Cancelamento das Eleições de 2018, para (tentar) tirar as chances reais de Lula da Silva (PT) se eleger Presidente para um terceiro mandato? Seria a grande cartada de Michel Temer (PMDB-SP), a "jogada" deste primeiro quarto de século? Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seria apenas um operador?
Essas perguntas podem lhe ajudar a discutir com o pesquisador e professor da UNB, Luís Felipe Miguel (que estuda a relação entre mídia, eleições, poder, TV Globo e as eleições gerais, entre outros).
Confira:
Volto à hipótese de
cancelamento das eleições e as reações que ela suscitou.
Vi gente escrevendo que Temer não faria uma jogada assim, porque ele prefere manobras de bastidores. Gente, ele é a face pública de um golpe de Estado. Precisa mais?
Vi gente escrevendo que Temer não faria uma jogada assim, porque ele prefere manobras de bastidores. Gente, ele é a face pública de um golpe de Estado. Precisa mais?
Tem muita gente que ainda se prende à ilusão de que as instituições dão garantias sólidas. Não dão. Isso já ficou claro.
Não acho que a prorrogação de mandatos seja o caminho preferido dos golpistas. No mundo ideal deles, Temer ou Aécio ou Alckmin seriam eleitos em primeiro turno com vantagem folgada e agora mesmo, enquanto escrevo, a classe trabalhadora estaria entoando preces para agradecer a volta da escravidão. Mas esse mundo ideal tem poucas chances de se realizar.
Prorrogar mandatos não é o caminho preferido, mas é um caminho possível. Porque só tem um caminho vetado por eles, que é o avanço popular e a anulação dos retrocessos.
Cassação da candidatura de Lula, parlamentarismo, cancelamento das eleições. Cada um desses caminhos têm prós e contras, enfrenta resistências. No momento, eles ainda estão pesando, tateando. Isso parece claro.
A prorrogação de mandatos certamente gera desgaste na chamada "opinião pública", mas quem está confortável com 4% de aprovação não vai se deter por causa disso. Fim da legislação trabalhista e fim da aposentadoria também geram desgaste e estão aí. Por outro lado, a prorrogação conta com a simpatia dos parlamentares. Inclusive na oposição, mesmo no PT. Porque é claro que uma grande quantidade deles enfrentará muitas dificuldades para se reeleger.
Sendo assim, não importa quem tenha pensado em ressuscitar a PEC 77/2003 e com que intenção: o fato é que o ato de Rodrigo Maia abre uma brecha legal para uma prorrogação de mandatos, na eventualidade de que a coalizão golpista decida adotar esse caminho. E isso é grave.
Caso não seja essa a opção, a PEC cumpre outro papel.
A
incerteza sobre o processo eleitoral é um forte incentivo para que Lula, na
posição de candidato favorito, faça concessões. Porque essa é outra alternativa
para a coalizão golpista: engolir sua própria antipatia e buscar uma
normalização do golpe com Lula (escrevi sobre isso aqui: https://grupo-demode.tumblr.com/…/lula-n%C3%A3o-pode-ser-a-…). Ou seja, apostar que o pragmatismo do ex-presidente o
levaria a reeditar os velhos acertos de "governabilidade",
trabalhando dentro de limites ainda mais estreitos. A ameaça de cancelamento
das eleições caso ele não se curve a essa barganha é funcional para a direita.
Ou seja: longe de ser um "golpe virtual que só existe na paranoia das redes sociais", como dizem alguns, temos uma real ampliação da margem de manobra do golpismo - que ele pode ou não aproveitar, de acordo com as circunstâncias.
(FIM;
Luís Felipe Miguel, Prof. Dr., atuante na Universidade de Brasília (UNB). Fonte:
https://www.facebook.com/)
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