terça-feira, 3 de dezembro de 2019

2019 no Futebol: o ano “do Flamengo-RJ” ou ano da desigualdade nacional?


Israel Fonseca Araújo (editor, fundador; poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



Antes de mais nada,


Eu estava tomando um pouco de fôlego “intelectual” para poder tomar forças e escrever este texto, sobre as conquistas de 2019 no FLA-RJ, sobre as decadências de São Paulo FC, Palmeiras e Santos FC, antes de acontecer o caos no Cruzeiro-MG; enfim... estava arrumando as armas (isto é, os argumentos) para me lançar ao teclado, mas um amigo meu, via Facebook (no “meu face” Israel Araújo Poemeiro do Miri) me disse o seguinte (mais ou menos assim): “tô esperando o senhor fazer uma notinha sobre o Flamengo, que ganhou tudo este ano, mas sem clubismo”. Pois é, eu estava me organizando para escrever, mas o convite me apressou.

Eu agradeci ao amigo e disse que eu não tenho essa questão de “clubismo”. Mas ele tem razão: devemos ter o máximo possível de distanciamento para escrever nos blogs, nos jornais, nas mídias. Já estou há mais de 20 anos sem ser torcedor. Na adolescência fui torcedor, mas, depois de avaliar a postura de jogadores e dirigentes do futebol profissional masculino, aliando isso a uma questão bem interessante: promiscuidade mídias televisivas, CBF, empresariado etc., observando alguns aspectos dessa gigantesca cadeia, eu decidi não mais ser torcedor de clubes de futebol (profissional, masculino).

Achei que minhas energias e meu foco (projetos, ideais, metas pessoais etc.) precisam estar direcionados a outras questões. Assim tem sido minha relação com o futebol (profissional, masculino), há muitos anos: apenas vejo um pouco dos campeonatos, analiso mercados, arbitragem, relação CBF/empresariado/clubes da elite do futebol, coberturas das emissoras de TV e me divirto com pessoas próximas, provocando-as e as irritando, amigavelmente.


O Flamengo-RJ de 2019

O melhor do futebol (profissional, masculino), em campo, neste ano, está na Gávea, no “ninho do urubu”; depois de um momento de caos, com muitas mortes em um incêndio, o Fla chegou ao momento de perder Abel Braga e trazer o desconhecido (bem desconhecido) português Jorge Jesus; foi a senha para conquistas importantíssimas. Há uma década, o time de Zico, Júnior, Andrade e Cia não ganhava o Brasileirão (neste ano, ganhou com rodadas de antecedência, o que tem acontecido com muitos clubes, desde o começo da era pontos corridos, em 2003; mas nenhum clube chegou ao número de vitórias, de pontos e de gols marcados); há 38 anos, desde 1981 (com Zico...), o time da Gávea não ganhava a Libertadores da América. Aliás, ganhou somente em 81. Flamengo foi vice do Palmeiras, em 2018.

Mas, em 2019, o rubro-negro carioca destruiu tudo pela frente, conquistou o Título Nacional com quatro rodadas de antecedência (ate aí, nada de surpresa), mas somou 87 pontos (até hoje), em 36 rodadas (possivelmente, chegará a 93), com 27 vitórias (seis a mais do que o Santos, segundo colocado), tem o artilheiro da competição, Gabriel Barbosa com 24 gols, e Bruno Henrique, com 21 tentos na segunda colocação: apenas os gols de BH somam mais gols do que os do artilheiro do ano 2018, em 38 rodadas (Gabriel Barbosa, pelo Santos).
Flamengo ganhou a Taça Libertadores da América, sobre o River (ARG), e o Brasileirão, num fim de semana, jogadores foram às boas farras nesse fds e, na quarta, lá vem Jorge Jesus com time inteiro jogar contra o Ceará e abrir goleada; em seguida, vai ao estádio do Palmeira e dá uma surra, goleada de três a um (aliás: Palmeiras 1 x Flamengo 3). O que isso significa? Nada, absolutamente nada: somente significa profissionalismo, e isso, certamente, se deve ao modo como o Jesus do Flamengo conduz o trabalho de grupo.

Jesus chegou ao Fla-RJ e implantou um sistema “de família”: os jogadores treinavam, de manhã, e deveriam esperar todos para almoçarem juntos e, assim, saíam às suas casas; o toque familiar, o trabalho de grupo (sem o pedantismo e a arrogância do gremista Renato Gaúcho, p. ex.), possivelmente, foi o começo da senha para o sucesso (claro, todos sabemos: contratações é fundamental, ter De Arrascaeta, Bruno Henrique, Éverto Ribeiro, Rafinha, Gerson, Diego Alves, Felipe Luiz, Gerson, Vitinho... faz muita diferença; salários em dia é fundamental; clima de trabalho unido de grupo é fundamental; mas ter um líder de referência é super fundamental).

A “família Felipão”, em 2002, foi fundamental para a seleção masculina da CBF conquistar o Torneio Mundial (que tem outra lógica; é um torneio; tem uma fase classificatória, tem os jogos eliminatórios, tem a Final). Um time (elenco, atletas) indiscutivelmente superior aos demais 19 elencos do certame faz muita diferença; ter um banco desse porte, faz diferença; gestão responsável, faz toda a diferença; jogadores correspondendo em campo, faz muita diferença (não à toa, a torcida ia aos milhares a todos os jogos do clube, sobretudo os do Maracanã!!); atacantes e meias ofensivos vindo à defesa ajudar, um clima de profissionalismo e colaboração mútua faz muita diferença (o futebol mais avançado do que o nosso, ou seja, o futebol europeu ensina bem sobre essa postura de vermos os atacantes ajudando na marcação). A marcação alta (lá perto da grande área do adversário) é fundamental; o sistema de posse de bola, em demonstrado pelo Barcelona de anos de atrás e do Grêmio de uns anos atrás, abafando o time adversário é muito importante para dar mais volume e, quem sabe, mais eficiência.

Neste ano de 2019, ao contrário de outras experiências, podemos afastar as falas de que o Flamengo vencia por ser muito ajudado pelas equipes de arbitragem. Claro, também, que times como Grêmio, Palmeiras e Athlético Paranaense (quando poderiam) não foram capazes de conter o avanço, em pontos, do Fla-RJ. Isso foi fundamental para produzir esse desequilíbrio em termos de pontos entre Flamengo e Santos (16 pontos de diferença). Mas, é preciso deixar três notas:

1 – Taça Libertadores da América tem outra lógica. Ao chegar à fase mata-mata, tem-se uma dinâmica diferente da dos pontos corridos (caso do Brasileirão, pós-2003): clubes melhores podem, em um jogo, ser eliminados; na partida final, isso, mesmo, bem anotado: em 2019 temos o jogo-único: não se trata de duas partidas, com o “fator casa” influenciando de alguma forma; jogo em campo neutro tem alguma influência para mais ou para menos; em jogo único pode acontecer o que aconteceu com o argentino Ríver: estar prestes a ganhar, dominando o jogo todo, ter muito volume de jogo (muito...), perder muitos gols e, numa falha individual, o adversário pode roubar a bola e passar ao jogador extremamente fora de série, que é o Bruno Henrique; assim, pode-se ter uma assistência e o jogo ganho (do River) se torna instabilidade máxima, o time adversário cresce e a eficiência do ataque adversário (do Fla-RJ) pode sacramentar a chamada “virada”. Jogo único tem essas possibilidades e mais umas quinhentas variações de possibilidades;

2 – A conquista do Brasileirão, já explicamos, é o mesmo que “passar o rodo” nos adversários; com essa estrutura e esse comprometimento, tendo os demais clubes sido muito mais fracos, o sistema de pontos corridos faz justiça a quem de direito. Para fazer lembrar outros e ensinar aos muito jovens: os pontos corridos entraram para o nosso sistema por conta da coisa louca, esdrúxula, de 2002: o melhor time do Brasileirão, o São Paulo, foi ao mata-mata contra o último da lista classificatória (o Santos FC), foi eliminado por esse Santos e o final já sabemos: Santos de Robinho e Diego campeão;

3 – Caso de não haver grandes mudanças no elenco de 2019 para 2020, os atletas fechando com o treinador e a torcida, a diretoria ajudando com o básico do básico (fazendo a sua obrigação), quem sabe mantendo o técnico, um time como o Flamengo poderá ser o favorito a ganhar a mesma Libertadores em 2020, ganhar outros títulos nacionais etc. Mas, ovo no útero de galinha é bom que seja deixado quieto.

Não falaremos sobre as conquistas do Fla-feminino e dos "Flas" Sub-17 masculino e Sub-20 masculino (aqui, mais uma peia no Palmeiras, anote-se), pois já seria caso de massacre. Mas foi verdade; o time carioca ganhou, tbm, esses títulos. Deixa quieto...


Santos FC, São Paulo FC, Cruzeiro-MG, Palmeiras e outros

a) Sem ganhar o Paulistão 2019 e sem chances no Brasileirão, sem Libertadores e sem nada, o “Peixe” (Santos FC) dá sinais de decréscimo: ainda poderá perder o técnico Sampaoli para Crefisa; ops: para o Palmeiras; o que lhe salva a pele é sua base, um lugar por excelência de revelação de talentos;

b) Sem ganhar o Brasileirão de 2019, sem Libertadores da América, sem Copa do Brasil e sem nada, o Verdão dá sinais de decadência: ainda passa o vexame de ver a dona da Crefisa “demitir” seus técnicos; dizem os especialistas: o caso do Palmeiras é (seria) racha político, a lógica de querer ganhar a Presidência, de conquistar jogadores “aliados” para o grupo (político) e jogar a história do Clube e o amor da torcida... às “cucuias”. Para esses dirigentes, o Clube nada significa;

c) Time de decadências, o maior exemplo de decadência no nosso futebol (profissional, masculino), é o São Paulo FC; de maior time dos anos 1990, conquistando Libertadores e Mundial da FIFA e três campeonatos brasileiros seguidos, o clube está há anos sem ganhar, sequer, um título paulista. Foi vice-campeão paulista de 2019: até aí o clube foi incompetente, sendo incapaz de ganhar o Corinthians. Um clube que teve a oportunidade de seguir na liderança do Brasileirão de 2019 e que não conseguiu, sequer, ficar (até hoje) entre os quatro melhores do campeonato brasileiro, foi eliminado na pré-Libertadores e não dá sinais de ganhar um Paulistão ou uma Copa do Brasil, por exemplo;

d) Mas, vamos ao fundo do poço, bem rapidinho: o exemplo do Cruzeiro é de arrepiar. O atual “gestor de futebol” Zezé Perrela falou que as diretorias falharam e que a Comissão Técnica de Mano Menezes (ex-técnico do Cruzeiro) falhou muito; que o mano comandou o Clube em 6 partidas e conseguiu um ponto somente; perdeu os outros 17 em disputa. Perrela falou sobre a postura nada profissional de Tiago neves etc. Não citou Rogério Ceni como um possível responsável.

O fundo do poço do Cruzeiro tem uma função didática importantíssima: os times profissionais jamais deveriam chegar a essa realidade, deveriam aprender com os exemplos de São Paulo FC de 1995 (Muller e Cia fizeram um complô para derrubar Carlos Alberto Parreira; Muller foi reserva de Bebeto e Romário na Copa dos EUA de 1994; a Seleção de Parreira ganhou o Tetra e Bebeto e Romário “mataram a pau”; Muller “pegou o Parreira” lá no Morumbi e destruiu a fase do Tricolor Paulista, aliado por outro, é claro!).

Esse exemplo já seria o suficiente para a Diretoria do Cruzeiro não cometer o maior de todos os erros de 2019: quando o Tiago Neves e Dedé e Cia se articularam para derrubar o técnico Rogério Ceni (que deixou o Fortaleza dia 12.08 para segurar o Cruzeiro e tentar ganhar uma Copa do Brasil, ir para a Libertadores e ver no que dava o Brasileirão..., mas teve o grupo político do Tiago Neves no meio do caminho). Os medalhões do comando cruzeirense deveriam ter se fechado em uma sala com um bom ar condicionado e umas taças de vinho, conversar bastante, avaliar a conjuntura toda, selecionar os líderes do grupo e sair de mãos dadas em favor do Ceni e não fazerem corpo mole.

A Diretoria da “Raposa” não tinha o direito da omissão, nesse momento (nem em outros, creio); essa questão de diretores blindarem jogadores medalhões e rifarem os treinadores só pode existir em um sistema de clubes sem profissionalismo. Se as Diretorias contratam muito mal, e depois não veem meios de mandar embora certos jogadores, se continuarem tratando os treinadores de modo amador e até rasteiro, aí... de nada adianta eles (dirigentes) verem os trabalhos de Jorge Jesus, Sampaoli, Guardiola, Mourinho e outros. De nada adiante eles verem o futebol europeu (onde tem treinadores que fazem uma carreira inteira no mesmo clube, onde treinadores podem ficar não somente três anos, mas cinco ou mais, no mesmo clube: não adianta esses caras terem internet e/ou televisão; eles não querem aprender) ou os trabalhos dos clubes dos EUA e da região do petróleo. Parece que é a eterna lógica da permanente corrupção brasileira; parece.

Até mais.



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