quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SEGUE UMA NOTA SOBRE ALGUNS FATOS RELACIONADOS AO PREFEITO DE IGARAPÉ-MIRI, AILSON DO AMARAL (DEM), O "PÉ DE BOTO"

prof. Israel Araújo


Há muitas publicações circulando na internet, majoritariamente em redes sociais e sites renomados (ex.: ORM, O Liberal, Diário online e Gazeta Miriense), sobre a prisão de dez pessoas em Igarapé-Miri, dentre as quais o atual prefeito municipal, Ailson Santa Maria do Amaral (DEM). A grande "baixa" é o Blog FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI (Blog do Gleyson Castro, um dos mais lidos no município). Em rodas de conversas, esquinas e na imprensa do Zé Povo, muita gente tem me questionado sobre esse silêncio de um dos maiores blogueiros mirienses dos últimos anos. Sempre que um fato se mostrava público e relacionado ao prefeito miriense, Gleyson se manifestava, mas agora ainda não publicou nada (ATÉ 17/09). O porquê disso não nos cabe indagar.

De nossa parte, temos adotado grande caladismo sobre a gestão de Ailson do Amaral, às vezes replicando notas, às vezes manifestando pontos de vista – tentando mostrar mais de um lado da questão -, mas a nossa regra é deixar o prefeito fazer suas ações, as mais polivalentes possíveis, e colher (nós colhermos) os frutos desses esforços do homem forte de Vila Maiauatá e de agentes do Governo de Mãos Dadas com o Povo.

A cidade vive um caos (antes do dia de ontem): os serviços de saúde, pagamentos de muitos salários, ausência de prestação pública de contas de recursos recebidos e outros aspectos a considerar nos dizem claramente que vivemos a maior DESGRAÇA ADMINISTRATIVA de nossa história municipal (nada a ver com sentidos religiosos/cristãos). MAS isso é fruto de decisões coletivas; temos de viver isso, de sofrer tudo isso e ver se faremos a mesma coisa com nossa terra daqui a uns anos. Podemos protestar, questionar as ações dos agentes governistas (incluindo-se o prefeito Ailson), reunir para tratar das mazelas e/ou situações mais graves enfrentadas por nós, moradores e moradoras.

Mas a “caneta” fica com o prefeito, com o vice-prefeito, com secretários de governo e com vereadores/as, por exemplo. E essas pessoas podem fazer muita coisa; uma vez que estamos muito desunidos/as, faremos o quê? Resmungar pelos cantos de quase nada adianta. É claro que uma família cujo líder/provedor está há dois meses sem receber passa por apuros, e temos de entender seus desabafos. Mas essas situações foram ANUNCIADAS NOS COMÍCIOS de 2012: um dia 01 de setembro, na canto da Praça “Sarges Barros” e mais outros dois, sendo um no bairro do “Tucumã” (ou seja, Cidade Nova) e outro nas Cinco Bocas. Teve outras falas no Meruú, na Vila Maiauatá, nos rios do Miri e nas mais diversas ruas da cidade – nas quais Roberto Pina (PT) nem passava e Ailson “Pé de Boto” (DEM) reinava soberano. Nesses pronunciamentos públicos, o então candidato estava dizendo à sociedade miriense que modelo de governo (gestão pública) ele implantaria em Igarapé-Miri.

Eu aceito isso de alma lavada. Nada tenho a ver com a situação pela qual passamos hoje. Se nosso Miri estiver “muito bem”, como dizem governistas, aliados de Amaral, parabéns para todos/as nós; se não estiver nada bem, se estiver prestes a entrar em colapso, vamos “agradecer” a quem de direito.

PODEMOS NOS MANIFESTAR?

Há em nosso meio social centenas de conversas que ninguém quer publicar, todas sobre o modo de trabalhar de Ailson do Amaral; nelas muita gente demonstra medo e muito medo de manifestar o que pensa sobre o caso e poucas são as dezenas de pessoas que o defendem e se calam, ao mesmo tempo (quem o defende quase sempre publica seus posicionamentos). Por que não podemos falar o que pensamos sobre um prefeito ou uma prefeita de Igarapé-Miri? O que nós significamos na nossa arena política municipal? O nosso valor se resume a “dar o voto” a cada dois anos? E se nos manifestássemos, sofreríamos que desvantagens por isso?

DEVEMOS TER MEDO E MUITO MEDO DO PREFEITO?

No dia 16/09/2014 uma das milhares de pessoas que defendem o atual prefeito miriense saiu de um carro e veio falar com uma pessoa querida minha. Meu conhecido perguntou pelo prefeito, se estava em Belém etc. (de maneira bem humorada). O defensor de Ailson respondeu: “Ele [prefeito] tá em Belém, não tá preso; tá só prestando depoimentos. Agora, eu tenho pena é de quem falou isso, quando ele voltar”. Respondeu meu colega, brincando: “Por que, o que ele vai fazer...?” E o camarada disse: “Não, ele não faz mal pra ninguém....”
Nisso essa pessoa que informava sobre o prefeito se calava, mas parecia querer falar mais, meio “embuchada”. Fiquei me perguntando: Será um recado que o camarada manda pra mim, pois ele viu que eu escutei as falas e ele sabe que eu não morro de paixão por Ailson. Tenho, sim, paixões, mas as mesmas não são da conta de (quase) ninguém. Por que toda essa sensação de ameaças, conforme insinuado pela voz do homem que saiu do carro...? Teremos mais pessoas ameaças, violentadas em suas dignidades?

Ainda chegarão os dias em nossos filhos, filhas, netos e netas irão dizer?:
“Quando fulano era vivo, a gente ainda escrever numa rede social”;
“Quando meu avô, o professor Israel, era vivo, antes de ele ser ASSASSINADO, a gente tinha um jornal que era produzido pelo irmão dele, o Isaac. Lembram deles, como foram assassinados?”
“Quando o Josias Belo era vereador, vocês lembram, ele denunciava muita coisa; mas nos dias de hoje...”

DIREITOS HUMANOS...

Faz pouco mais de um mês que uma ex-prima minha (uma pessoa que hoje não merece nem dois minutos de minha atenção, já que ela sentia gozos antecipados pela minha possível morte) foi a uma casa de pessoa querida minha, às gargalhadas, dizendo que “bem feito”, que além do Isaac, eu também estaria em uma lista de pessoas que devem(riam) MORRER, devem ser ASSASSINADAS por encomenda nesta cidade. O prazer dela era devido ao fato de Isaac e eu escrevermos e falarmos o que pensamos sobre as mazelas instaladas nesta terra (Isaac foi ameaçado de morte, dia 12/06/2014; eu nunca recebi e/ou soube de coisa parecida decidida a meu respeito). Pedi a proteção de Deus e continuo vivo, até esta data.

Isaac foi à Polícia Civil do Pará e às demais instâncias às quais conseguiu ir pedir intervenção; a Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA), através da Comissão de Direitos Humanos, veio até Igarapé-Miri, ouviu as queixas das pessoas, recebeu denúncias por escrito e levou o caso até o Ministério da Justiça – em Brasília.

Tivemos de nos pronunciar sobre a onda de mortes, extermínios e demais violências em acontecimento na cidade miriense, pois a Comissão de Direitos Humanos não sabia desses fatos; não acusamos nem “A”, nem “B” (pois não sabemos quem mata; quem deve saber disso é a Polícia, através de suas inteligências). Na mesma tarde, pessoas diziam: “olha, professor, foi muito bonito o que o senhor falou lá, mas o senhor corre muito risco(...)”. Eu só respondi que se eu ficar calado, também corro risco... No outro dia, o prefeito Ailson do Amaral esteve na Rádio miriense Progresso FM (freq.. 88,7) e disse o que ele pensa sobre muitas pessoas desta cidade, lideranças que ajudaram a trazer a citada Comissão até Igarapé-Miri. Seu assessor pessoal e assessor jurídico do governo, advogado Amadeu Pinheiro Corrêa Filho, esnobou da Diligência realizada por essa Comissão e disse que foi uma “ação política” para prejudicar Ailson e que ele, Amadeu, se sentia uma “flor amarela” em meio a uma multidão “vermelha”. Ailson disse, usando de sua peculiar escolha vocabular, que aquilo (ação da Comissão da Alepa) era uma coisa de “quatro gatos pingados do PT”; que seriam pessoas que estariam inconformadas com a derrota eleitoral, de 2012 (Roberto Pina (PT) foi derrotado por ele, em eleição para prefeito de Igarapé-Miri).

Ora, poderíamos perguntar: se 26 ou 28 pessoas são assassinadas em uma cidade pequena, entre 01 de janeiro e 16 de setembro do mesmo ano, isso é coisa que deve ser desconsiderada? Por que um prefeito ou uma prefeita JURA DIANTE das leis do país, prometendo que promoverá, através de suas ações de governo, o bem-estar dos munícipes que moram onde essa pessoa governará? Onde está o “erro”, quando pessoas pedem SOCORRO às autoridades para que a cidade onde moram seja tratada com mais amor, que as polícias trabalhem com mais transparência, que os vereadores/as possam fazer o seu trabalho de FISCALIZAÇÃO (quem quiser fiscalizar)? Por que temos tanto medo de falar, refletir, trocar ideias, quem sabe até contribuir com as discussões importantes que acontecem em uma cidade como a nossa?

Qual será o fim disso tudo?
Seremos apenas uma lembrança na história local e/ou na memórias de nossos entes queridos/as?


MUITAS, MAS MUITAS PUBLICAÇÕES

Dentre tantas e tantas publicações encontradas, que tratam da ação coordenada pelo MPE (Ministério Público Estadual) e Polícia Civil do Pará, realizada ontem em Ig.-Miri, há dados desencontrados, mas todas falam de prisão temporária (de 30 dias), que pode ser prorrogada ou pode até ser convertida em prisão definitiva. Se as pessoas ficarão presas, se não ficará, se já estão soltas etc., esses dados devem ser publicados. Por que não podemos falar sobre isso?;;;;

O prefeito de Igarapé-Miri, Ailson, já disse, na terça mesmo, que é “inocente até a alma”, que isso "é uma tremenda covardia" possivelmente de seus "adversários" políticos; que provará “sua inocência”, e garantiu que será reeleito prefeito: “Vou ganhar de novo as eleições em Igarapé-Miri”. Por quê, indagou um membro da imprensa; “porque o povo gosta de mim”, respondeu Amaral. O que isso quer dizer? É um TAPA NA CARA do povo miriense? Sabemos que sim, mas ele pode se defender, pode falar o que pensa, pode fazer muitas coisas (a lei lhe garante muitas coisas; temos de entender e aceitar isso). Se a justiça não acatar as denúncias, as provas oferecidas pelo MPE e Polícia Civil, se ele ficar fora do cargo de prefeito etc., tudo isso deve ser entendido com pertencente à democracia.

Se não gostamos da democracia, da forma que a mesma está “consolidada” hoje, podemos pedir que a Ditadura dos anos 1960, 70 e 80 volte; que pessoas sumam, fiquem desaparecidas, que grávidas sejam estupradas, torturadas, professores e intelectuais fiquem presos, que parlamentares percam seus mandatos e direitos políticos, que o Congresso Nacional (ou um “chiqueiro nacional”, como dizem uns) seja fechado etc. Mas essa é a realidade que temos hoje, podemos não concordar com ela: e não dá mesmo pra concordar, dizer que tá tudo bem, mas tá melhor do que há umas décadas trás.

Isso mudou PORQUE pessoas, entidades, segmentos sociais organizados, lideranças políticas (as que nos defendem) se mobilizaram e, pelo trabalho árduo de muitos, pelos protestos de muitos/as, nossa realidade melhorou um pouco.

E se ficarmos calados em Ig.-Miri, nestes anos de 2013, 2014, 2015..., se nada fizemos, se não nos organizarmos e se nada cobrarmos de autoridades, qual será nosso futuro? Melhor ou pior do que este futuro de 2014 (em 1982 o quadro era bem pior).
O que queremos pra nosso município?
Umas poucas dezenas de pessoas nos calarão? Calarão mais de 30 ou 40 mil pessoas? Que legado deixaremos aos nossos entes que ainda nascerão e aos que já estão quase nos multiplicando?
Sem as lutas de décadas atrás, este Blog não existia. Essas redes sociais seriam bloqueadas, não existiriam.
Não teríamos cargos providos por meio de Concursos Públicos; os “coronéis” continuariam mandando e desmandado – bem mais do que os de hoje – em nossos destinos. Nossos votos seriam bem mais direcionados do que as violações de direitos humanos praticadas nos dias de hoje.
Teríamos uma vida muito mais difícil do que a que levamos hoje. É claro que Igarapé-Miri regrediu a uma espécie de ditadura, só que “branca”, as liberdades individuas estão muito cerceadas, mas ainda podemos escrever e publicar, falar de nossos pontos de vista.

Mas, se nada fizermos, nada dissermos, se não pensarmos nas ESCOLHAS coletivas que temos feito e nas que temos de fazer, aí eu lamento muito, mas desceremos uns bons degraus nos próximos 6, 10 anos.

As pessoas mortas não voltam mais. Mas nós podemos continuar lutando por uma vida melhor.

O que significa viver?
O que significa ter vida em abundância, a vida que Jesus Cristo veio trazer até nós? (É nisso que cristãs e cristãos acreditam)
O que significa ter liberdades, individuais e coletivas?
O que significa máxima constitucional que diz que todo o poder surge do, tem origem no, POVO – que o exerce diretamente ou através de representantes eleitos?
O que significa máxima constitucional que diz que a manifestação do pensamento é livre, apenas não podendo ser externado de maneira anônima?

É claro, é óbvio que alguém pode nos ameaçar, nos humilhar (p. ex. plantando provas em nossas vidas, adulterando investigações, fazendo com que o Mal aparece ser Bem, e o Bem se torne Mal aos olhos dos julgadores), pode nos MATAR; mas vamos ficar quietos, esperando essas mortes chegarem? Ou vamos tentar intervir e ver se ajudamos a construir uma Igarapé-Miri menos injusta, mais humana, melhor para todos nós?

Se nada conseguirmos colher, que tenha valor ao menos a intenção das sementes... plantadas.

São pontos de vista; o senhor, a senhora, pode pensar de maneira diferente, enunciar de maneira diferente, mas use seu direito de falar e se manifestar. 

________________________



Segue uma das publicações sobre o caso (ORM News):

Prefeito é acusado de envolvimento em 13 homicídios*

Esquema em Igarapé Miri foi desmontado após polícia investigar atentado contra advogados na Alça Viária
Por: Redação ORM News com informações de Natana Simões (O Liberal)

"As investigações da Polícia Civil e Ministério Público do Estado apontaram que o prefeito de Igarapé Miri, Ailson Santa Maria do Amaral, é suspeito de ter ligação com 13 homicídios registrados na cidade desde o início de 2013, quando Amaral assumiu a prefeitura. O atentado a três advogados na rodovia Alça Viária em abril de 2013 foi o ponto de partida da investigação que resultou na prisão de Amaral e outras 9 pessoas acusadas de fazer parte de um grupo de extermínio no município.

O esquema foi detalhado pela Polícia Civil e MPE em uma entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (16), em Belém. Além do prefeito foram presos o secretário municipal de Obras, Ruzol Gonçalves, os dois filhos dele, Renato e Rafael Gonçalves, dois seguranças particulares do prefeito e quatro policiais militares.

O grupo era investigado há 11 meses após o atentado contra três advogados no quilômetro 62 da rodovia Alça Viária em abril de 2013. Na ocasião, o carro em que estavam os advogados César Ramos, Rodrigo Cruz e Alessandra Pereira foi atingido por vários disparos. Os três voltavam de um julgamento na 3ª Vara Criminal da Comarca do município de Abaetetuba. O veículo blindado era dirigido por Alessandra, esposa do delegado da Polícia Civil, Éder Mauro.

As investigações apontaram que o secretário de Obras, Ruzol Gonçalves, deu a ordem para o atentado. Durante a investigação os policiais conseguiram provas testemunhais que ligavam o prefeito a 13 homicídios registrados em Igarapé Miri desde que Ailson Santa Maria do Amaral assumiu a prefeitura da cidade. 

Segundo o Ministério Público, o prefeito decidia quem viveria ou morreria no município. Amaral é também acusado de crimes contra a administração pública, tais como a dispensa de licitação para compra de combustíveis para o município.

O MPE apurou que a gasolina usada nos veículos da prefeitura era adquirida sem licitação no posto de propriedade do prefeito. Ainda segundo a polícia, três dos quatro policiais militares presos são acusados de forjar um flagrante de tráfico de drogas a mando do prefeito.

O procurador-geral de Justiça, Nelson Medrado, explicou que as investigações vão continuar durante o período de prisão temporária dos acusados, a expectativa é que com as prisões, o MPE e a Polícia Civil recebam outras denúncias envolvendo o grupo.

Além das prisões, foram cumpridos mandado de busca e apreensão em quatro empresas e na prefeitura de Igarapé Miri. A ação foi coordenada pelo procurador, pelos promotores Milton Meneses, Wilson Brandão e Harrison Bezerra, e os delegados Marcos Miléo e Silvio Maués."

(* Fonte: Blog Gazeta Miriense; aceso em 17/09/2014)

(Fim da Matéria das ORM News)


Nenhum comentário:

Postar um comentário