Israel Fonseca Araújo (editor, fundador; poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)
Antes de mais nada,
Eu
estava tomando um pouco de fôlego “intelectual” para poder tomar forças e
escrever este texto, sobre as conquistas de 2019 no FLA-RJ, sobre as
decadências de São Paulo FC, Palmeiras e Santos FC, antes de acontecer o caos
no Cruzeiro-MG; enfim... estava arrumando as armas (isto é, os argumentos) para
me lançar ao teclado, mas um amigo meu, via Facebook (no “meu face” Israel Araújo Poemeiro do Miri) me disse
o seguinte (mais ou menos assim): “tô esperando o senhor fazer uma notinha
sobre o Flamengo, que ganhou tudo este ano, mas sem clubismo”. Pois é, eu
estava me organizando para escrever, mas o convite me apressou.
Eu
agradeci ao amigo e disse que eu não tenho essa questão de “clubismo”. Mas ele
tem razão: devemos ter o máximo possível de distanciamento para escrever nos
blogs, nos jornais, nas mídias. Já estou há mais de 20 anos sem ser torcedor.
Na adolescência fui torcedor, mas, depois de avaliar a postura de jogadores e
dirigentes do futebol profissional masculino, aliando isso a uma questão bem
interessante: promiscuidade mídias televisivas, CBF, empresariado etc.,
observando alguns aspectos dessa gigantesca cadeia, eu decidi não mais ser
torcedor de clubes de futebol (profissional, masculino).
Achei
que minhas energias e meu foco (projetos, ideais, metas pessoais etc.) precisam
estar direcionados a outras questões. Assim tem sido minha relação com o
futebol (profissional, masculino), há muitos anos: apenas vejo um pouco dos
campeonatos, analiso mercados, arbitragem, relação CBF/empresariado/clubes da
elite do futebol, coberturas das emissoras de TV e me divirto com pessoas
próximas, provocando-as e as irritando, amigavelmente.
O Flamengo-RJ de 2019
O
melhor do futebol (profissional, masculino), em campo, neste ano, está na
Gávea, no “ninho do urubu”; depois de um momento de caos, com muitas mortes em
um incêndio, o Fla chegou ao momento de perder Abel Braga e trazer o
desconhecido (bem desconhecido) português Jorge Jesus; foi a senha para
conquistas importantíssimas. Há uma década, o time de Zico, Júnior, Andrade e
Cia não ganhava o Brasileirão (neste ano, ganhou com rodadas de antecedência, o
que tem acontecido com muitos clubes, desde o começo da era pontos corridos, em
2003; mas nenhum clube chegou ao número de vitórias, de pontos e de gols
marcados); há 38 anos, desde 1981 (com Zico...), o time da Gávea não ganhava a
Libertadores da América. Aliás, ganhou somente em 81. Flamengo foi vice do
Palmeiras, em 2018.
Mas,
em 2019, o rubro-negro carioca destruiu tudo pela frente, conquistou o Título Nacional
com quatro rodadas de antecedência (ate aí, nada de surpresa), mas somou 87
pontos (até hoje), em 36 rodadas (possivelmente, chegará a 93), com 27 vitórias
(seis a mais do que o Santos, segundo colocado), tem o artilheiro da
competição, Gabriel Barbosa com 24 gols, e Bruno Henrique, com 21 tentos na
segunda colocação: apenas os gols de BH somam mais gols do que os do artilheiro
do ano 2018, em 38 rodadas (Gabriel Barbosa, pelo Santos).
Flamengo
ganhou a Taça Libertadores da América, sobre o River (ARG), e o Brasileirão,
num fim de semana, jogadores foram às boas farras nesse fds e, na quarta, lá
vem Jorge Jesus com time inteiro jogar contra o Ceará e abrir goleada; em
seguida, vai ao estádio do Palmeira e dá uma surra, goleada de três a um
(aliás: Palmeiras 1 x Flamengo 3). O que isso significa? Nada, absolutamente
nada: somente significa profissionalismo, e isso, certamente, se deve ao modo
como o Jesus do Flamengo conduz o trabalho de grupo.
Jesus
chegou ao Fla-RJ e implantou um sistema “de família”: os jogadores treinavam,
de manhã, e deveriam esperar todos para almoçarem juntos e, assim, saíam às
suas casas; o toque familiar, o
trabalho de grupo (sem o pedantismo e a arrogância do gremista Renato Gaúcho,
p. ex.), possivelmente, foi o começo da senha para o sucesso (claro, todos
sabemos: contratações é fundamental, ter De Arrascaeta, Bruno Henrique, Éverto
Ribeiro, Rafinha, Gerson, Diego Alves, Felipe Luiz, Gerson, Vitinho... faz
muita diferença; salários em dia é fundamental; clima de trabalho unido de
grupo é fundamental; mas ter um líder de referência é super fundamental).
A
“família Felipão”, em 2002, foi fundamental para a seleção masculina da CBF
conquistar o Torneio Mundial (que tem outra lógica; é um torneio; tem uma fase
classificatória, tem os jogos eliminatórios, tem a Final). Um time (elenco,
atletas) indiscutivelmente superior aos demais 19 elencos do certame faz muita
diferença; ter um banco desse porte, faz diferença; gestão responsável, faz
toda a diferença; jogadores correspondendo em campo, faz muita diferença (não à
toa, a torcida ia aos milhares a todos os jogos do clube, sobretudo os do
Maracanã!!); atacantes e meias ofensivos vindo à defesa ajudar, um clima de
profissionalismo e colaboração mútua faz muita diferença (o futebol mais
avançado do que o nosso, ou seja, o futebol europeu ensina bem sobre essa
postura de vermos os atacantes ajudando na marcação). A marcação alta (lá perto
da grande área do adversário) é fundamental; o sistema de posse de bola, em
demonstrado pelo Barcelona de anos de atrás e do Grêmio de uns anos atrás,
abafando o time adversário é muito importante para dar mais volume e, quem
sabe, mais eficiência.
Neste
ano de 2019, ao contrário de outras experiências, podemos afastar as falas de
que o Flamengo vencia por ser muito ajudado pelas equipes de arbitragem. Claro,
também, que times como Grêmio, Palmeiras e Athlético Paranaense (quando
poderiam) não foram capazes de conter o avanço, em pontos, do Fla-RJ. Isso foi
fundamental para produzir esse desequilíbrio em termos de pontos entre Flamengo
e Santos (16 pontos de diferença). Mas, é preciso deixar três notas:
1
– Taça Libertadores da América tem outra lógica. Ao chegar à fase mata-mata, tem-se uma dinâmica diferente
da dos pontos corridos (caso do Brasileirão, pós-2003): clubes melhores podem,
em um jogo, ser eliminados; na partida final, isso, mesmo, bem anotado: em 2019
temos o jogo-único: não se trata de duas partidas, com o “fator casa”
influenciando de alguma forma; jogo em campo neutro tem alguma influência para
mais ou para menos; em jogo único pode acontecer o que aconteceu com o
argentino Ríver: estar prestes a ganhar, dominando o jogo todo, ter muito
volume de jogo (muito...), perder muitos gols e, numa falha individual, o
adversário pode roubar a bola e passar ao jogador extremamente fora de série,
que é o Bruno Henrique; assim, pode-se ter uma assistência e o jogo ganho (do
River) se torna instabilidade máxima, o time adversário cresce e a eficiência
do ataque adversário (do Fla-RJ) pode sacramentar a chamada “virada”. Jogo
único tem essas possibilidades e mais umas quinhentas variações de
possibilidades;
2
– A conquista do Brasileirão, já explicamos, é o mesmo que “passar o rodo” nos
adversários; com essa estrutura e esse comprometimento, tendo os demais clubes
sido muito mais fracos, o sistema de pontos corridos faz justiça a quem de
direito. Para fazer lembrar outros e ensinar aos muito jovens: os pontos corridos entraram para o nosso
sistema por conta da coisa louca, esdrúxula, de 2002: o melhor time do
Brasileirão, o São Paulo, foi ao mata-mata
contra o último da lista classificatória (o Santos FC), foi eliminado por esse
Santos e o final já sabemos: Santos de Robinho e Diego campeão;
3
– Caso de não haver grandes mudanças no elenco de 2019 para 2020, os atletas
fechando com o treinador e a torcida, a diretoria ajudando com o básico do
básico (fazendo a sua obrigação), quem sabe mantendo o técnico, um time como o
Flamengo poderá ser o favorito a ganhar a mesma Libertadores em 2020, ganhar
outros títulos nacionais etc. Mas, ovo no útero de galinha é bom que seja
deixado quieto.
Não falaremos sobre as conquistas do Fla-feminino e dos "Flas" Sub-17 masculino e Sub-20 masculino (aqui, mais uma peia no Palmeiras, anote-se), pois já seria caso de massacre. Mas foi verdade; o time carioca ganhou, tbm, esses títulos. Deixa quieto...
Santos FC, São Paulo FC, Cruzeiro-MG, Palmeiras e
outros
a)
Sem ganhar o Paulistão 2019 e sem chances no Brasileirão, sem Libertadores e
sem nada, o “Peixe” (Santos FC) dá sinais de decréscimo: ainda poderá perder o
técnico Sampaoli para Crefisa; ops:
para o Palmeiras; o que lhe salva a pele é sua base, um lugar por excelência de
revelação de talentos;
b)
Sem ganhar o Brasileirão de 2019, sem Libertadores da América, sem Copa do
Brasil e sem nada, o Verdão dá sinais de decadência: ainda passa o vexame de
ver a dona da Crefisa “demitir” seus técnicos; dizem os especialistas: o caso
do Palmeiras é (seria) racha político, a lógica de querer ganhar a Presidência,
de conquistar jogadores “aliados” para o grupo (político) e jogar a história do
Clube e o amor da torcida... às “cucuias”. Para esses dirigentes, o Clube nada
significa;
c)
Time de decadências, o maior exemplo de decadência no nosso futebol
(profissional, masculino), é o São Paulo FC; de maior time dos anos 1990,
conquistando Libertadores e Mundial da FIFA e três campeonatos brasileiros
seguidos, o clube está há anos sem ganhar, sequer, um título paulista. Foi
vice-campeão paulista de 2019: até aí o clube foi incompetente, sendo incapaz
de ganhar o Corinthians. Um clube que teve a oportunidade de seguir na
liderança do Brasileirão de 2019 e que não conseguiu, sequer, ficar (até hoje) entre
os quatro melhores do campeonato brasileiro, foi eliminado na pré-Libertadores
e não dá sinais de ganhar um Paulistão ou uma Copa do Brasil, por exemplo;
d)
Mas, vamos ao fundo do poço, bem rapidinho: o exemplo do Cruzeiro é de
arrepiar. O atual “gestor de futebol” Zezé Perrela falou que as diretorias
falharam e que a Comissão Técnica de Mano Menezes (ex-técnico do Cruzeiro)
falhou muito; que o mano comandou o Clube em 6 partidas e conseguiu um ponto
somente; perdeu os outros 17 em disputa. Perrela falou sobre a postura nada
profissional de Tiago neves etc. Não citou Rogério Ceni como um possível
responsável.
O
fundo do poço do Cruzeiro tem uma função didática importantíssima: os times
profissionais jamais deveriam chegar a essa realidade, deveriam aprender com os
exemplos de São Paulo FC de 1995 (Muller e Cia fizeram um complô para derrubar
Carlos Alberto Parreira; Muller foi reserva de Bebeto e Romário na Copa dos EUA
de 1994; a Seleção de Parreira ganhou o Tetra e Bebeto e Romário “mataram a
pau”; Muller “pegou o Parreira” lá no Morumbi e destruiu a fase do Tricolor
Paulista, aliado por outro, é claro!).
Esse
exemplo já seria o suficiente para a Diretoria do Cruzeiro não cometer o maior
de todos os erros de 2019: quando o Tiago Neves e Dedé e Cia se articularam
para derrubar o técnico Rogério Ceni (que deixou o Fortaleza dia 12.08 para
segurar o Cruzeiro e tentar ganhar uma Copa do Brasil, ir para a Libertadores e
ver no que dava o Brasileirão..., mas teve o grupo político do Tiago Neves no
meio do caminho). Os medalhões do comando cruzeirense deveriam ter se fechado
em uma sala com um bom ar condicionado e umas taças de vinho, conversar
bastante, avaliar a conjuntura toda, selecionar os líderes do grupo e sair de
mãos dadas em favor do Ceni e não fazerem corpo mole.
A
Diretoria da “Raposa” não tinha o direito da omissão, nesse momento (nem em
outros, creio); essa questão de diretores blindarem jogadores medalhões e
rifarem os treinadores só pode existir em um sistema de clubes sem
profissionalismo. Se as Diretorias contratam muito mal, e depois não veem meios
de mandar embora certos jogadores, se continuarem tratando os treinadores de
modo amador e até rasteiro, aí... de nada adianta eles (dirigentes) verem os
trabalhos de Jorge Jesus, Sampaoli, Guardiola, Mourinho e outros. De nada
adiante eles verem o futebol europeu (onde tem treinadores que fazem uma
carreira inteira no mesmo clube, onde treinadores podem ficar não somente três
anos, mas cinco ou mais, no mesmo clube: não adianta esses caras terem internet
e/ou televisão; eles não querem aprender) ou os trabalhos dos clubes dos EUA e
da região do petróleo. Parece que é a eterna lógica da permanente corrupção
brasileira; parece.
Até
mais.