sábado, 31 de março de 2012

Entrevista do Prof. Israel com a acadêmica Ângela Araújo (Unisa).

Neste mês de março concedi uma Entrevista, via e-mail, à acadêmica Ângela Araújo da Silva (História - Unisa), na qual fui questionado sobre: Educação escolar; processor de ensino-aprendizagem; dificuldades enfrentadas no trabalho docente, dentre outros pontos. Eis as perguntas e as nossas respostas.



Israel Fonseca Araújo - Arquivo de Família.


1) Qual o papel do professor na formação do aluno como cidadão crítico?
R: Creio que seja mostrar e provar que a Vida é feita de escolhas, sempre (isso está relacionado à atuação de cada pessoa em Sociedade). Pois isso vai muito além de ensinar Conteúdos de uma alguma área do Saber Escolar. Mesmo o desenvolvimento de Competências e/ou Habilidades pode ser menos importante do que fazer a diferença na vida de crianças e jovens.

2) Como você vê a relação entre cuidar e educar no trabalho do professor?
R: Não sou adepto dessa história do cuidar; penso que, muitas coisas (como o cuidar), são “missão” primordial das Famílias. Mas defendo a ideia de muitos educadores(as) que afirmam que a nossa Escola deve ser acolhedora, já que abriu as portas a muita gente que sempre esteve à margem da escolarização. Acho que nossa tarefa é no educar, no sentido mais formal dessa palavra (atrelada ao trabalho sistemático da Escola). Logo, “cuidar”, na minha concepção, só como sinônimo de acolher.

3) De que forma são suas avaliações e quais instrumentos são usados?
R: Na verdade só existe a Avaliação. É um só processo: acontece que a burocraciacriou essa história de “1ª Avaliação”, “2ª Avaliação”...! Como se tivéssemos quatro e não somente uma. O que fazemos é buscar várias alternativas (como Seminário, Prova Escrita – individual ou em Grupo, trabalhos em Sala de Aula etc.) para constatar se está havendo rendimento, no caso dos alunos(as), ou se não. Sempre tenho mais de uma alternativa, mas geralmente (em cada Bimestre) tenho usado a prova escrita tradicional(!) como uma dessas alternativas – pois acho que ela, se bem elaborada, é importante e porque em nossas Escolas está havendo uma gradativa diminuição da autonomia dos Professores(as): já há escolas que definem que cada Docente tem de passar uma Prova valendo “X”. Isso é muito perigoso, pedagogicamente falando.

4) Como você costuma trabalhar os Temas Transversais?
R: Na medida do possível. Saiba que, em nossas escolas públicas (amazônicas, precarizadas, desestruturadas, às quais muitas famílias nunca vão – apenas lá colocam seus filhos, com equipes gestoras não raro totalmente desfocadas e desarticuladas...), o tempo para realmente trabalhar/estudar é mínimo (há estudos que mostram isso, como o que mostro no Anexo (abaixo). Dessa maneira, temos bastante dificuldade para lecionar o estritamente disciplinar, quanto mais os Temas Transversais. Mas consigo discutir e tentar discutir tais Temas, pelo meio das Aulas, em produção escrita, em provas bimestrais, em bate-papo sobre nossas realidades... Mas a dificuldade é extrema, acredite.

5) Quais as maiores dificuldades que você enfrenta na sua profissão?
R: Falta de participação da Família na vida escolar das crianças e dos jovens: essa é a maior dificuldade, em minha opinião. Depois, questões salariais (que prejudicam, sim, nosso trabalho...), escolas precarizadas, desestruturadas, equipes gestoras não raro totalmente desfocadas e desarticuladas, dificuldades de nossas formações (nas Universidades, no decorrer de nossa carreira), o tempo para realmente trabalhar/estudar é mínimo – perdemos muito tempo com outras demandas, nas salas, perdemos muito tempo do tempo das Aulas cuidando de outras questões (geralmente, para conseguir o mínimo de ordem e organização no ambiente de sala de aula!). Outra dificuldade é realizar trabalho coletivo: isso quase não existe nas nossas escolas; interdisciplinaridade então é quase um sonho. Muitos de nós, docentes, trabalhamos em duas ou três (até quatro) escolas – vivemos correndo para atender a muita demanda de carga-horária. Realizar formações nas próprias escolas e articular o trabalho dos docentes ajudaria bastante.



ANEXO:

Prática Pedagógica: no Brasil, tempo em Sala de Aula é mal aproveitado
Fonte: Revista Nova Escola, junho/julho de 2011, p. 39.


De acordo com um estudo realizado pelo Banco Mundial, em Pernambuco, Minas Gerais e na cidade do Rio de Janeiro, os docentes brasileiros gastam mais tempo do que os de países da OCDE (os mais desenvolvidos do planeta) em atividades de administração da sala (organização de grupos, pedidos de silêncio etc.) ou mesmo não-acadêmicas (como idas à Secretaria [da Escola] durante a aula). Veja o Gráfico (grifos nossos):


Atividades de Aprendizagem
Administração de Sala de Aula
Atividades não-acadêmicas
Cidade do Rio de Janeiro
62%
31%
7%
Minas Gerais
65%
26%
10%
Pernambuco
61%
27%
12%
OCDE
85%
15%
0%

Curiosidade: No Ensino Superior, entre 35 países (os 30 da OCDE e mais 5 emergentes) o Brasil ocupa o  último lugar no ranking “da população com diploma universitário”.

(Ernesto Faria, especialista em análise de dados educacionais; in: Revista Nova Escola, junho/julho de 2011, p. 39.)


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