quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O Natal e a Prisão de Vereadores em Igarapé-Miri (PA): entre a vergonha pública, o inacreditável e os gracejos

Israel Fonseca Araújo, editor do Blog (poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)


O dia de hoje, sim, este dia, foi puxado que só...

Ao sabermos dos últimos acontecimentos mais relevantes sobre a vida pública (vida comunitária) de Igarapé-Miri deste dia 11 de dezembro de 2019 (não dissemos 11 de setembro, foi 11 de dezembro), no Nordeste do Pará, somos surpreendidos por volumosos dados (primeiramente) em redes sociais; depois, em pouquíssimos sites de notícias do estado do Pará. Escândalos envolvendo altas autoridades municipais e outra(s) pessoa(s), notícias escabrosas.

Tratava-se de "notícias" populares de que a Polícia Civil (entende-se, embora muitos diziam se tratar da Polícia Federal) estaria em casas e outros locais de autoridades públicas municipais (Vereadores e Secretário(s) de governo) e de um (muito conhecido) empresário local. Era perto de meio-dia, no centro do bem forte calor da Amazônia e seria preciso cautela diante dessas notícias, haja vista que os grupos (agora) rivais políticos estão muito agitados (seria agoniados?) nas redes sociais em razão da aproximação das disputas para a Prefeitura de Igarapé-Miri, em 2020, e pelas 15 (quinze) vagas para Vereadores/as.


CAUTELA, MUITA CAUTELA

Mesmo com tanta necessidade de ter cautela, não obstante os muitos áudios de "zap-zap" circulando nos celulares e as muitas piadasrolando na rede, tivemos de buscar informações mais seguras, junto a fontes confiáveis: informações de que esposa(s) teria(m) desmaiado ao ver a suposta prisão de cônjuge (não é "conje", gente amiga!!), de que vereador estaria "de cabeça pra baixo" nos fundos de quintal de seu vizinho, de que cachorro estaria prestes a morder parlamentar, que estaria (não o cachorro...) escondido nos quintais (posto que o cachorro seria o legítimo dono do quintal, o qual ele (o cachorro) vigia dos homens maus, de dia e de noite), de que outra autoridade teria se embrenhado em fuga, para local incerto e de que (acreditem!!!, quem não é da Amazônia poderá se assustar) um vereador procurado para ser "enjaulado" teria  pulado nas águas do Rio Igarapé-Miri e não teria concordado em sair do fundo do rio; difícil acreditar em muitas dessas notícias populares, ao menos de plano, pois em tempos de "fake news" (notícias falsas) as pessoas de bem sabem que é preciso ter muita cautela: do contrário, poderemos até eleger presidentes errados.

Às vésperas do Natal, tempo de paz, amor e de solidariedade (nem sempre...), momento de funcionários públicos(as) aguardarem os pagamentos de Décimo-terceiro (muito esperado por empresários/comerciantes locais) e época de confraternizações familiares, justamente nesse clima, vem um notícia super não crível aos nossos olhos, coisa de inacreditável; claro, em setembro de 2014 um Prefeito de Igarapé-Miri ("Pé de Boto, ex-DEM") já foi preso em flagrante, mas as pessoas sempre acham que o país pode piorar um pouco e que as instituições (Justiça, MP, Polícias, Câmaras Municipais, Congresso e outras) sempre podem piorar em termos de funcionamento, de eficiência, celeridade e de dar boas respostas à população, mas o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), mais uma vez, deu "cala-boca" nos mais incrédulos; com a parceria, claro, do Poder Judiciário e da Polícia.

Nossas fontes nos esclareceram que o Juiz de Direito Charbel Adbon Haber Jeha prolatou decisão em 02.12.2019 (segredo de justiça) autorizando busca e apreensão em casas e outros endereços dos seguintes Vereadores governistas: Antônio Cardoso Marques (Toninho do Murutinga-PSB, Presidente da Câmara Municipal), Mario Jelffison Farias Pantoja (Kadheq-MDB, o vereador campeão de votos em 2016, com quase 1.700 votos) e Ruffino Leão-PMN; do Secretário de Administração, Gelffson Brandão Lobo (Professor Gel, ex-Vereador e liderança política do MDB em Igarapé-Miri) e do empresário Manoel Fonseca Bastos Filho (Mimi Bastos). Segundo a divulgação oficial no site do MPPA (leia abaixo), houve busca e apreensão e havia "cinco mandados de prisão, sendo três vereadores - um deles presidente da Câmara de Vereadores do município -, o secretário municipal de Administração e um empresário da cidade". Diz ainda o MPPA, que "até o final da manhã [de 11.12.19] foram presos o secretário de Administração, o empresário e dois vereadores, entre eles o presidente da Câmara. O terceiro vereador está foragido". Segundo informações às quais tivemos acesso, o Vereador que estaria foragido até o fim da manhã seria Kadheq-MDB, sendo, portanto, tratado como foragido de justiça.


ESCAMBO = "trocas de mercadorias"

O que aconteceu, na manhã de hoje, em Igarapé-Miri? Trata-se da Operação "Escambo". Aprendemos nas escolas, em ternas idades, que escambo pode ser entendido como "troca"; pois é, não são as piadinhas de "troca-troca", de simbologia sexual; não, não, não são. São "troca de mercadorias ou serviços sem fazer uso de moeda", segundo uma das muitas definições dicionarizadas. O MP-PA investigou, por aproximadamente 09 (nove) meses, uma "verdadeira mercancia de votos" em Igarapé-Miri, em cujo centro da imoralidade pública estariam vereadores/as igarapemirienses. Para se ter uma ideia, diz o MP, em sua demanda junto ao Poder Judiciário (atendida pelo magistrado Charbel Adbon Jeha), que os "vereadores estariam comercializando leis, cassações e demais atos que dependam da aprovação do legislativo miriense". O MP apurou que os vereadores/as Neto Nahum-PSD, Gil Pinheiro-PSDB, Rufino Leão-PMN, Kadheq-MDB e Guto da Comunidade-PV teriam recebido, cada um, "cerca de R$ 50.000 (cinquenta) mil" nessa conjuntura da eleição na Câmara. Outros vereadores teriam recebido R$ 30.000 (trinta mil) reais: são citados os casos de Pr. Genivaldo Braga Valente-PSDB e Nenca-MDB; já a vereadora (também) do MDB, Ângela Maués, teria recebido a vantagem financeira de R$ 20.000 (vinte mil) reais. Em interceptação telefônica, no curso das investigações, foi possível constatar oferecimento de vantagens em dinheiro a vereadores: em conversas entre os vereadores João do Carmo-PTÂngela Maués, estes falam que receberam proposta de Toninho do Murutinga no valor de R$ 40.000 (quarenta mil) mais pagamentos mensais de diárias para que votassem nele (Murutinga)... Todas estas informações constam do resumo da decisão judicial do magistrado Charbel Adbon Jeha (p. 01), já citada, as quais vem da denúncia do MP ao Poder Judiciário.

No entanto, o "x da questão" nem esteve nessa seara de "compras de votos" ou oferecimento de outras vantagens (altos cargos na estrutura de governo, p. ex.). As buscas, as apreensões e as prisões de hoje se devem a uma situação de doação de um terreno, feita pela Prefeitura miriense, autorizada pela Câmara (comanda por Murutinga), com apoio da maioria dos vereadores, a um empresário da cidade. Nas palavras oficiais do MPPA, trata-se da "compra de votos para doação de um terreno pertencente ao Município de Igarapé-Miri, com aproximadamente 18.000 m², no centro da cidade, ao empresário Manoel Fonseca Bastos Filho (Mimi Bastos), dono de um dos maiores supermercados da cidade" (destaquei). A compra de votos, relatada por um informante ouvido nos autos (fato amplamente divulgado na imprensa estadual e com larga repercussão na cidade), teria sido (pasmem, eu acho; pasmem!) no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para cada vereador envolvido e mais R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais ao secretário de administração).

Nas palavras do próprio Ministério Público: "O MP ouviu o responsável por repassar a quantia em dinheiro ao vereador Antônio Cardoso Marques (Toninho do Murutinga), tendo ele narrado que o dinheiro seria um 'agrado' aos vereadores. Consta ainda que foi repassado, após a votação na Câmara, por meio de outra testemunha a quantia de R$ 1,5 mil ao secretário de Administração, Gelffson Brandão Lobo, para que agilizasse a documentação do terreno" (grifos deste Blog).

"Mercadoria". Ficamos pensando no valor de nossos votos, manifestação de nossa plena confiança nos "representantes" da população. Milhares de mirienses votaram em pessoas que tiveram mais de 1.600 votos, mais de 400, mais de 999, mais de 1.200 etc. O que esses votos significam para quem os recebe? O que nossa população acha que está fazendo com seus votos?!!


Segue a íntegra da Nota do MPPA, divulgada hoje na internet:



MPPA DEFLAGRA OPERAÇÃO ESCAMBO E CUMPRE CINCO MANDADOS DE PRISÃO 


O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) deflagrou na manhã desta quarta-feira (11), na cidade de Igarapé-Miri, a "Operação Escambo" para cumprimento de cinco mandados de prisão, sendo três vereadores - um deles presidente da Câmara de Vereadores do município -, o secretário municipal de Administração e um empresário da cidade. Todos são suspeitos de associação criminosa envolvendo a aprovação de projetos legislativos.
Até o final da manhã foram presos o secretário de Administração, o empresário e dois vereadores, entre eles o presidente da Câmara. O terceiro vereador está foragido. Eles estão sendo encaminhados à Belém, para a delegacia-geral da Polícia Civil, precisamente na Diretoria Estadual de Combate à Corrupção (DECOR). De lá serão encaminhados para o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves para exame de corpo de delito e depois entregues ao sistema penal pela Polícia Civil.


Presidente da Câmara de Vereadores

As investigações do MPPA apontam que os investigados participam de um grupo criminoso montado para praticar delitos a partir da função que ocupam e da influência que exercem em Igarapé-Miri. O grupo é suspeito de cometer crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva, estelionato, coação no curso do processo, além de falsificação de documentos.
A busca e apreensão ocorreu na residência e local de trabalho dos investigados, vereadores Antônio Cardoso Marques (Toninho do Murutinga- residente da Câmara), Mario Jelffison Farias Pantoja (Kadheq) e Ruffino Leão e Gelffson Brandão Lobo (professor Gel-secretário municipal) e o empresário Manoel Fonseca Bastos Filho (Mimi Bastos).
Durante as investigações o Ministério Público constatou, por exemplo, a compra de votos para doação de um terreno pertencente ao Município de Igarapé-Miri, com aproximadamente 18.000 m², no centro da cidade, ao empresário Manoel Fonseca Bastos Filho (Mimi Bastos), dono de um dos maiores supermercados da cidade.


Operação Escambo investiga associação criminosa que teria a participação de vereadores

Conforme apurado, existe um pedido de doação do terreno desde o ano de 2014, porém se encontrava parado até este ano, quando Antônio Cardoso Marques (Toninho do Murutinga) assumiu a presidência da Câmara Municipal e prometeu ao empresário que agilizaria a conclusão da doação.
Diante da promessa de Antônio Cardoso Marques (Toninho do Murutinga), a doação do terreno foi colocada em pauta e votada de forma favorável ao empresário Manoel Fonseca Bastos Filho (Mimi Bastos), entretanto houve o pagamento da quantia de R$ 5,5 mil para que fosse rateado em seu grupo político para que votassem pela doação do terreno.
O MP ouviu o responsável por repassar a quantia em dinheiro ao vereador Antônio Cardoso Marques (Toninho do Murutinga), tendo ele narrado que o dinheiro seria um “agrado” aos vereadores. Consta ainda que foi repassado, após a votação na Câmara, por meio de outra testemunha a quantia de R$ 1,5 mil ao secretário de Administração, Gelffson Brandão Lobo, para que agilizasse a documentação do terreno.
A Operação Escambo teve o apoio da Procuradoria-Geral de Justiça e contou com a atuação de nove promotores: Danyllo Colares, Marcela Melo, Mônica Melo, Amanda Lobato, Reginaldo Álvares, Renato Belini, Vyllia Sereni, Thiago Takada e Louise Araújo.
  
Equipe do MPPA que atuou na operação deflagrada nesta manhã (Ascom MPPA).



__________ Ficam mais essas vergonhas públicas a uma significativo extrato da população igarapemiriense. Sim, uma parte, pois muita gente já não acredita em nada mais, não quer saber de nada mais. Ano de 2020, tem escolhas de Vereadores/as, Prefeito(a) e Vice; vamos ver o que este povo irá decidir.


OUTROS LADOS. O Blog Poemeiro do Miri dará espaço aos citados, caso queiram, para a divulgação de Notas a serem publicadas neste veículo. O e-mail a ser utilizado para se dirigir ao Blog está informado no topo desta publicação (mandar textos de suas responsabilidades, em formato Word).






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