POEMEIRO
DO MIRI ENTREVISTA O PROFESSOR
ISRAEL ARAÚJO
Poemeiro do Miri
– Na sua opinião, quem são os maiores vencedores/as desse processo eleitoral de
2014? Ao menos é possível falar em “vencedores” em um cenário de tanta
descrença na classe política?
Professor Israel
– Os vencedores e as vencedoras são o povo do Pará pois, mesmo com tanto
descrédito recaindo sobre a classe política, quatro milhões e noventa e quatro
mil paraenses foram às ruas. Se a descrença é grande, a esperança por dias
melhores é maior ainda; e essas melhoras dependem da participação da sociedade.
Assim, votar é uma das saídas a adotar.
Poemeiro do Miri
– Apenas 17 deputados estaduais foram reeleitos. Isso sugere uma “renovação” na
política estadual, já que 24 são “novos”?
Professor Israel
– Como falar em “renovação”, se em um dos partidos (o PMDB), por exemplo, uma
deputada sai e, na sua vaga, entra o seu esposo (Nilma Lima / Iran Lima). Em
que isso pode significar renovação? O
partido mais forte da Alepa (Assembleia Legislativa) pode ser o PMDB, que elegeu
os mesmos 8 deputados que tinha nesta legislatura; mas o PSDB ainda terá 6
(contra apenas um do PC do B): em que media esses partidos representam uma “renovação”?.
O que dizer de uma “renovação” com a volta de Luiz Seffer (PP), à Alepa (para o
sétimo mandato)? O que significa a ida de um delegado dos mais famosos do
Polícia Civil do Pará (Éder Mauro/PSD), atuante há uns trinta anos em uma das
instituições mais questionadas e descreditadas deste estado, para a Câmara
Federal?
O
que entender do chamado “voto por procuração”, que é aquele dado pelo eleitor a
uma pessoa, a partir dos créditos de outra (Júlia Marinho/PSC, em lugar de seu
esposo Zequinha Marinho/PSC), ou por uma motivação fundamentalista/religiosa?
Renovar
significa trocar parlamentares idosos por pessoas jovens? Tirar pessoas que
estavam na Casa de Leis e levar outras – que repetirão os métodos, os acordos,
as perseguições a determinados segmentos sociais?
Além
disso, renovar não pode ser entendido, apenas, como trocar umas pessoas por
outras. Se o modo de se relacionar com a sociedade, com os movimentos sociais
organizados, com as minorias organizadas continuar o mesmo; se o combate à
corrupção não for drasticamente alterado, não podemos falar em nada de novo
nessa Casa de Leis.
Mas
duas coisas me causam satisfação nesses resultados: (i) a ida do professor Edmilson Rodrigues (PSOL) à Câmara
Federal (possivelmente o melhor político vivo da atualidade paraense;
incansável defensor da vida e da garantia de direitos humanos, de liberdades
individuais e coletivas) e (ii) a chegada ao Senado Federal do “operário” Paulo Rocha (PT), pela experiência comprovada
na condução de organizações dos movimentos sociais, na defesa de direitos
humanos e pela experiência parlamentar de cinco mandatos como deputado federal
pelo mesmo partido – o que rendeu bons resultados para Belém e outros
municípios.
Poemeiro do Miri
– Em linhas gerais, o que dizer de uma disputa entre um “jovem” (Helder
Barbalho/PMDB) e um “idoso” (Simão Jatene/PSDB) para a vaga de governador do
Pará, já que ambos vêm da mesma estrutura política dos anos 1980: Jader Barbalho?
Professor Israel
– Esses aspectos (“juventude” e “velhice”) são extremamente relevantes na hora
de conversar com uma criança de sete anos, que já esteja dormindo. É ponto
pacífico que Helder tem muito mais fôlego para governar do que seu “irmão”
adotivo, Simão Jatene. Mas este tem muita experiência, o que pode ter lhe
rendido sabedorias. A questão central é ver em quais times estão um e outro
(posto que surgem da mesma barriga, a de Jader Barbalho) e quais projetos de
Pará eles apresentam e representam: a governança que mesclará(ria) o petismo com
o peemedebismo e política tucana (muito conhecida de nós). Helder vem com as
costas protegidas por Lula da Silva, Dilma Rousseff e movimentos sociais
ligados ao PT; Jatene é a “voz” dos modelos defendidos por FHC (Fernando
Henrique Cardoso), sigla que assusta, pra não dizer aterroriza, velhinhos e professores(as) Brasil afora.
Mas
nem o Helder é a veia governamental lulista/barbalhista; nem Jatene é exemplo
do puro sangue cardosista (neoliberal). Isso só o governo de um ou de outro
pode confirmar ou negar.
Mas,
de Jatene já se sabe o que esperar no comando do governo paraoara; de Helder o
que se tem é uma perspectiva (boa ou não) de gestão para todo o Pará. Helder
foi formado (concebido, amamentado, escolarizado, testado e casado) para ser o
Governador do Pará. Claro, Jader e Elcione fizeram isso tudo. Mas ninguém pode
dizer que o Helder de 2014/15 seja o Jader dos governos dos anos 1980 e 1990
(anteriores às redes sociais, aos programas sociais federais, aos tempos atuais);
nem se pode afirmar que Jatene seja esse mesmo Jader (o dos governos dos anos
1980 e 1990 (anteriores às redes sociais, aos programas sociais federais, aos
tempos atuais).
Mas
todo mundo sabe como funciona o
esqueleto de cada projeto desses aí; ao menos deveria saber (pra não fazer com o Pará o que já foi feito em
Igarapé-Miri, em anos anteriores).
Poemeiro do Miri
– Comente sobre os grandes campeões de votos destas eleições, em 1º turno. Ex.:
Paulo Rocha, Éder Mauro, Cilene Couto, Luth Rebelo e Dirceu Tem Caten...
Professor Israel
– Paulo Rocha é uma figura política consolidada e entrou em um acordo (ia dizer
“esquema”) para vencer a corrida: enquanto Jatene priorizou seus vários palanques
(Duciomar Costa/PTB, Jefferson Lima/PP, Mário Couto/PSDB, Marcela Tolentino/SD
e Helenilson Pontes/PSD), Rocha veio no acordo firmado entre PMDB, DEM e PT
como único candidato. Deu certo, além de ele já ter saído com uns 700 mil votos
(dele) de início. Éder Mauro e Luth Rebelo simbolizam o que eu venho chamando
de “voto da loucura”. É rápida a
explicação: há pessoas que entendem que um delegado irá trabalhar(???) (dois,
três dias) em Brasília, como deputado, e solucionará o problema da segurança
pública (a mesma segurança abandonada pelos governos do Pará, com destaque para
os de Almir Gabriel e Simão Jatene, de quem Éder Mauro é aliadíssimo hoje). Que
o delegado irá “proteger” as famílias do acesso às drogas...
Luth
é dono de uns mil votos dados por procuração, pois seu pai Luiz Rebelo, foi
impedido de concorrer – a ficha dele não estava(ria) muito “limpa”. Dirceu Tem Caten
ilustra o mesmo caso de Luth, com uma pequena vantagem para o filho de Bernadete
Tem Caten: ela militou em defesa das pessoas, por muitos anos. O mesmo não sei
se se pode dizer do marajoara Luiz Rebelo. Cilene Couto é filha de Mário Couto,
ex-presidente da Alepa, do tempo das compras de tapioquinhas que teriam custado
(várias delas) uns milhões de reais. Mário Couto é dono do Santa Cruz de
Cuiarana (Salinas – PA), time de futebol profissional filiado à FPF, era quem mandava
no Detran do Pará (o Detran das prisões etc. (até Jatene dar um pé nas nádegas
dele, para promover Helenilson). Acho que isso encerra este tópico.
Santa
Cruz de Cuiarana foi rebaixado no Parazão 2014 e, Couto, o chefão da equipe,
foi derrotado neste pleito: por Jatene, Gerson Perez, Jerfferson Lima,
Helenilson, Paulo Rocha, Jader e Helder Barbalho.
Mas
eu nada tenho a ver com isso; não estou nem aqui.
Poemeiro do Miri
– Em que proporção a volta de “Pé de Boto” à cidade miriense pode interferir na
vantagem de Jatene na cena eleitoral miriense? Essa volta aperta mais o Helder
do que fortalece o Jatene?
Professor Israel
– Jatene venceu em Igarapé-Miri com bem mais de três mil votos, mesmo sem a mão
pesada de Ailson do Amaral para arrecadar votos no dia 5 de outubro. Caso “Pé
de Boto” estivesse em ação eleitoral, nesse dia, teria arrecadado entre mil a
dois mil votos a mais para o tucano (claro, Jatene teve fortes apoios em
Igarapé-Miri: Dilza Pantoja, Joca Pantoja, vários vereadores/as mirienses, como
é o caso de Josias Belo (outros nomes não podem ser citados aqui), Vladimir
Afonso-Fuxico, Ítalo Mácola, Valdir Jr. e a estrutura de Pé de Boto que pôde
estar pescando votos por aqui). Isso é percepção minha; não tenho fórmulas
mágicas para detectar essa busca de votos. Mas disse a muita gente, em 2012,
que “Pé de Boto” venceria com sobras aquela eleição para prefeito de
Igarapé-Miri: não deu outra.
Jatene
e “Pé de Boto” têm um forte puxador de votos para o 45: é o ex-prefeito Roberto
Pina (PT), homem que se tornou um dos mais rejeitados dos últimos tempos, eleitoralmente
falando. Como Pina pede uns votos para Helder-15, uma parte de nosso eleitorado
vota, por tabela, no opositor de Helder: Jatene-45.
A
grande rejeição ao nome de Pina se deve a muitos fatos, por questão de tempo só
posso listar cinco itens: i) em primeiro lugar, porque o petista fez uma gestão
séria, responsável, eficiente, captou muitos recursos, obras e serviços e fez
concurso público (e nomeou muitas pessoas do concurso realizado): grande parte do povo não gosta, não tolera
isso, por não entender a razão de ser da gestão pública, ou por outros
motivos (inconfessáveis aqui); já que Pina rejeitou a política do “jeitinho
brasileiro”, teria de ficar rejeitado; ii) além disso, pois Pina é petista e o
anti-petismo é fato muito enraizado em nosso país: no geral, os mandatos
petistas em prefeituras não são renovados, pois os gestores desse partido
colocam-se muito sob o manto das leis do país – e o povo não gosta de leis;
gosta de “jeitinhos” (inclusive, isso pode explicar por que senadores, deputados
e vereadores/as vivem driblando as leis e ajeitando as suas coisas. Se é que
me entendem); iii) Roberto Pina não é
homem de escutar muitas críticas, costuma responder fria e rispidamente às
pessoas que o contestam, não aceita sair “perdendo” de reuniões e não aprendeu
(na vida pública) a máxima inscrita em Eclesiastes, que diz que há tempo pra
tudo nesta vida (logo, há momentos reservados para falar e outros para
escutar). Isso também gera rejeição de pessoas; iv) Pina não fez uma gestão das
decisões “na coxa”, queria governar seus quatro anos e deixar o povo decidir o
que queria depois; e os arranjos eleitorais o tiraram do governo – mas não sem
uma grande rejeição já construída, inclusive entre grande parte da “companheirada”,
entre 2009 e 2012; v) Roberto Pina afastou-se muito do povo (de reuniões,
plenárias nos bairros, não fez grandes festas, com distribuição de brindes
custeados com recursos sabe-se lá de onde...), apesar de ter sido um prefeito
que continuou morando na cidade, indo às missas e atos religiosos etc.; mas,
enquanto ele trabalhava como prefeito (dando expediente na Sede do governo,
indo aos rios...) de domingo a sábado, grupos adversários reuniam-se constantemente
e sistematicamente para traçar metas de como tirá-lo do governo municipal –
inclusive apostando em sua notável rejeição.
Essa
rejeição do grupo liderado por Roberto ajuda a entender porque Simão Jatene,
mesmo tendo abandonado Igarapé-Miri nos anos de 2011, 2011, 2013 e meados de
2014, conseguiu expressiva votação aqui. Ítalo Mácola, com a promessa da ponte
sobre o rio Igarapé-Miri, asfaltamento da “estrada da Vila” (as máquinas suuuuuuuumiiiirrrrrrraaaaammmmm)
e de ruas na cidade miriense, foi o grande conquistador de votos para o tucano
em Igarapé-Miri. Mas a influência eleitoral Dilza e o carisma (popularidade) de
Joca Pantoja também ajudaram. Claro que Fuxico e outros ainda somaram forças: entendemos
nesses “outros” algumas pessoas que eram, por fidelidade partida, obrigadas a
pedir votos para Helder (PMDB) e Lira Maia(DEM).
O
caso de “Pé de Boto” é mais simples de entender: ele estando nas ruas e nos
rios, horas antes dos votos, consegue fortalecer muito o tucano Jatene. De
outro lado, já que ele pertence às fileiras do DEM (Democratas),
obrigatoriamente deve ser expulso do partido por Lira Maia e equipe por infidelidade
partidária (é o que determina a legislação eleitoral). Nesse caso, creio que Edir
assumiria o governo ou, na pior das hipóteses, deveria haver nova eleição em
Igarapé-Miri. Mas Ailson é muito forte e ninguém sabe até que ponto o DEM, de
Lira Maia, e o DEM de “Pé de Boto” são aliados ou se não o são. E não se sabe o
que as leis podem em relação a Ailson do Amaral...
Resta
saber se Lira Maia quer praticar a
MORALIDADE em “seu” partido ou se quer dar um “jeitinho” nas coisas e
manter o governo nas mãos do DEM, mesmo sabendo que isso ajuda a destruir suas
chances pessoais de ser Vice-Governador do Pará. Se Ailson reinará absoluto
sobre o DEM, em benefício de Jatene em Igarapé-Miri, ninguém ainda sabe; mas,
pelas declarações de Fuxico (meses atrás) de que teria rompido com Amaral, ao
menos se pode dizer que o DEM, no Miri, está sangrando familiarmente.
Mas
nada disso tem a ver com captura de votos no dia 26 deste mês, mesmo porque a
caça aos votos às vezes une “Barrabás” e Bin Laden, em uma mesma mesa de bar.
Poemeiro do Miri – O que o sr. diria a quem queira mais uma palavra de reflexão sobre isso tudo?
Professor Israel – Não devo dizer nada, pois quem tenta informar e esclarecer pessoas às vezes sai marcado como pedante, arrogante na história. Mas tenho de lembrar que votar dever ser, sempre, uma atitude muito bem pensada, pois desse ato (de uns 12 segundos) dependerá nossas vidas e nossas liberdades (ou não) por 4, 8... vinte e cinco anos. Nossa experiência recente de Igarapé-Miri já explicou isso.
Bons
votos, gente amiga.
P.S.////Para
lembrar:
Eclesiastes 3 (1 - 8):
2 Há
tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que
se plantou; 3 Tempo de matar, e tempo de curar;
tempo de derrubar, e tempo de edificar; 4 Tempo
de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; 5 Tempo
de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de
afastar-se de abraçar; 6 Tempo de buscar, e
tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; 7 Tempo
de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; 8 Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra,
e tempo de paz.
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