Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
(Fim)
Na obra “Viagem”. Obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. Disponível em: https://www.revistaprosaversoearte.com/eu-canto-porque-o-instante-existe-cecilia-meireles/
Nenhum comentário:
Postar um comentário