Israel Fonseca Araújo (Editor do Poemeiro do Miri)
(Cartão-postal de Igarapé-Miri, em 2014)
(Grana é o que não faltou: nosso Miri recebeu muitos milhões de reiais em 2014... muitos milhões)
Em fins de 2012 tivemos a audácia de
definir o ano de 2013 como o “Ano da Simbologia Miriense” (ASM), haja vista que
estávamos vivendo, em Igarapé-Miri, anos de indiscutível reconstrução da cidade
miriense. Claro que se pode(podia) discutir essa “reconstrução”, mas se dados
retirados de nossa realidade fossem postos à mesa é provável que pessoas
sensatas concordassem com a posição segundo a qual estávamos vivendo anos mais
esperançosos (grosso modo) do que os finais de 2007, 2008 (caos nos serviços
públicos, servidores sem receber, nos fins de 2008 a população já pagava para
recolher seus lixos, prédios públicos destruídos etc.).
E 2013 seria um ano simbólico exatamente
na medida em que, em outubro de 2012, uma espécie
de caricatura de revolução se abateu sobre nossa dignidade em (lenta)
reconstrução: o Movimento dos 18 mil
resolveu destituir o gestor municipal que estava retirando Igarapé-Miri do
buraco (sentido literal) e passou a gestão dos Caminhos de Canoa a um grupo político que tinha todas as condições
para destruir nossas conquistas e travar outros investimentos que estavam
“engatilhados” para chegarem (incluindo prédios para a governança, pavimentação
de ruas, orla da frente da Cidade). Decisão fundada na democracia(?) não pode
ser questionada.
Acontece que outros gatilhos vieram, se
abateram sobre nosso Miri, e gatilhos não aspeados. Uma carnificina humana
mostrou ao Pará e ao Mundo o que se tinha em Igarapé-Miri em 2013 e o que se
apontava para 2014. Quanta simbologia nesse 2013, que nós não sabíamos até onde
iria nos levar!: o que a nós estava apresentado era somente a
perspectiva de dias muito preocupantes. Não deu outra, regredimos a
passos largos e chegamos a um 2014 mais preocupante ainda.
Por isso resolvemos nominalizar 2014
como o “Ano da Interrogação Miriense” (AIM), haja vista que não podíamos
afirmar que seriam retomadas as reconstruções, porque os dados (não os do tabuleiro; as circunstâncias reais) que
se apresentavam sugeriam, a uma rapidíssima análise, que melhorar não seria o
rumo. Poderia piorar? Sim, e claro que sim, e muito sim. Uma coisa ruim sempre pode piorar
mais ainda.
Mas quem saberia que chegaríamos ao
fundo mais enlameado desse poço (governança, realidade...)?
Como aceitar, em fins de 2013, que a
situação de nossos pobres mirienses (incluam-me nesse segmento, com orgulho de
minha parte) iria piorar muito mais do que já o estava?
Quem acreditaria que professor honesto fosse
ameaçado de morte, no dia dos Namorados de 2014 (bem simbólico, pois namoro sugere a categoria amor), exatamente por não ser um bandido?
Quem acreditaria que famílias inteiras seriam
ameaçadas e mais e mais humilhadas?
Quem acreditaria que a Polícia Civil, o Ministério
Público do Estado do Pará (MPE) e o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE)
viriam intervir aqui? (muita gente, mas quem?)
Quem
acreditaria em prisões de “tubarões” da Terra, acostumados que estamos a ver as
“piabinhas” enfiadas em anzóis e retratadas em jornais e folhas amiúdes?
Quem
acreditaria que a “Justiça” eleitoral faria Justiça nesta Terra?
Quem acreditaria que a quinta
autoridade(?) municipal na linha sucessória assumiria a função interina de
Prefeito de Igarapé-Miri, e somente por uns dezesseis dias?
Quem acreditaria que a nossa maior
alegria, em termos de perspectivas de governança, fosse constatar que o “carro
do lixo” urbano está passando pela rua da nossa casa, que hoje nossos resíduos
irão embora? (ainda que nem saibamos para onde, causar que danos ambientais...)
Quem acreditaria que seríamos
a piada da vez, na boca de barcarenenses e abaetetubenses, quando
lideranças(!) mirienses chegaram ao fundo da própria fossa, indo pedir que os
vizinhos cuidassem de nossos lixos, como se eles não estivessem cagando lá e
despejando seus papeis nas ruas?
Quem acreditaria que as “pérolas” que
ajudaram a destruir nossa Cidade, nossas conquistas, iriam às casas vizinhas
dizer: “façam a vereança lá no Miri,
porque nosso ‘deus’ está ausente e não podemos ‘legislar’ se não for segundo os
desejos dele”?
O que mais seria esse 2014, se não um
ano de dúvidas?
O que
poderemos esperar de 2015? Nossa meta deve ser lutarmos para ficar vivos:
·
pois
quem pode nos matar sempre está alguns anos-luz à frente de nossos pensamentos;
·
pois
sabemos que as pessoas executadas entre dez. 2012 e estes dias jamais voltarão
para nos segredarem os detalhes dessas matanças;
·
pois
sabemos que em menos de 26 meses de ação articulada, já perdemos até o direito
de falar... e quanto mais covardes calados, mais liberdade para nossos
assassinos(as).
E para muitas pessoas que gritam, pulam,
encenam “Jesus, Jesus” para todos os lados (e mais selfies ainda), restará a chance última de apertar os gatilhos (sem
aspas) e nos matarem ou sair às ruas e exigir a garantia de nossos mínimos
direitos. O Jesus, Jesus (sem aspas) há de cuidar de todos nós...
(Que fique esta lição de 2014...)
Em 2015, creio que viveremos o Ano
da Reticência Miriense (ARM).
Felicidades, gente amiga.
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