sábado, 4 de abril de 2020

OPINIÃO: O "jejum" de Bolsonaro e aliados é político, nazista e desumano

Israel Fonseca Araújo (editor, fundador; e-mail: poemeiro@hotmail.com)
Professor, poeta/escritor; membro da Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



(Imagem "Jejum Nacional"; divulgação: Catraca Livre)


Está circulando nas redes sociais, terrenos férteis e poderosos eficientemente usados pelo chamado bolsonarismo (seguidores/as de Jair Bolsonaro e filhos parlamentares), uma chamada para um "JUJUM NACIONAL", que será realizado no dia 05 de abril de 2020. A convocação, que mistura Estado, política e religião, acendeu mais e mais os ânimos dos brasileiros(as) - entenda-se:

(1) dos brasileiros(as) que seguem o "Messias" carioca de peito aberto e cegamente (não confundir, em hipótese alguma, com Jesus Cristo) , o que inclui milhares de robôs que atuam diariamente, sobretudo no Twitter,  em defesa do "mito" (texto de Carolina Freitas, publicado no dia 03/04/2020, intitulado "55% de publicações pró-Bolsonaro são feitas por robôs", tratava de um "Estudo da UFRJ e FespSP analisou 1,2 milhão de tuítes a favor do presidente com ajuda de software que identifica robôs" (fonte: https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/04/03/55-de-publicacoes-pro-bolsonaro-sao-feitas-por-robos.ghtml): trata-se de uma pesquisa que levou cerca de dois anos para ser construída, formatada, para poder tratar dos dados aos quais a mesma se dedicou - as "tuitadas" sobre o #BolsonaroDay, no dia 15 de março último, quando pessoas foram às ruas para defender Bolsonaro e suas posições, protestar contra confinamentos horizontais e se opor às orientações da OMS - Organização Mundial de Saúde acerca dos cuidados em tempos de pandemia de Coronavírus; já que Jair Bolsonaro se opõe às orientações da OMS, seguidores foram às ruas no dia 15.03.2020, bem poucos, claro); e também

(2) dos brasileiros(as) que enxergam Bolsonaro como uma ameça real à economia do País, um empecilho ao desenvolvimento do Brasil, um ícone de "atraso" diante do Mundo e uma real ameaça à vida/comida diária dos mais pobres deste Brasil.

Ainda há outros extratos, podemos ter certeza de que há, mas esses dois polos antagônicos ajudam a perceber o tamanho de nossa divisão política e ideológica nacional. Brasil dividido, muita gente quer fazer valer seus argumentos e pontos de vista como se estivessem nas rodas de bar (que são muito importantes, claro...) ou nas aglomerações de fanáticas torcidas de futebol. Alias, o brasileiro(a) que costuma dizer que "não gosta de política" ou que diz que é "a político" (neste caso, seria um extra terrestre (ou uma "grávida" de Taubaté, SP), pois é impossível sermos a políticos) costuma resolver suas diferenças ideológicas com outrem na base dos gritos, das torcidas ou, até, colocando a "culpa" da coisa no Deus cristão (vivem dizendo que, se o Brasil está assim, é por vontade divina). Até se esquecem de que, pela fé citada aqui ao lado, o objetivo é "que todos tenham vida, e a tenham em abundância"; e que todos e todas vivam muito bem, pois seria o caso de (mandamento) "amar o próximo" assim como se ama a Deus.

Assim pensando, se o Brasil vive uma pandemia ("enfermidade epidêmica" amplamente disseminada) de Covid-19, uma espécie de estado de caos planetário, se há um Presidente, espécie de Chefe da Nação, um líder político (já que a política move o Brasil e o Mundo, claro) à disposição do país; se temos uma "pessoa" que fez juramento perante a Constituição de 1988, de que irá prover o bem-estar da população e trabalhar pelo crescimento nacional, então é de se esperar que o Chefe de Estado-Nação vá (de fato) trabalhar - arduamente e de domingo a domingo - em defesa da população (sobretudo das pessoas mais pobres, dos desempregados, dos subempregados e dos trabalhadores informais), é de se esperar que, de imediato, venha a prover meios de a população mais desassistida poder enfrentar a pandemia do Coronavírus.

Esses meios, claro, são auxílios financeiros às pessoas dos grupos de risco (em sentido social, econômico e de saúde); é para isso, inclusive, que o povo escolhe uma pessoa para governar um país, é para providenciar meios de a população enfrentar mazelas sociais (caso de vírus, p. ex., fica transparente a ideia de que essa transmissão é planetária e de que os discursos de culpabilização de pessoas, em particular, devem ser refutados).

Mas, em vez de o Presidente do Brasil agir como Chefe de Estado-Nação, ele vem a se juntar a pastores de denominações "evangélicas", que são seus aliados políticos e beneficiários diretos de atos políticos do Presidente Bolsonaro, e acaba misturando o poder estatal (que é laico, que nada tem a ver com fé ou religião da linhagem que seja) com atuações religiosas de pessoas específicas (atuações de um determinado campo, justamente onde se encontra uma parte de seu "curral" eleitoral!): pessoas físicas como Marco Feliciano, Silas Malafaia e Edir Macedo, entre outros. E, como se diz no popular, vem um "presidente", liderança de governo (que precisa prover meios objetivos à população que terá de ficar nas casas, sem trabalhar, que perderá postos de trabalho - por culpa da pandemia), chamar as pessoas a jejuar (se abster de se alimentar); justamente boa parte da população que não tem meios de, sozinha, prover seus sustentos pessoais/familiares: não lhes parece uma postura de deboche, de humilhação política, da parte de uma pessoa que tem as melhores e mais caras iguarias à sua disposição, todos os dias? Não lhes parece que é uso político do sofrimento das pessoas, travestido de "demonstração de fé"? Não dá esses estalos em vc?

Eu fico aqui pensando que se trata de uma postura de exceção (inclusive de excetuar, de fato, os católicos...), que se transforma (essa chamada dos "pastores" e dos aliados do Presidente, com aval incondicional deste) em política de higienização contra a população (sim, nazistas têm a prática higienista como pilar de suas políticas de ataques às pessoas, pessoas que eles não querem ver vivendo sobre a face terrestre), espécie de "limpeza", ato de varrer para longe os indesejados, política de exclusão e das mais cruéis possíveis. Nada mais desumano do que, neste momento em que o governo federal já deveria ter distribuído o Auxílio Emergencial de R$ 600,00 às pessoas habilitadas a receber (o que não fez, até hoje, tio quem torce pela convulsão social, na qual se agarraria com vontade de lucrar politicamente com a desgraça alheia), surgir o Exm. Sr. "presidente" zombar de toda a população católica do Brasil e se mascarar de "homem de Deus" às custas de uma tragédia internacional.

Ainda bem que as posições católicas são claras em relação a essa prática desumana (desvinculada do amor cristão, pode-se supor), convocado pelo bolsonarismo. Confira (o item 7 é muito elucidativo):

Aos CATÓLICOS

(Autor: Padre Rômerson de Souza Almeida, via redes sociais)


"Alguns pontos que devem ser observados sobre esse chamamento do Presidente:  

1. Nós católicos não fazemos Jejum no domingo, porque entendemos que o Domingo é o dia em que celebramos a Ressurreição do Senhor, e neste caso é dia de festa... 
2. Além de nós católicos sermos orientados à prática do jejum, somos convidados de maneira mais intensa a vivenciá-lo neste tempo da Quaresma... 
3. O jejum/abstinência como preceito, isto é, que somos chamados a seguir é na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo (é uma obrigação dos católicos)... 
4. Não é o presidente que tem a missão de convocar a um Jejum, mas a consciência e a fé de cada um e a Igreja... 
5. Ao presidente cabe garantir que em todos os lares e famílias aja, neste tempo de crise, sustento (alimento) para que ninguém faça um jejum obrigatório pela falta do que comer... 
6. Não vejo sinceridade no chamamento do Presidente para este Jejum, uma vez que não partiu dele mesmo, de sua experiência de fé, mas de um grupo de pastores a ele alinhados politicamente... 
7. Não se pode permitir que a prática religiosa do jejum seja instrumentalizada pela política ou por ideologia político/partidária... 
8. Cada um decide segundo sua consciência, porém nós católicos somos chamados a obediência à Santa Mãe Igreja, neste caso, consulte seu Bispo sobre a conveniência de se fazer jejum no dia de domingo de Ramos. Fiquem em paz!"

(FIM)


Esta seguinte publicação também ajuda a entender em qual terreno o "Brasil" está se solidificando, nestes tempos: o das "fake news":


MAIORIA DE TUÍTES A FAVOR DE BOLSONARO SOBRE CORONAVÍRUS É FEITA POR ROBÔS

Estudo analisou 1,2 milhão de posts no Twitter entre 1 de janeiro e 15 de março em relação à pandemia da covid-19 e às manifestações do dia 15

(Por Agência O Globo)


Metade das publicações de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter durante a pandemia do novo coronavírus no país e da manifestação pró-governo e contra o Congresso Nacional e o Judiciário, no dia 15 deste mês, foram disparadas por robôs.

Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP) mostra que 55% dos 1,2 milhão de posts que usaram a hashtahg #BolsonaroDay foram feitas por robôs, contas automatizadas, como de ciborgues, e contas semiautomatizadas.

Os pesquisadores coletaram dados sobre as hashtags mais utilizadas pelos grupos de apoio ao presidente no Twitter entre 1 de janeiro a 15 de março. O grupo identificou 22 mil hashtags que foram rankeadas em uma lista das mais frequentemente usadas. Segundo o estudo, foram identificadas 66 mil contas responsáveis pelos cerca de 1,2 milhão de tuítes.

Os robôs que usaram a hashtag #bolsonaroday postaram cerca de 700 tuítes no domingo em que ocorreu os atos pró-governo. Os perfis mais ativos chegaram a publicar uma média 1,2 mil tuítes por dia. O estudo contatou ainda que os usuários reais têm uma média de três a dez tuítes por dia. Os mais ativos chegam até 50 tuítes por dia.









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