BIOPODER
(Fernando Farias, Academia Igarapemiriense de Letras; UFPA)
S |
emana passada tive que intervir em apoio a uma
funcionária do supermercado. Uma cliente mal educada chegou sem máscara e quis
forçar entrada no estabelecimento. Ao ser abordada, informada da medida
sanitária governamental - que obrigava o uso desse item de proteção para
adentrar no comércio -, a desgraçada-ignorante chamou um quilo de palavrões e
tentou humilhar a trabalhadora. Incomodado, não dei desconto algum e me lancei
à oferta de desaforos: afrontei a arrogante como quem anuncia promoção de black friday.
A servidora, coitada, com os nervos em
atacado, me olhou com um olhar de recebimento de auxílio [emergencial]. A
aspirante de infração, enfurecida, foi recolhida feito produto fora da
validade. Já no estacionamento, a mulher subiu na moto e colocou o capacete.
Nesse momento, eu, vacinado [inclusive contra grosserias], me dirigi à porta de
entrada, ajustei os óculos, olhei para a resmunguenta e joguei mais um tomate:
- Vá sem capacete. Pra quê
capacete!? Isso é desnecessário!
Fui varrido por mais um lote
de batatas podres. A dona só não me chamou de última bolacha do pacote. Pelo
que pude calcular, a intransigente xingou, ali, em oferta rápida, uns três
fardos da minha família...
Como citar: FARIAS, Fernando. Biopoder. In: YAMASHIRO, Olga; POLI JÚNIOR, Ovídio. (Orgs.). Parem as máquinas! (Conto e Crônica). Paraty (RJ): Selo Off Flip, 2020, p. 366.
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Texto gentilmente cedido pelo autor a este Blog; agradecemos a disponibilidade e a gentileza. O autor é professor da UFPA, na Faculdade de Letras "Dalcídio Jurandir", Campus de Altamira; é Doutor em Educação pela USP. Em janeiro, integrará, como acadêmico perpétuo, a Academia Altamirense de Letras.
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