segunda-feira, 11 de maio de 2020

Mãe, vida, dor e poesia: um texto (forte) de domingo

Prof. Israel Araújo (edito, fundador; e-mail: poemeiro@hotmail.com)
Academia Igarapemiriense de Letras (AIL)



No "dia" das mães de 2020, ontem, eu optei por não produzir o texto e nem fazer circular o texto de domingo deste nosso Blog. É que não teria como escrever um texto, de perfil crítico e reflexivo, sem falar da pandemia que assola o Mundo, que tanto mal traz ao Brasil; que, no caso brasileiro, é tão mais cruel do que em outras nações, pois, naquelas, não se tem o "presidente" trabalhando arduamente contra a vida e em favor das milhares de mortes. Mas o Brasil de suas peculiaridades, em termos de política, pacotes econômicos e similares.

Como poderia eu falar da dignidade do ser mãe (todos os arranjos de maternidade, fique já avisado), sem citar que uma mãe = arrimo de família não teria condições (desempregada, desamparada) de se manter com 200 reais por mês? E de manter uma família, por vezes, numerosa, pois era 200 reais o valor que Bolsonaro queria "dar" às pessoas, como Auxílio Emergencial; os deputados e senadores(as) fizeram chegar a 600. Esse crédito de 600 reais não é uma doação; é um auxílio de emergência e decorre de lei, legislação criada às pressas, por conta do que a pandemia causa na classe trabalhadora - e nas estruturas econômicas, também.

Ora, como é que posso falar da poesia que é o ser mãe (tipo "poiésis" mesmo, efervescências de sentidos em pessoa - e a jorrar das pessoas), sem dizer que tantos filhos e netos(as) estão perdendo suas vidas para a Covid-19, por falta de investimentos em saúde pública, em hospitais, leitos, UTI's, respiradores mecânicos e pessoal treinado nos hospitais e similares? Já vi e vc, certamente, já viu pessoas do Brasil inteiro sendo destruídas por dentro (sobretudo as mães) ao verem os entes queridos irem, às pressas, ao fundo das sepulturas, poucas horas após a morte pela Covid-19.

E nós vamos esconder isso? Vamos achar que não está acontecendo? Vamos esquecer - ou tentar fazer outrem esquecerem - que parlamentares, Temer, Bolsonaro e amigos votaram para congelar investimentos em Saúde e Educação públicas por 20 anos? (PEC da Morte, que nós tanto enfrentamos): quantos mil brasileiros vieram e virão a falecer em decorrência dessa "PEC da Morte"? Não me venha, aqui, dizer que isso é "politizar a pandemia"; não esqueçamos que, se tem investimentos ou não, se tem desvios de verbas ou não, se tem cassação de prefeitos e governadores ou não, se tem hospitais caindo aos pedaços - ou não, se tem hospitais de campanha ou não, e outros tantos "ou não", que se tem tudo isso sendo esfregado nas nossas caras, que isso é sempre fruto de decisão política, sempre, às vezes decididas nos gabinetes ou nos motéis mais luxuosos do Brasil. 

Vamos tentar dizer às pessoas que as estruturas públicas de saúde nada têm a ver com os investimentos públicos, com as decisões do Presidente do Brasil, de senadores, deputados e outros? Vamos querer continuar defendendo o neoliberalismo e a política de "Estado mínimo", "Estado enxuto", ou vamos rever posicionamentos como esses?

Como é que a gente pode refletir sobre a riqueza do ser mãe, sem tocar minimamente nesses pontos, nessas nuances da realidade?, das realidades que nos saltam aos olhos. Alguém se arrisca a não ver que os muito ricos do Brasil, em cada estado federado, estão fugindo de seus estados (em UTI's aéreas, beeeeem pagas...) para ir buscar tratamentos de elite em outras capitais? As mães pobres e jogadas à miséria extrema podem ter esses tratamentos "vips"? (não diga que se trata de pergunta idiota, ou sem noção, p. fv.)

Ora, se não houver boa reflexão e com espírito crítico (inclusive sobre o nosso tipo de voto em deputados X ou Y), e com certa urgência, vamos ficar apenas mandando imagens bonitinhas em redes sociais e, ano após ano, vendo a sangria se perpetuar.

Não dava para postar este texto, ontem.

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