terça-feira, 23 de outubro de 2018

Michel Foucault esteve no Brasil, pela TORTURA E ASSASSINATO DO JORNALISTA WLADIMIR HERZOG, 25 de out. 1975: (CONDE RODRIGUES, 2016, p. 92-93)

Prof. Israel Araújo (editor; poemeiro@htmail.com)



(Wladimir Herzog)



Dias depois [de setembro de 1975], a emissora transmitiu um documentário sobre o chefe vietnamita Ho Chi Minh. A primeira reação não veio da censura oficial do regime, mas dos “cães de guarda” da imprensa(...).
Embora informado de que passa a passa a fazer parte de uma lista de suspeitos, Herzog continuou sua vida regular. No dia 24 de outubro, foram à emissora para prendê-lo. Pediu tempo para concluir um telejornal e se prontificou a comparecer ao Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) na manhã seguinte. E assim efetivamente procedeu para, segundo pensava, prestar esclarecimentos. Conforme registra Gaspari (2004, p. 174), “foi acareado com dois colegas. Negou que pertencesse ao PCB e ficou a sós com um interrogador em uma sala do andar térreo. Os dois colegas, em um corredor contíguo, ouviram seus gritos e a ordem para que fosse trazida a máquina de choques elétricos. Um rádio, em volume alto, abafava os sons. A certa altura, o noticiário informou que o generalíssimo Francisco Franco, Ditador da Espanha desde 1936, recebera a extrema-unção... No meio da tarde fez-se um grande silêncio na carceragem”.
Vlado, apelido pelo qual o jornalista era conhecido, estava moto. Segundo a Agência Oficial do Serviço Nacional de Informação (SNI), cometera suicídio. “Era o 38º suicida, o 18º a enforcar-se, dessa vez com uma ‘tira de pano’”, anota Gaspari (2004, p. 174). E prossegue, em um trecho que, em suas grandes linhas, poderia ter sido escrito por Foucault: “Horas depois da confirmação de sua morte, começou um daqueles processos em que reações individuais e desarticuladas desembocam em comportamentos que, sem coordenação ou planejamento, constroem os grandes fatos históricos(...). O medo era tanto que foi desafiado” (Gaspari, 2004, p. 176).
Na segunda-feira, 27 de outubro [de 1975], após o funeral do Vlado, irrompe uma greve na USP. Foucault suspende seu curso. Anos depois, descreverá os acontecimentos de 31 de outubro, nas exéquias de Herzog, às quais esteve presente(...).

Fonte: Heliana de Barros Conde Rodrigues. Ensaios sobre Michel Foucault no Brasil: presença, efeitos, ressonâncias. Rio de Janeiro: Lamparina editora, 2016.
OBS.: Helio Gaspari. A ditadura encurralada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.


                                 P.S.:

Brasil é condenado por não investigar assassinato e tortura de Vladimir Herzog
Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou que o Estado brasileiro apure, julgue e, se for o caso, puna os responsáveis pela morte do jornalista na ditadura militar

Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)condenou nesta quarta-feira o Estado brasileiro pela falta de investigação, julgamento e punição aos responsáveis pela tortura e assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 1975. O tribunal internacional também considerou o Estado como responsável pela violação ao direito à verdade e à integridade pessoal, em prejuízo dos familiares de Herzog.
A CIDH determinou que os fatos ocorridos contra Vladimir Herzog devem ser considerados como um crime de lesa-humanidade, conforme definido pelo direito internacional, diz a sentença.

Em 24 de outubro de 1975, Vladimir Herzog, então com 38 anos, funcionário da TV Cultura de São Paulo, apresentou-se voluntariamente para depor às autoridades militares no DOI/CODI, em São Paulo. Entretanto, foi privado de sua liberdade, interrogado, torturado e finalmente assassinado, em um contexto sistemático e generalizado de ataques contra a população civil considerada como opositora da ditadura brasileira, e em particular contra jornalistas e membros do Partido Comunista Brasileiro, segundo a ação.
 Link: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/04/politica/1530734238_207748.html (acesso em 23/10/2018)


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