamos vitimas do nosso
maior poder O VOTO.
Blog Poemeiro do Miri: Muito obrigado; suas
Considerações Finais.
Profa. Gracilene Ferreira: Poder exercer
nossos direitos de cidadão hoje no Brasil não é presente de governante. E
resultado da luta popular, de muita gente que morreu eletrocutado em câmaras de
tortura, de muita gente violentados
extirpada de sua dignidade por um ideal comum. Poder nos expressar hoje
é um direito garantido constitucionalmente graças a aqueles que nos
antecederam. Desta forma se faz necessário compreendermos a historia para
decidirmos nosso futuro. O meu voto não vai mudar apenas a minha vida, mas a
vida de uma nação de classes diferentes de tons de pele diferentes de posição
social diferente mas que precisa viver harmonicamente com seus direitos
garantidos e respeitados.
parabéns a professora gracilene Ferreira....Pela luta popular...precisamos ter nossos direitos garantidos.
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