(Isaac Fonseca Araújo, professor e editor do Jornal Tribuna Popular / Imagem: Facebook)
Na última sexta-feira (05/09/2014), dezenas de
crianças de nossa terra do açaí foram levadas por suas escolas às ruas, para
desfilarem em comemoração à chamada Semana da Pátria. Entre esses pequeninos
também caminhou minha filha Maria Clara, de 06 anos.
Indiscutivelmente estão de
parabéns todos os profissionais da educação pública de Igarapé-Miri pelos
valorosos esforços disponibilizados em prol desse projeto de educação cívica (a
Semana), traduzido em estudos, reflexões e debates nas escolas e nas
apresentações públicas como forma de celebração.
Por coincidência, no mesmo
instante em que Maria Clara experimentava aquela festa, embora ainda não muito
consciente dos significados e dos contrassensos imbricados nesse ato, eu
acompanhava, na UNICAMP (portanto, muito distante daqui), uma importante
discussão sobre os esforços que estão sendo feitos pela Comissão Nacional da
Verdade e suas congêneres para revelar ao Brasil as verdades sobre o vergonhoso
período da repressão imposta pelo estado brasileiro e recomendar medidas pelas
quais se possa fazer justiça e reparar parte dos muitos danos a que foram
submetidas centenas de famílias.
Pasmem os senhores, aquele debate
mostrou que em diferentes partes do país os casos de repressão e injustiças,
por isso crime contra a pessoa, continuam sendo praticados por agentes
estatais, embora já tenha sido declarado oficialmente o fim da ditadura. Tais
evidências me fizeram lembrar da realidade paraense, em especial de alguns
municípios dos quais tenho informações incontestes.
Em um deles, pertence à Região
Sul do Pará, o prefeito comanda um grupo de capangas que cumprem ordens para
reprimir “adversários políticos” de Sua Excelência, sempre que este se sente
desafiado. Há relatos de que o gestor e seus comparsas já expulsaram grupos de
manifestantes na cidade com uso de arma de fogo. Numa cidade próxima a esta
citada, o secretário de educação jurou (e tem feito todos os esforços para)
acabar com uma turma de graduação recentemente implantada no município dele
apenas porque as inscrições dos candidatos “não passaram pelas mãos” do
executivo.
É curioso que os métodos são
bastantes parecidos, conforme pude observar nas exposições: ameaças, agressões,
imposição da cultura do silêncio, extermínios... Uma narrativa que a mim
pareceu muito familiar.
Pois bem, antes que me perguntem:
e qual a relação desse fenômeno com a semana da pátria? Eu adianto: tudo! Penso
que esse momento de reflexão sobre a cidadania de um povo deve ser tomado
(também) como uma oportunidade para nos questionarmos acerca do valor da
democracia, da justiça, da inalienabilidade dos direitos humanos (isto é, todos
os direitos). Daí a importância de estimular em nossas crianças – além do gosto
pela comemoração, pela celebração popular – a curiosidade sociológica, de tal
forma que possamos, a partir dessas novas gerações, incidir de modo mais qualificado
na construção do lugar onde vivemos.
Digo isso para afirmar que um
estágio de independência plena só pode ser alcançado por meio de duas grandes
revoluções: uma na educação, notadamente no que tange à formação de sujeitos
questionadores e construtores do bem viver. E, outra, que ofereça condições
para o desenvolvimento econômico, não a qualquer preço, mas aquele que gera
qualidade de vida com justiça social, civilização cuja dinâmica não permite
nenhum tipo de violência.
Eu conversarei com a Maria Clara sobre essas
coisas, tão logo ela as compreenda. Que tal debatê-las com outros estudantes
que já possuem condições intelectuais para tanto?
Fonte: http://pontodevistaamazonida.blogspot.com.br/2014/09/independencia-sem-justica-social-o.html?spref=fb (Blog Ponto de Vista - avista de um ponto)
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