quinta-feira, 18 de outubro de 2018

ENTREVISTA: GRACILENE FERREIRA (SOCIÓLOGA): "Fake News são recursos excelentes para dominadores"

Prof. Israel Araújo (Editor; poemeiro@hotmail.com) 



(Professora Gracilene Ferreira; arquivo pessoal)


Os tempos atuais são emblemáticos, em termos de realidade brasileira. Retirada de uma Presidente da República, em 2016, sem Crime de Responsabilidade; condenação criminal de ex-Presidente brasileiro, sem que se provasse a materialidade dos (supostos) ilícitos penais; ataques a tiros à Caravana de um ex-Presidente, que fazia atos públicos Brasil afora (É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato, diz a Constituição Federal de 1988!); exclusão do processo eleitoral do candidato líder de todas as pesquisas, às portas das convenções partidárias (preso sem que houvesse o trânsito em julgado); desrespeito, pela Justiça Eleitoral Brasileira, de Decisão da ONU  (Organização das Nações Unidas); execução, com doze facadas, de mestre de capoeira, na Bahia, em virtude de o mesmo declarar opção eleitoral pelo candidato petista (Fernando Haddad), indicado por Lula da Silva; ataque a uma jornalista, com ameaça de estupro; ataque a uma jovem de 19 anos, em Porto Alegre (RS), com marcação no corpo, a ferro, de uma suástica (símbolo do Nazismo, de Hitler); agressões, por quase todo o Brasil, a homossexuais (feitas por apoiadores de um candidato a Presidente do Brasil, sendo essas na mesma linha discursiva, ideológica dele...).
Parece um cenário de filme de terror, mas são fatos reais, visíveis, são dados de uma realidade a qual muitos e muitos(as) de nós jamais desejaria. Mas, parece que a mesma já chegou; está entre nós.

Ante esse Preâmbulo, solicitamos Entrevista, via e-mail, à Professora Gracilene Ferreira, Socióloga formada pela UFPA e docente na Secretaria de Educação do Estado do Pará e na Prefeitura de Abaetetuba. O mote principal é o Fascismo se instalando ou se espraiando pelo Brasil; os visíveis riscos à Democracia, como ficam as sagradas sociabilidades, a luta de classes, a homofobia e outros temas. Confira:

Blog Poemeiro do Miri: Estamos vivendo os anos mais “preocupantes” de nossa história democrática recente, tempos de disseminação de ódio aos diferentes e de visíveis intolerâncias, segundo lemos muito nas redes sociais, atualmente? Como a Senhora vê esse cenário de ataques (mortes, ameaças de estupros, queima de livros de humanas na UnB...) e propagação de ódio no Brasil atual?

Profa. Gracilene Ferreira: É um cenário preocupante e até posso dizer desolador, visto que é perceptível a perseguição a livre expressão do pensamento, ... Estamos com nossos direitos civis, e políticos por um fio e o desolador é que Jovens, vem aderindo a essas ideologias, sem ao menos conhece-las. Ou conhecendo-as acreditam ser o melhor. Deus do Céu como pode isso? Quanto mais propagamos uma sociedade humanitária, mais se caminha em seu oposto.


Blog Poemeiro do Miri: A mim, posso lhe dizer, que não passava pela cabeça uma perspectiva de Brasil neo-nazista e/ou neo-fascista; nem vislumbrava um país onde tanto ódio ao Norte e ao Nordeste fosse destilado, sobretudo depois de 2014. A fuga aos debates, aos diálogos, no sentido de vivenciar a política de modo constante seria uma explicação para esse (possível) flagelo social?

Profa. Gracilene Ferreira: Com certeza quando não há dialogo sobra a intolerância, o desrespeito oriundo do descompromisso social e político de cada cidadão refletido em nossos representantes. Parece que estamos retroagindo na história, querendo de volta aquilo que nos sufocava que destruía a humanidade de cada individuo social. Estamos em tempo de supervalorização das tidas teorias dominante, supremacia branca, desvalorização daquilo que esta “fora do Padrão” - das minorias.


Blog Poemeiro do Miri: A senhora vê que há riscos para a nossa Democracia, no sentido de que práticas de higienização (tais como a indesejada teoria da “raça pura”, emblema do Nazismo) possam (poderiam) estar dando o tom de uma possível disseminação de posturas neo-nazistas e neo-fascistas em terras brasileiras (das quais aqueles exemplos acima poderiam dar provas)? Quais seriam os riscos para a nossa desejada convivência pacífica/democrática?

Profa. Gracilene Ferreira: Que há a disseminação de tais posturas isso é fato. Agora o perigo esta na defesa dessas ideologias por aqueles que nos governam podendo sim trazer para nosso país períodos obscuros onde o medo a dor estará presente em todos os aspeto da vida social. As minorias serão perseguida  (como já vislumbramos isso) quem pensa diferente terá que se esconder ou fazer isso na clandestinidade (início da historia dos partidos de esquerda no brasil) teremos o retorno ou reforço de papeis sociais discriminatórios ... enfim  corremos riscos de perder a nossa tão sonhada, lutada e defendida LIBERDADE PLENA.


Blog Poemeiro do Miri: A senhora vê o Brasil, uma década atrás, com essa tendência ao extremismo, verbalização de homofobia, como se fosse legítimo falar em “ter ódio de gay” e atacar lésbicas nas ruas e/ou ter postura similar? Em sentido mais amplo, como a Senhora vê a presença (ou o contrário disso...) da escola pública nesse processo educativo?

Profa. Gracilene Ferreira: A escola além de ser um espaço institucional de educação ou melhor de escolarização, ela é o palco de conflitos da vivências do diferente, onde se busca a convivência pacífica e a valorização e respeito pela diversidade. Venho vivendo nessa ultima década em contado com os diversos níveis de ensino e posso perceber que a escola vem se esforçando para ajudar a formar cidadão de bem que respeitem as diferenças sejam tolerantes... Nessa última década vimos na verdade um processo de luta pela superação da violência de conquistas de direitos, mas que vem incomodando grupos sociais que tem valores hegemonizados como se fossem os únicos e verdadeiro valores que todos devem seguir...


Blog Poemeiro do Miri: Na base dessas questões ou na tentativa de as explicar, estaria a luta de classes (ou até o ódio das elites, como muitos dizem, às classes menos favorecidas), com ou sem vinculação com os extremismos políticos que vemos mundo afora? Se sim, como a Senhora vê, em perspectiva, o nosso cenário pós-eleições para Presidente, em 2018?

Profa. Gracilene Ferreira: Com certeza, como frisei anteriormente. Há uma classe dominante que quando se ver correr riscos usa de discursos ideológicos e de recursos midiáticos para disseminar seus interesses como se fosse de interesse da maioria social. Buscam enganar a classe trabalhadora os menos favorecidos, usando-os para alcançar seus objetivos de classe. Por isso a necessidade do diálogo politico e do empoderamento dos menos favorecido. Pobreza não pode ser sinônimo de falta de conhecimento.se não continuaremos manipuláveis votando de acordo com o que as elites querem pra manter o status co. Se as pesquisas forem confirmadas na urna teremos tempo duro de autoritarismo politico, ampliação de valores neoliberais e retração do desenvolvimento social. Entre tantas outras mazelas à vista.


Blog Poemeiro do Miri: As chamadas “fake news” (notícias falsas, muito espalhadas atualmente via Facebook e em grupos de WhatsApp) mantém que tipo de relação com uma indesejada (creio eu) cultura de ódio a se espraiar Brasil afora?

Profa. Gracilene Ferreira: As Fake News são recursos excelentes para nossos dominadores. Visto que a massa tem acesso a meios de comunicação e buscam informações desconectadas sem confirmar fontes... Por isso ela hoje é um instrumento de tortura usada para instigar um ódio e dividir o Brasil. Reforçando teorias racistas, sexistas e homofóbicas ...e um falso moralismo extremo.

  
Blog Poemeiro do Miri: O Fascismo, por princípio, tem a ver com ódio, com a recusa a aceitarmos o Diferente? Sendo possível pensar assim e sendo o Brasil majoritariamente cristão e heterossexual, como a Senhora vislumbra a manutenção (e as lutas permanentes por conquistas) de dignidade e de afirmação de Direitos Humanos às populações negra e LGBT?

Profa. Gracilene Ferreira: Manter direitos conquistados vem sendo difícil no Brasil nos últimos anos, mas isso ficará ainda pior para aqueles que já tem historicamente seus direito expropriados. As populações negra e LGBT terão que esta bem mais organizadas e ficar na resistência, porque o que vejo é a perspectiva de perseguição e criminalização desses movimentos desta forma resistir será uma questão de sobrevivência.


Blog Poemeiro do Miri: Um provável Governo Bolsonaro (de extrema direita, de forte viés liberal na Economia e neoliberal na Educação), capitaneado por ele, teria, a seu ver, condições de liderar um processo de pacificação do Brasil (se aceitarmos que o mesmo apresenta visível divisão em vários aspectos), capaz de trabalhar a superação dessa cultura do ódio, em especial às populações negra e LGBT? Por quê?

Profa. Gracilene Ferreira: A Partir da Postura do então candidato a presidente Bolsonaro, durante sua atuação politica, fico muito apreensiva com ele na presidência, pois o Brasil é um país construído na égide da diversidade, que vem tentando superar preconceitos históricos e ainda esta muito longe de conseguir isso. Por isso receio hoje por uma possível Guerra civil, pela aumento do extermínio de pessoas negras, pela radicalização da homofobia... Pela liberação das armas, não faz sentido liberar acesso a armas se eu não tenho uma população tolerante.
Mas existe uma Frase que ouvi de um professor em um período eleitoral “cada povo tem o governo que merece” e muitos de nós ainda não sabemos escolher, por isso nós nos tornamos vitimas do nosso maior poder O VOTO.


Blog Poemeiro do Miri: Muito obrigado; suas Considerações Finais.

Profa. Gracilene Ferreira: Poder exercer nossos direitos de cidadão hoje no Brasil não é presente de governante. E resultado da luta popular, de muita gente que morreu eletrocutado em câmaras de tortura, de muita gente violentados  extirpada de sua dignidade por um ideal comum. Poder nos expressar hoje é um direito garantido constitucionalmente graças a aqueles que nos antecederam. Desta forma se faz necessário compreendermos a historia para decidirmos nosso futuro. O meu voto não vai mudar apenas a minha vida, mas a vida de uma nação de classes diferentes de tons de pele diferentes de posição social diferente mas que precisa viver harmonicamente com seus direitos garantidos e respeitados.


Um comentário:

  1. parabéns a professora gracilene Ferreira....Pela luta popular...precisamos ter nossos direitos garantidos.

    ResponderExcluir