domingo, 30 de janeiro de 2022

Por que Lula segue firme na frente, mas Moro/Ciro/Bozo não (digamos, assim) sobe(m)

Israel Fonseca Araújo (editor, fundador). Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)

Contato: poemeiro@hotmail.com


I - É bem fácil explicar essa questão, pois uma espiadinha nos dados das pesquisas eleitorais dos últimos meses já mostra por que o "Merreco" paranaense não sobe. É porque "não se faz um político" se enraizar por todo o Brasil, em coisa de poucos ou de uns doze meses; essa construção leva anos e até décadas. Isso não aconteceu nem com Jair Bolsonaro, posto que "surpreendeu" nas urnas de 2018 - sendo que já era um político genuinamente enraizado no sistema político brasileiro, isso há mais de 27 anos (lá em out. 2018); Leonel Brizola, Cristóvam Buarque, Ciro Gomes e Orestes Quércia tbm não conseguiram: isso para citar somente poucos casos.

II - Nenhum político brasileiro tem a força social (inclusive o receber ódios e ataques, de adversários e/ou de inimigos) do tamanho de um Luiz Inácio L. da Silva; você não gosta de ouvir ou ler a palavra "Lula"? Pois é, posso abreviar pra vc. Mas isso não faz a realidade deixar de existir; os fatos estão e estarão aí, às nossas caras, neste ano, nos anteriores e nas próximas décadas. Nem eu, nem vc tem forças para alterar isso. Claro, podemos fazer a resistência - e a nós a fazemos, mas isso não altera nada em termos de mexer com as estruturas. A realidade é coisa para ser vista e analisada por pessoas maduras, grandes e esclarecidas.

III - Quem quiser ser menor ou ser obscurantista, que seja, mas a "pessoa" vai viver às escuras até morrer - e a realidade estará, dia a dia, lhe tapeando a cara. Lembrem-se de que Lula da Silva: (a) foi candidato a Governador do SP, em 1982; (b) foi deputado constituinte (com estrondosa votação - e foi um dos destaques dessa Constituinte); (c) foi candidato a Presidente do Brasil em: 1989, 94, 98, 2002, 2006 (venceu duas dessas); (d) atuou para eleger e reeleger sua sucessora, Dilma Rousseff (2010, 2014), e conseguiu nas duas; e Lula da Silva estava a um passo de se eleger, pela terceira vez, em 2018, se não fosse uma condenação comprovadamente ilegal e abusiva cometida (criminosamente) por Sérgio Moro (chamado pelo dep. fed. pelo PSOL-RJ Glauber Braga de "juiz ladrão": com finalidade didática rsrs). Observemos o tamanho dessa estrada e os feitos de Lula da Silva, nela.

IV - As pesquisas dos últimos meses (mais de um ano, já) demonstram a força - histórica e atual - de Lula da Silva (veja a mais recente, do Ipespe, clicando Aqui). Via CNN Brasil, vc pode acessar os mesmos dados, clicando Aqui. Especialistas na área lembram que, nas últimas décadas, no Brasil ninguém teve tanta chance hipotética de vencer uma eleição aos moldes das atuais chances de Lula (nem mesmo Fernando Henrique Cardoso, quando venceu duas em primeiro turno); "chance hipotética" é um jargão, pois a realidade é desanimadora para os adversários de Lula da Silva, no ano passado e neste ano (de baixo para cima: Ciro Gomes, Sérgio Moro e Jair Bolsonaro).

A título de curiosidade, vejamos os principais dados da pesq. Ipespe (via CNN Brasil) - grifos são nossos:

Intenção de voto estimulada para presidente – cenário COM Sergio Moro (Podemos):

 Lula (PT) – 44%; Jair Bolsonaro (PL) – 24% [20 pontos de diferença, não?]

Sergio Moro (Podemos) – 8%; Ciro Gomes (PDT) – 8% [empatados, mas Ciro, na série histórica das consultas populares, não consegue jogar Moro pra baixo]

João Doria (PSDB) – 2%; Simone Tebet (MDB) – 1%

Rodrigo Pacheco (PSD) – 1%; Alessandro Vieira (Cidadania) – 1%

Felipe d’Avila (Novo) – 0%

Branco/nulo/não vai votar – 8%

Indecisos – 4% 

Intenção de voto estimulada para presidente – cenário SEM Sergio Moro (Podemos)

  • Lula (PT) – 44%; Jair Bolsonaro (PL) – 26% [Jair "ganhou" dois pontos de Moro]
  • Ciro Gomes (PDT) – 9%; João Doria (PSDB) – 4% [Dória "ganhou" dois pontos de Moro, Ciro ganhou um]
  • Simone Tebet (MDB) – 1%
  • Rodrigo Pacheco (PSD) – 1%
  • Alessandro Vieira (Cidadania) – 1%
  • Felipe d’Avila (Novo) – 1%
  • Branco/nulo/não vai votar – 10%; Indecisos – 4% [Observemos que o "Branco, NUlo, Não vai votar", que era 8%, subiu para 10% com a saída de Moro; os indecisos se mantém em 4%]


V - Conclusão, ou um olhar deste Blog: Bolsonaro e Dória (o BolsoDória de 2018) ganham dois pontos, cada, com a saída de Moro; não existe a tal de transferência completa de intenção de votos de Sério Moro para Bolsonaro. Moro carrega contra si inúmeras suspeitas, de conduta ética, de idoneidade moral etc., mas a dúvida mais popularizada é se ele será, mesmo, candidato ao Planalto sem chances de vencer - ou, sequer, de ir ao segundo turno: suspeita-se que ele possa concorrer ao Senado, por SP ou DF, para tentar conseguir foro privilegiado e se livrar com mais facilidade de possíveis futuras condenações; mas isso é leitura, são conjecturas.

VI - Deixamos umas reflexões e vc, a tds Nós:

1 - Por que um Ciro Gomes (atualmente, no PDT) não consegue chegar ao terceiro lugar, mesmo já tendo sido candidato a Presidente outras vezes?

R: Possivelmente, é porque as popularidades de Bolsonaro e de Moro ofuscam o cearense; a força política de Lula da Silva (inclusive e principalmente no Nordeste) não permitem que Ciro fure essa "bolha". Para piorar, a principal estratégia política de "Cirão das massas" tem sido atacar o PT e a pessoa de Lula e o povo não demonstra, neste momento, interesse em saber de brigas e de ataques pessoais: as preocupações principais dos eleitores(as) são com a vida, as vacinas, o emprego (e o pavor do desemprego), o custo dos alimentos (preço da carne bovina, p. ex.), do gás de cozinha e dos combustíveis - para citar apenas uns itens. Ciro não consegue "roubar" votos de Lula, nem furta uns zinhos dos "devotos do Mito".

2 - Por que um ex-Juiz, que ontem era uma "celebridade" nacional, não consegue decolar e ultrapassar o presidente-candidato?

R: O mais plausível, a nosso ver, é porque lideranças políticas não se fazem do "dia para a noite"; igualmente, porque políticos monotemáticos não se enraízam nos tecidos populares (Moro só fala de "coopção" ou "combate à coopção"; é uma pessoa com reduzida e limitada capacidade intelectual e fraquíssimo manejo do discurso político (neste quesito, Lula e Ciro são PHDs). Moro fala e encanta uma parte da população nacional, mas em um estado federado - a depender de certas táticas e cenários - pode ser bem sucedido disputando uma vaga ao Senado Federal). Enquanto uma parte das pessoas veste a camisa da CBF e sai a se divertir em "passeatas" de domingo, a maioria do povo quer saber se vai ter comida, gás etc. e como se deslocar para trabalhar - e se terá como ganhar a comida diária.

3 - Por que um "Presidente" no exercício do mandato, com a caneta e a dinheiro na mão, não consegue decolar e ultrapassar um "ex-presidiário"?

R: Possivelmente, é porque se trata de uma pessoa que não tem, em si, as credenciais de pessoa, de um líder político que viva como gente (que sofre com a dor das doenças e das mortes de seu povo, com a fome de outrem e com as dores de quem vai às ruas sofrer frio, fome ou morrer à míngua). Chamado popularmente de "Coiso" (ou seja, de não gente), diante das mortes dos brasileiros(as), Jair fala, tranquilamente: "E daí?, eu não sou coveiro" (ou seja, ele diz que não tem o dever de enterrar as pessoa de sua (nossa) família, quando morrem de Covid-19 e/ou de outras doenças; "isso não tem nada a ver comigo", quer dizer ele). Essa indiferença ao sofrimento das pessoas, inclusive das que morrem ofegantes, sem conseguir respirar (ao que ele faz deboche e imitação zinha de "ofegar"), não abala seus 23% a 27% de aceitação, ou perto disso, mas o fato de não dar resultados na questão do emprego, na economia e na vida vivida de nosso povo conta muito contra ele; para piorar: Jair não consegue falar de seus problemas, nem demonstrar que está governando o país (até em dias normais de trabalho, ele é filmado com moças em lancha, curtindo uma praia, dançando um funk...), é incapaz de mostrar um cenário mais animador à nação: assim que é questionado sobre os seus indícios de corrupção ou sobre a inércia de "seu governo" (seria do Centrão?), ele jorra seu ódio pessoal contra "o Lula e o PT", a "Venezuela", os "Comunistas e esquerdopatas" e defeca outras merdinhas similares. Seus devotos nada querem saber disso, ou de suas incapacidades como governante, mas cerca de 75% de nosso povo, sim, quer. Acontece que não há como comparar as forças políticas e as infiltrações populares de Lula e Bolsonaro, não tem como convencer quase dois terços de nosso povo de que Lula e Bolsonaro são, politicamente, do mesmo tamanho; é quase uma distância entre "céu" e "inferno".

4 - Por que, retirando o juiz "ladrão" do tabuleiro, mesmo assim a preferência de Ciro ou de Bolsonaro (pai) não decola e ultrapassa o Lula da Silva?

R: Acontece que o cara a quem o carioca Glauber Braga assim chamou não transfere um mundão de votos para Jair (seguidores de um e de outro estão se portando como inimigos, ultimamente; apesar de a "conja" de Moro dizer que o esposo dela e o da "Micheque" são a "mesma coisa", são uma só pessoa); acontece que o ex-Juiz e maior aliado de Bolsonaro de 2018 não "tem" 23% ou 25% de votos para jogar no coo de Ciro ou do Bozo. Mais que isso: (i) em preferenciais eleitorais, captação de votos (não disse devotos, fique claro) não se faz tal qual as transferências bancárias; pessoas não são meros números: ao sair o Moro do tabuleiro, a pessoa mede bem sua decisão (alguma coisa vai ao falecido João Dória, que já brochou antes mesmo da penetração eleitoral), um pouquinho segue ao Jair, um tantinho vai parar no Ciro; (ii) outra explicação passa por isto: Lula da Silva tem uma estrondosa força política/eleitoral nacional:

(a) foi candidato a Governador do SP;

(b) foi deputado constituinte (foi um dos destaques dessa Constituinte);

(c) foi candidato a Presidente do Brasil em: 1989, 94, 98, 2002, 2006 (venceu duas dessas);

(d) atuou para eleger e reeleger Dilma Rousseff (2010, 2014): foi vitorioso nas duas batalhas; e estava a um passo de se eleger, pela terceira vez, em 2018, se não fosse retirado do tabuleiro por... Sérgio Moro;

(e) somente Lula da Silva é do Partido dos Trabalhadores: maior partido do Brasil e da América Latina (isso é a realidade; não é uma torcida ou um (des)amor; vc pode amar ou odiar a vida, mas ela é do jeito que a realidade mostra e prova - fugir da realidade não faz com que esta deixe de existir). Mesmo no auge da popularidade de Sério Moro + Bolsonaro (2014 a 2018), o PT não deixou de ir ao segundo turno, obtendo mais de 47 (quarenta e sete) milhões de votos (dados a um inexperiente candidato, o prof. Fernando Haddad); o citado partido foi ao segundo turno de todas estas eleições para Presidente: 1989, 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 - e está praticamente colocado, pelo povo, no seg. turno desta disputa de 2022 (se não vencer no primeiro turno, o que é um tanto pouco provável, mas não está descartado). Por que eles não "decolam" contra Lula da Silva? Resumo a tds nós: é porque nenhum desses é Lula da Silva, nem é do PT. É porque a realidade do Brasil mudou drasticamente, se comparada a 2015, 16, 17 e, sobretudo (eleitoralmente), a 18.

VII - Podemos ter ódio dessa pessoa e de seus partido, mas isso não faz a nossa realidade deixar de existir; só prova(ria) que nós não conseguimos enxergá-la tal como é.


Exc. fim de domingo; Israel Araújo (45) é professor e escritor, poeta, pesquisador e blogueiro.

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