sábado, 7 de maio de 2022

Xadrez. PCdoB no Miri e a “batata” que assa nas mãos do Prefeito Roberto Pina

(1) Há umas semanas, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) deu sinais de que quer rifar Vadinho da Secult de Igarapé-Miri, Nordeste do Pará. Posta a “bronca”, expliquemos com calma. Vadinho é o servidor público Josival Moraes Quaresma, pessoa muito querida nos meios administrativos, políticos e de governo na Terra do Açaí. Secult é a Secretaria Municipal de Cultura, Desporto e Lazer. Trata-se de uma pasta que está na cota política do citado partido – o qual ajudou Roberto Pina Oliveira a se eleger, pela terceira vez, prefeito miriense.

O Conselho de Cultura de Igarapé-Miri (COMCIM), em Nota datada de 08 de abril de 2022, manifesta que, em Reunião:

 

realizada no dia 08 de abril de 2022, deliberou pela formulação de uma Nota Pública de Apoio ao Secretário Municipal de Cultura, Desporto e Lazer, e, por isso, vem por meio desta, repudiar o conteúdo expresso no documento oriundo do Diretório Municipal do Partido Comunista do Brasil – PCdoB/Igarapé-Miri, datado de 06 de abril de 2022, assinado por seu Presidente o senhor ELIVELTON PEREIRA DAS NEVES, no qual o Presidente do Diretório Municipal do Partido Comunista do Brasil requereu ao Poder Executivo Municipal a substituição do Secretário Municipal de Cultura, Desporto e Lazer, e manifestar seu apoio à permanência do senhor JOSIVAL MORAES QUARESMA no cargo de Secretário Municipal de Cultura, Desporto e Lazer (fonte: comcim.clickpede.com/nota-publica; grifo na Carta).


O partido comunista tem, dentre os 15 vereadores(as), o advogado Rogério Sampaio. Assim pensando, lá por alto, a gente poderia dizer que o partido “está” de cabeça no governo petista. Será? Mas, nesse imbróglio não há evidências e/ou pistas de que Sampaio esteja tomando um lado das disputas. 

(2) “Batata” queima a coxa de Roberto Pina. Liderados pelo presidente do Diretório local (Sr. Elivelton Pereira), boa parte das lideranças locais buscaram o prefeito Pina para reivindicar a saída de Vadinho do comando da Secult, alegando que o mesmo não atenderia mais aos anseios e “expectativas” do partido. Nesse ponto o “macaco” começa a se contorcer na malhadeira (ditado popular não racista). Acontece que não se sabe, de público, quais as “expectativas” do partido; nem se sabe se essas tais “expectativas” partidárias – ou de lideranças do partido – estão embasadas na Constituição Federal vigente (a de 1988) ou na Lei Orgânica de Igarapé-Miri, se estão agasalhadas pelas orientações dos tribunais de controle, pelas diretrizes da LOA (Lei Orçamentária Anual) e assim por diante.

(3) Publicamente, não vazou nada sobre as possíveis saídas às quais o prefeito recorreria. Sabe-se que essas costuras passam (i) pela postura dos parlamentares na respectiva Casa de Leis (assim sendo, ponto desfavorável ao pleito, pois governantes querem obediência cega a tudo e Sampaio tem se mostrado um vereador independente; faz cobranças acerca de construção de escolas, concurso etc.), (ii) apelo social ao nome do titular implicado (aí, Vadinho se sai muito bem) e (iii) perspectivas de capital de voto e articulações com deputados estaduais, federais e senadores (ponto muito desfavorável ao pleito; preciso explicar algo, neste ponto?).

(4) Mais do que isso: Roberto Pina é muito focado na chamada eficiência da governança e no controle de gastos (investimentos), processos técnicos/políticos intimamente relacionados. Nos dois itens, Vadinho saiu-se muito (sejamos justos) muito bem. Ponto super bastante desfavorável ao pleito. A síntese de seus trabalhos (entenda-se, dele e de sua equipe), em 2021, é muito favorável, o que repercutiu positivamente dentro do COMCIM – Conselho Municipal de Cultura, Desporto e Lazer. Na Carta de apoio há sete robustas fundamentações e justificativas para que Josival Quaresma permaneça no cargo.

(5) O citado Conselho de controle social, inclusive, produziu Carta aberta e de apoio à permanência de Vadinho à frente da Secult (e fundamentou, técnica e politicamente a sua manifestação; link para acessar a Carta, clique aqui: Carta do COMCIM e lideranças da sociedade civil).

(6) Constrangimento padrão. O que significa a Carta do Diretório do PCdoB às autoridades estaduais em termos de constranger o prefeito Pina? Significa nada de mais; isso é padrão dentro do movimento de chantagens “eticamente” aceitas no campo político. Sim, nesse campo nada é mais aceitável, incentivado, praticado e recorrente do que as chantagens – sejam elas brandas, leves ou até super agressivas (lembrem-se de Jair Bolsonaro e as chantagens que o Centrão lhe faz, pelo que o chamado “Bozo” deu a chave do cofre a esses políticos – para poder se livrar de possível impeachment no Congresso). No Brasil não se pratica a política (comunitária, eleitoral, partidária e/ou de governo) sem operar com as chantagens.

O que a sigla está fazendo, no Miri, é aceitável dentro das regras políticas brasucas; o presidente do partido (Elivelton) pede que o Secretário venha a ser ou o Sr. Juatan ou o Sr. Elivelton. A deliberação partidária está na mesa do prefeito. Nesse caso, ao que indicam as pistas manifestas no silêncio do prefeito Pina, a jogada pode restar infértil. Mas, isso só será provado ou refutado no decorrer das semanas, dos meses. Aguardem.

(7) Futuro. Neste ponto é que residem as dúvidas mais significativas. O grupo político que tentou afastar Vadinho não tem dois deputados estaduais, um federal e um Senador; se tivesse e esses parlamentares bancassem a saída do secretário, aí a conversa seria outra. Se tivesse um ou mais vereador do PCdoB defendendo o prefeito Pina (com dentes e unhas) e esses parlamentares defendessem a saída do secretário, pronto. Mas a conjuntura é diferente.

(8) Por isso, ninguém se surpreenda se o tiro restar quebrando joelhos e respingando pólvoras a quatro quantos da cidade e dos rios mirienses. Pode ser (isso significa: possibilidade, campo das dúvidas, terreno das incertezas; nada de “matemática” nesse jogo de compreensão do que estou dizendo) que Pina mantenha Vadinho e o fortaleça na governança (pois, justiça seja feita: o PCdoB estadual largou Vadinho às traças no Miri, não deu ao mesmo o mínimo de articulações para ajudar o partido a crescer, no Mirir, e/ou ajudar Vadinho e seus companheiros a crescerem).

Nessa hipótese, a regra política brasileira determina que o secretário saia do partido e leve, consigo, parte dos filiados(as) e das lideranças que se afinem com ele; que ingresse em outra sigla e a fortaleça; que, nesse caso, poderia ser um partido mais próximo do campo da direita política – ou, até da chamada esquerda. Nesse caso, ficaria uma chata lição a políticos do Miri: não faça pulos maior do que as pernas lhe permitam movimentar-se.

(9) Pode ser (isso significa: possibilidade, campo das dúvidas, terreno das incertezas; nada de “matemática” nesse jogo de compreensão do que estou dizendo) que Pina retire Vadinho e o mantenha em algum outro espaço de governança; mas quem conhece (um pouco que seja) os pensamentos do Roberto, sabe que ele não costuma tomar lado em disputas e rachas que acontecem em partidos próximos ou vizinhos.

Mas, de qualquer forma, com as perdas de hoje, o racha partidário instalado, as reviravoltas partidárias estaduais etc., o mais provável é que o vereador Rogério Sampaio migre para outra sigla, no início de 2024. Nesse cenário, as cadeiras dança(ria)m mais freneticamente do que hoje.

É esperar; e ver se estou (estamos) entendendo a realidade política do Miri ou pisando os terrenos lunares.

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Israel Fonseca Araújo; professor e escritor

Editor (poemeiro@hotmail.com) 

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