terça-feira, 15 de dezembro de 2015

JORNAL MIRIENSE TERIA DE PARAR?... OPINIÃO DO POEMEIRO DO MIRI

Prof. Israel Araújo (Editor do Poemeiro do Miri)
Presidente da Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)
Cadeira n. 07 - Manoel Luiz F. Fonseca


(Reprodução da capa do JM, dez. 2015)

Nas últimas semanas, Igarapé-Miri foi informado de que o Jornal Miriense (JM), sucessor do Jornal Mensageiro do Miri, fundado em 01 de janeiro de 1980 (isso, mesmo; 1980), iria colocar nas ruas a sua "última edição". Que encerraria suas atividades, de acordo com postagem de rede social, de seu Editor-chefe e Fundador, Dorival Pereira Galvão. O próprio Galvão já havia confidenciado que as dificuldades para manter um periódico mensal, em uma cidade pequena como a nossa e pouco acostumada à leitura de jornais, de uma certa maneira (acrescento). E tal se fez cumprir, com a chegada às ruas da edição especial de número 200.

O jornal traz uma chamada de capa que anuncia: "Encerra-se aqui a longa história do jornal mais lido do Baixo Tocantins", além de notícias sobre a administração municipal, casos de violência urbana, a denúncia do Sintepp local (no Ministério Público Estadual), entre outros temas. Acostumados à leitura do JM, uma boa parcela do povo igarapemiriense saiu à busca da edição especial, já anunciada, e se deparou com a informação estampada ("ÚLTIMA EDIÇÃO"). Dorival Galvão sempre confidenciava, entre chegados, que a última edição sairia depois de seu falecimento...

Acontece que a saída de cena do JM lança sobre Igarapé-Miri algumas indagações sobre a presença da mídia jornalística produzida e feita circular nestas terras: a) quais jornais conseguirão manter uma estrada tão longa ou que ao menos se aproxima da trilhada pelo JM?; b) os jornais A Folha de Maiauatá e jornal Sementes, que circularam por uns anos e pararam: será possível o Tribuna Popular ou outro periódico seguir essa estrada, ainda mais em tempos de produtivas mídias virtuais ("alternativas")?; mais que isso: c) em tempos de Blogs, páginas de relacionamento e grupos de WhatsApp, os jornais impressos terão condições de continuar a conquistar leitores(as), em Igarapé-Miri?

Sem respostas ou com sugestões de respostas, o certo (se posso falar de "verdade", aqui)  é que a saída de cena do JM deixará uma lacuna (foram 35 anos de atividades) e um bom desafio a quem queira trilhar essa estrada, em Igarapé-Miri.


Na UFPA, Jornal Miriense foi tema de uma pesquisa de Mestrado

Este mesmo professor, quando de sua proposta de pesquisa para o Mestrado em Letras no PPGL (Programa de Pós-Graduação em Letras), pautou o JM como corpus de análise, em razão da cobertura da ação política da mulher na sociedade igarapemiriense, sobretudo nos anos 2004 até fins de 2008 (períodos de campanhas à Prefeitura de Igarapé-Miri, com uma mulher sendo eleita em 2004 (Dilza Maria Pantoja Corrêa), governando entre 2005 e 2008 e sendo novamente candidata, em 2008; desta vez derrotada). O recorte da pesquisa levou em conta essa maior efervescência de publicações que tematizavam a mulher que atua(va) na política de Igarapé-Miri, em razão da estrada jornalística trilhada pelo JM e em razão de o fazer jornalístico ser visto, na pesquisa, como uma prática discursiva. Assim, o Miriense foi entendido como "um veículo da mídia impressa, de abrangência local, apesar de circular esparsamente em outros municípios além de Igarapé-Miri. Neste texto, esse veículo é chamado de Jornal Miriense, Miriense ou JM. Para além da função de informar a população e publicar a ocorrência de fatos de interesse social, o Miriense ajuda a instituir uma realidade por meio de sua ação discursiva" (ARAÚJO, 2015). Israel Araújo cursou Mestrado em Letras, na UFPA, entre os anos de (março de) 2013 e junho de 2015.

Entre os principais objetivos do estudo, estava investigar as relações interdiscursivas que constituem esse exercício enunciativo jornalístico. Intitulada "A enunciação da ação política feminina em Igarapé-Miri: um estudo das relações interdiscursivas no Jornal Miriense", a pesquisa foi orientada pela Dra. Fátima Pessoa (PPGL-ILC) e recortou mais de oitenta textos do JM para análise, sob a ótica da Análise do Discurso de linha francesa (AD), entre outros procedimentos teórico-metodológicos. Dois principais grupos de textos foram recortados; (i) os que tratavam da ação da mulher que atua em diversas funções; (ii) os que tratavam da ação específica da prefeita de Igarapé-Miri, redivididos entre os que faziam referências positivas a seu trabalho e os que o combatiam.

Entre os resultados a apontar, podem ser citadas as relações entre discursos do JM que enalteciam a figura da mulher e/ou da prefeita e os que combatiam (inclusive sob recurso à figura da ironia) a citada atuação política. A presença da religiosidade cristã trazida à cena enunciativa também foi fartamente constatada, além da veiculação de estereótipos atinentes à relação da mulher com o campo do trabalho, na medida em que, à mulher com atuação pública em Igarapé-Miri, o JM convocou reiteradamente a presença do magistério (atuação como professora ou ex-professora); o recurso às sugestões sobre um perfil de corpo feminino, vinculado à imagem da gestora e posto à distância de parâmetros como o da boneca "Barbie" ou da Xuxa Meneguel, também foi bem explorado discursivamente, pois o veículo. A prefeita, sendo mulher e tendo seu trabalho combatido, ao ser apresentada nas publicações, parecia criar maior efeito de sentido quando das provocações sobre sua aparência e sugestão de desalinhamento a padrões de beleza... do que no que se refere a uma atuação de governante, de administradora de um município. Para falar de algumas questões, apenas.


A seguir, o Resumo da Dissertação(*) apresentada à Banca de Defesa, no dia 25/06/2015:

A presente dissertação discute a maneira adotada pelo Jornal Miriense (JM) para apresentar a seus leitores a mulher que tem atuação pública/política no município de Igarapé-Miri (PA), seja no que concerne à análise de uma cobertura jornalística mais voltada para a própria personalidade política, seja no que concerne ao exame de uma enunciação que se volta para a divulgação de ações políticas mais específicas, tais como a atuação em movimentos sociais e na prefeitura de Igarapé-Miri. Investiga-se o funcionamento discursivo do fazer jornalístico que se materializa no Jornal Miriense, veículo produzido no município de Igarapé-Miri há 35 anos, especificamente no conjunto de publicações veiculadas entre os anos de 2004 a 2008. Foram constituídos quatro grupos de textos, definidos como G1, G2, G3 e G4, os quais apresentam a atuação feminina em diversas funções públicas/políticas (G1 e G2) e na função específica de prefeita de Igarapé-Miri (G3 e G4). Nas publicações, buscou-se atentar para as articulações entre o fazer jornalístico e a vida pública/política em Igarapé-Miri, bem como entre discursos sobre o lugar social da mulher e a dimensão de gênero que pode impactar o modo de se dizer, midiaticamente, acerca da aparição pública/política feminina no JM. De que maneira essas articulações geram sentidos nas publicações analisadas é uma indagação que define concretamente o horizonte principal postulado para a pesquisa: investigar as relações interdiscursivas constituintes do Jornal Miriense, materializadas nos textos que tematizam a ação pública/política feminina, em Igarapé-Miri. A investigação se baseia em postulados da Análise do Discurso da linha francesa (AD), especificamente com base no modelo defendido por Dominique Maingueneau (1997, 2008, 2011), adotando-se as seguintes ferramentas teóricas e analíticas: interdiscurso, prática discursiva, cena de enunciação e dêixis discursiva. Acredita-se que a enunciação jornalística do JM expõe relações interdiscursivas convocadas nos textos para se referir à figura política tematizada, estabelecidas por um conjunto de cenas enunciativas, que se sustentam em elementos da dêixis discursiva adotada. Nessa interface, ganha vital relevância a imbricação entre mídia e discurso, razão pela qual a pesquisa ancora-se em postulados de autores como Gregolin (2007), Lage (2005), Melo (1994) e Miguel (2002, 2003a). Foi possível constatar um conjunto de relações interdiscursivas que apontam para a articulação entre o discurso jornalístico do JM com a prática religiosa em curso em Igarapé-Miri, bem como entre essa prática jornalística e a prática política que ajuda a constituir a vida pública municipal, assim como entre a prática discursiva jornalística e a dimensão de gênero, a qual impacta significativamente o funcionamento discursivo do JM ao enunciar sobre a mulher com atuação pública/política em Igarapé-Miri.

Palavras-Chave: prática discursiva jornalística; relações interdiscursivas; gênero; política; Igarapé-Miri; Jornal Miriense.




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(*) A Dissertação foi aprovada sob inúmeros elogios e apresentação de sugestões para melhoria, com conceito final "Aprovada com indicação à publicação".

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