sábado, 5 de março de 2022

Ucranianas “são fáceis, pois são pobres”, diz Mamãe Falei ou "Mamãe, Defequei": notas sobre anti-política e horror (Editorial)

Israel Fonseca Araújo (editor, fundador); poemeiro@hotmail.com

Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)


O que você pensaria/sentiria sobre a situação de mulheres, em outro país, violentadas em suas dignidades em razão dos horrores de uma Guerra, amontoadas em uma fila de refugiados(as)? Obrigadas a fugir - às pressas - de seu país, elas se amontoam em filas de pessoas refugiadas, à espera de uma sorte ou um milagre para poder fugir e perder tudo (casa, empregos, planos, sonhos, estudos e, às vezes, até amor, carinho e aconchego familiar), mas segurar seus bens mais valiosos: vida, paz e liberdade. Lutam para não morrer, simplesmente querem viver e ajudar os(as) seus a seguirem vivendo. O que elas não querem nem saber? Possivelmente, de sexo, de manter relações sexuais casuais, com seus compatriotas e/ou com estrangeiros.

Nessas situações de horror e de ameaças de perder a vida a qualquer momento, quem estaria excitado(a), pensando "naquilo"?

Nessa situação de horror e de vida nua ou vida vulnerável no pleno sentido da expressão (lembrei-me, agora, do que pensaria Agambem sobre a questão), essas mulheres querem é sair do estado de pesadelo e respirar vida. Perdão pela redundância, mas elas só querem fugir da morte.

Ainda assim, temos de lidar com a situação de um político brasileiro violento, agressivo, mentiroso e asqueroso, integrante do chamado extrato "conservador" e anti-Esquerda da sociedade, um deputado estadual por São Paulo - aliado de "pessoas de bem" (as tais Sérgio Moro, Silas Malafaia, Bolsoaros e congêneres). Sim, uma pessoa integrante de um Movimento (tal de "MBL") que se destacou por ofender professores em sala de aula (no exercício desses, em pleno estado de Liberdade de Cátedra, uma garantia da nossa Constituição Federal vigente), por incentivar machismo, racismo, ódio de classe, sexismo, negação da política e xenofobia. Nome civil dele?

Nem vem ao caso, é conhecido como "Mamãe Falei" e se tornou um político após ser parido pelas úlceras sociais da negação política (ou seja, surgiu da realidade da negação da democracia e da dignidade humana, da negação da liberdade - pois o sentido da política é a liberdade, segundo Arendt), fruto do ódio às liberdades e à vida humana em plenitude (segue uma nuance: esse deputado bolsomínion teve a ousadia de se referir ao Padre Júlio Lancelotti como "cafetão" de pobres de SP, em razão do trabalho humanitário que esse religioso faz, há décadas, nesse estado).

O professor aposentado, filósofo e atual youtuber, Paulo Ghiraldelli Júnior se refere a Arthur do Val (o tal de Mamãe...tem esse nome) como "Mamãe, defequei". Pois bem, o oportunismo momentâneo causado pelo sofrimento e pelos horrores do povo da Ucrânia excitou "Defequei" e este se juntou a um Coordenador do tal de "MBL", seu ventre, e ambos foram ao país agredido pelo presidente Putin. (Tem uma boa exposição do citado professor no vídeo intitulado "MBL: A CLASSE MÉDIA COMO ELA É. FALA DO MEMBRO DO MBL NA UCRÂNIA MOSTRA TUDO!"; link para acessar, clique AQUI).

Possivelmente, foram com muita grana nos bolsos; "Falei" ou "Defequei" é deputado estadual por SP e deve ter levado gordas diárias para viagens internacionais; seu aliado tbm deve ter juntado gordas doações. Rumaram à nação ucraniana, incentivados publicamente por Moro, com o pretexto de prestar auxílio ao povo e "blá, blá, blá...": depois de lá chegarem, bem... aí, vc certamente já sabe de tudo: certamente, você (o sr., ou a sra.) já ouviu os áudios de "Mamãe...", quando esse gênio do ódio se refere às mulheres pobres e agonizantes da Ucrânia como "fáceis" ("fáceis" para permitir o sexo, a relação sexual com).

"Defequei" ou "Falei" ficou excitadíssimo ao ver a beleza das ucranianas nas filas de refugiados(as): sim, pessoas em situação de extrema vulnerabilidade etc.; no conteúdo mandado a "amigos", exclamava que, tendo seus 35 anos, nunca viu tamanha beleza e facilidades para (segundo ele sugere) obter sexo; garantiu que já vai se organizar para visitar esse país, ano que vem, e conseguir se dar bem. Ainda disse que amigo seu sempre faz isso (ao que parece, se referia a líder do tal de "MBL"); ou seja, que sempre se dá bem nessas empreitadas.

Nuances: Importante atentarmos para a multiplicidade de possibilidade de abordagens que uma questão como essa suscita. Seja pelas lentes sociológicas, do Direito (e dos Direitos Humanos, obviamente), filosóficas, culturais, da linguagem, educação e por aí vai. Não farei arriscar-me a tal, rsrsrsrsr. Mas é muito saltitante ante nossos olhos que a questão identitária, de gênero, sobre a misoginia é urgente; sabemos que os mbeelistas são reconhecidos pelos ódios que destilam às mulheres (sobre Dilma Rousseff, lembram? Mas não somente sobre isso), o que esta fartamente constatado em suas manifestações públicas contra a democracia brasileira. Portanto, diante das ucranianas não poderia ser diferente. Caso se tratasse de homossexuais, suspeita-se que "Falei" não falaria isso; apenas destilaria seu ódio, assim como se diante de negras e negros estivesse.

Mas Ghiraldelli Jr. e outros comentadores(as) também levantam a questão do ódio de classe; a velha relação tóxica de "nossas" classes médias contra nossa classe trabalhadora. Não deixo de ver essa "tese" como relevante, muito relevante, pois é contra mulheres pobres que o "do Val" volta seu ódio. Não fossem as mesmas "pobres", não seriam "fáceis" para ceder a seus caprichos sexuais (ele que disse isso; eu, não falei). Com a sua classe, possivelmente ele não faria isso; diz-se, até, que ele namoraria uma mulher médica. Médicas costumam não ser "pobres". Creio que a questão relativa a gênero é super relevante (repito), mas precisa ser observada em articulação com a perspectiva do debate em termos de classe. Além dessas, há outras formas de abordar a questão. Fique à vontade para acrescentar.

Outro lado: "do Val" informou que o áudio foi mandado em momento "de empolgação" e para um grupo fechado, digamos: reservado (veja matéria, clicando AQUI). Possivelmente, somente de homens e mulheres mbeelistas. O que ele quer dizer com essa sua defesa? Isso mesmo, que é isso que ele pensa, mas que os seus parças não deveria ter revelado o que ele pensa. Lá no seu grupo, ao que parece, tinha algum "esquerdista" que o traiu e vazou suas fezes enunciativas. Ainda bem.

Sabem o que "Defequei" faria se essas lindas mulheres defecassem perto dele? Leia na matéria, ao final deste texto.

Por fim. Que "Falei" ou "Defequei" receba da história o que a mesma costuma reservar a esses "lixos" humanos: a lata; que mais mulheres se levantem da sonolência ideológica e intelectual e o reservem à solidão (sua suposta namorada, médica, teria já se desvinculado dele; mas ela nem precisaria, pois não é "pobre" e, mais que isso: "pois quem se junta ao porcos, farelo come"). Que mais "Defequeis" desse tipo sejam recepcionados com as devidas pedradas democráticas em nossas ágoras e praças públicas virtuais - assim como o faço agora, mesmo crendo que ele não merece que eu tire 70 minutos de me tempo para tal. Mas o nosso país merece e precisa.

P.S.: Matéria do site "Metrópoles" sobre a questão


EM ÁUDIO, MAMÃE FALEI DIZ QUE UCRANIANAS “SÃO FÁCEIS, POIS SÃO POBRES”

Pré-candidato do Podemos ao Palácio dos Bandeirantes, aliado de Sergio Moro, Arthur do Val está na Ucrânia sob pretexto de ajudar refugiados

 

Gustavo Zucchi

04/03/2022 17:52 (link para matéria completa; clique Aqui); acesso em

5.03.2022 (todos os grifos são deste Blog)

Na Ucrânia sob o pretexto de auxiliar a resistência local contra a invasão russa, o deputado estadual paulista Arthur do Val (Podemos), conhecido como Mamãe Falei, enviou áudios a colegas do Movimento Brasil Livre (MBL) com uma série de comentários machistas sobre as refugiadas ucranianas.

Nas mensagens, às quais a coluna teve acesso, o parlamentar afirma que as refugiadas que ele encontrou na fronteira entre a Eslovênia e a Ucrânia “são fáceis, porque são pobres”. Ele diz também que a fila de baladas brasileiras “não chega aos pés da fila de refugiados aqui”.

“Vou te dizer, são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’, e é inacreditável a facilidade”, diz o deputado, que é pré-candidato ao governo de São Paulo nas eleições deste ano e conta com apoio do ex-juiz Sergio Moro.

“Só vou falar uma coisa para vocês: acabei de cruzar a fronteia a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila sei lá, de 200 metros, só deusa. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, diz o deputado estadual em outro áudio.

 

Em outro trecho das mensagens, o parlamentar baixa ainda mais o nível e diz ter encontrado garota que, “se ela cagar, você limpa o c* dela com a língua”.

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