Durante a realização da citada I Mostra da Cultura Miriense, o Poemeiro do Miri ouviu o professor e músico Patrich Depailler e indiagou o Mestre Patrich sobre o evento, cultura, política cultural e projeções para 2015. O retorno foi dado via e-mail. Segue:
(Prof. M.Sc. Patrich Depailler; arquivo pessoal do Facebook)
Patrich
Depailler Ferreira Moraes: Mestre
em ARTES pelo ICA/UFPa. Professor do Instituto FEDERAL do Pará-Campus
Abaetetuba (IFPa). Especialista em Ensino das Artes na Educação Básica e em
Psicopedagogia Clínica e Institucional. Licenciado Pleno em Educação Artística
- Hab. em Música (UFPa). Músico profissional há 15 anos com alguns CDs e DVDs
gravados.
Poemeiro
do Miri. Neste final de ano de 2014, Igarapé-Miri foi contemplado com
três importantes eventos culturais, que reúnem diversos projetos: Dia do Músico (novembro), V Encontro das Cobras Grandes do Jatuíra
e Ponta Negra e I Mostra da Cultura
Miriense, todas essas iniciativas vindas da sociedade organizada.
Sobre
a I Mostra, como surge a ideia de
realização da mesma e quais seus principais objetivos?
Patrich Depailler: Em primeiro lugar,
nós artistas andamos muito descontentes com a política cultural de nosso
Município. Não temos e não tivemos um artista, como Secretário de Cultura, e
isso dificulta muito as ações Culturais em nossa terra. Entendo que alguém
envolvido em manifestações culturais, estaria mais preocupado em desenvolver
eventos que valorizasse seus pares. Nossos principais eventos viram uma enorme
festa utilizada “pelos que estão lá” para se beneficiarem financeiramente.
Depois,
nossos artistas e as pessoas que produzem algum tipo de manifestação, não tem
lugar, palco, evento, ou coisa do tipo para mostrarem sua produção. Logo, o
objetivo principal dessa mostra, era proporcionar um palco para essas pessoas e
fazer com que o povo em geral pudesse apreciar essa produção e quem sabe,
demonstrasse um interesse em ingressar em um movimento artístico qualquer, seja
na dança, na música, na poesia, na literatura, ou mesmo até nos esportes, como
foi o skate que foi parceiro na mostra.
Poemeiro
do Miri. Como o sr. avalia a participação da sociedade miriense no
Evento: atendeu as expectativas, superou...?
Patrich Depailler: Bem, acredito que
conseguimos levar o povo de volta a praça, mesmo com o estado de violência que
vivemos, conseguimos que muita gente comparecesse nos três dias. Nosso povo
está carente de diversão, de entretenimento, de um espaço de confraternização,
logo aproveitam, meio que de sua forma, os momentos oferecidos.
Poemeiro
do Miri. Em sua avaliação, qual o maior legado deixado por essa I Mostra da Cultura Miriense, o que
poderia, inclusive, dar novos rumos ao projeto?
Patrich Depailler: A vontade dos
artistas continuarem produzindo na esperança que outros eventos como esse
aconteçam. O reconhecimento que tiveram aqueles que por lá apareceram trás
motivação, esperança que as coisas podem melhorar.
Poemeiro
do Miri. Pudemos observar que um significativo número de
grupos/artistas confirmou presença (foi divulgado em redes sociais), mas não se
apresentou ao grande público. Isso de alguma maneira frustrou a organização?
Essa constatação motiva uma revisão quanto a aspecto(s) a considerar, que
precise(m) de aprimoramentos para as próximas edições?
Patrich Depailler: Na verdade a
divulgação de alguns nomes eram desejos nossos. Trazer o Zeca Bomba e os
músicos que participavam da Banda Os Magnatas do som, era possível, e era
desejo apresentar para os que não tiveram a oportunidade de ver essa banda era
de fundamental importância, porém como não tínhamos recursos financeiros, ficou
complicado abraçarem o projeto de uma forma “profissional”.
Quanto
a uma próxima edição o trabalho já começou, estamos recolhendo assinaturas para
solidificar a associação Cultural Miriense e buscar recursos nos editais de
Cultura. Ai sim, teremos a tranquilidade para oferecer uma gratificação a quem
se apresentará no evento.
Poemeiro
do Miri. Artistas religiosos de igrejas católicas e evangélicas prestigiaram
a I Mostra e parecem ter abraçado a
causa. Como o sr. avalia essa adesão?
Patrich Depailler: Esses artistas ainda
tem muita dificuldade de se apresentar em seus círculos religiosos. Existem
igrejas evangélicas que tem mais de uma banda. A igreja católica tem uma Banda
em cada comunidade, então as apresentações são muito restritas, tocam um
domingo (por exemplo) e esperam mais três para se apresentarem de novo, e
geralmente nesses espaços o público é o mesmo. Sendo assim vislumbraram a
possibilidade e a oportunidade de
mostrar seu trabalho para um grande público, além do mais tínhamos uma grande
estrutura de sol e luz, e isso lhe dá prazer em querer mostrar seu talento.
Poemeiro
do Miri. Professor Patrich, faça suas considerações finais sobre a I Mostra.
Patrich Depailler: Temos muitos bons
artistas, e temos muito potencial. Nossos munícipes gostam de produzir arte.
Pra que eu pudesse ser um artista, alguém me levou com 12 anos na casa da
professora Eurídice para participar da Pastorinha, e desde lá não parei mais.
Nossos jovens estão sem oportunidade de se envolverem com as Artes, e muito
disso é culpa de nossos administradores, eles, principalmente os que se sentam
na Secretaria de Cultura, não conseguem ofertar algo de valor essencialmente
cultural para nosso povo, e isso faz com que esses meninos estejam no mundo das
drogas, e depois ninguém sabe por que eles estão assaltando nossa família por
ai. Alguém precisa apresentar as artes para nossos filhos, mas não só para
eles, para nós também.
O
grupo que se reuniu e pensou nessa mostra - Zé Luiz, Prof. Patrich, Luiz
Otávio, Prof. Valdir Jr., Prof. Cristiano – são pessoas que cansaram de
criticar governo e ficar com os braços cruzados esperando que algo acontecesse.
A hora foi de todo mundo ir a luta e fazer acontecer.
Espero
que essa tenha sido uma semente plantada no Município, e que outros também
abracem essa causa, e que outros Pinducas, Rubens, Manoeis Machados, Ruis,
Pantojas, outras Ionetes, Eurídices, Benocas, Consolas surjam e façam nossa
cidade mudar de rumo, pois do jeito que vamos, chegaremos a lugares obscuros,
tendo sempre que enterram um de nossos familiares.